4.6.09

Insegurança persiste em bairros problemáticos

Luís Garcia, in Jornal de Notícias

Contrato Local de Segurança está a melhorar ambiente, mas ainda não se pode andar na rua em paz


A pouco e pouco, o Contrato Local de Segurança de Loures está a melhorar o ambiente de bairros problemáticos, como a Quinta da Fonte e a Quinta do Mocho. Mas ainda não se pode andar na rua em segurança, garantem os habitantes.

Desde a entrada em vigor do Contrato Local de Segurança (CLS), em Outubro de 2008, o Ministério da Administração Interna e a Câmara de Loures têm tentado transmitir uma imagem optimista do trabalho desenvolvido nestes bairros marcados por episódios de violência. No entanto, para muitos habitantes e para algumas das associações dos bairros, os resultados obtidos são uma migalha quando comparados com o que falta fazer.

Nos Terraços da Ponte (antiga Quinta do Mocho), os problemas persistem, sobretudo no que toca à relação da polícia com os moradores, com incidentes quase todas as semanas. Segundo Braima Mané, da Associação de Jovens da Quinta do Mocho, faltam espaços onde os jovens possam "gastar as energias", o que, por vezes, acaba por resultar em delinquência.

O dirigente admite que tem havido mais polícia no bairro, mas acusa as forças de segurança de entrarem no bairro "de caçadeira na mão". "O policiamento de proximidade não pode ser assim, senão o polícia é visto como um inimigo", critica.

José Fernandes foi um dos moradores da Quinta da Fonte que saíram do bairro em Julho do ano passado, na sequência de tiroteios na via pública, entre as comunidades cigana e africana. Ele e pelo menos 20 famílias de etnia cigana nunca regressaram à urbanização, nem tencionam fazê--lo, garante. "Aqueles que voltaram foi só porque não tinham alternativa", assegura.

José Fernandes vai mantendo contacto com o bairro, onde tinha um estabelecimento - "partiram-mo todo", afiança - e diz que "os ciganos continuam a não poder andar na rua". Na sua opinião, a insegurança persiste porque "aqueles que criaram os problemas, que toda a gente sabe quem são, continuam a gozar de impunidade e a viver no bairro. De dia, roubam tudo e à noite até podem matar. O que deviam fazer não era por uns cartazes, mas prender as pessoas que fizeram o mal".

Mas também há quem defenda que a Quinta da Fonte de hoje nada tem a ver com a de há um ano.

Luís Cardoso, da Associação de Moradores Unidos da Apelação, diz que o CLS foi "um passo importante para ajudar a estabilizar as relações dentro do bairro" e exemplifica com iniciativas em que participou "praticamente toda a comunidade cigana do bairro, o que era impensável há uns tempos".

"Estas coisas só se vão resolvendo aos poucos, mas as tensões e o nível de conflitualidade diminuíram bastante", remata.