Lígia Silveira, in Agência Ecclesia
As instituições europeias não estão viradas para o problema da pobreza e exclusão social. A denúncia é feita por Sérgio Aires, consultor na Rede Europeia Anti Pobreza / Portugal - REAPN, que lamenta os recuos que a estratégia de Lisboa, assumida em 2000 pela Presidência Portuguesa da União Europeia.
"Mesmo antes da crise económica e financeira, lamentámos a não concretização de uma estratégia europeia social", refere o consultor à Agência ECCLESIA.
"A luta contra a pobreza é influenciada por ciclos, não necessariamente apenas políticos", geradores de avanços e recuos. "Neste momento estamos preocupados com os recuos que acontecem actualmente", sublinha, acrescentando que os compromissos assumidos em 2000 "foram, a seu tempo, sendo esquecidos".
A REAPN está presente em Bruxelas há cerca de 20 anos. Num trabalho equivalente a "uma maratona onde não se sabe quantos quilómetros faltam" a REAPN é um dos interlocutores da Comissão Europeia para as questões de pobreza e exclusão social. As suas funções estendem-se ainda ao contacto com os governos europeus para incluir nas agendas a questão da pobreza.
No contexto das eleições europeias, esta rede elaborou um documento sobre a sua posição na área da pobreza e enviou aos partido políticos. Mas as respostas "têm sido escassas".
Esta é uma questão "mal tratada" na agenda europeia e a crise económica e financeira veio "apenas agravar o déficit de políticas europeias contra a pobreza", defende Sérgio Aires. A pobreza "não está contemplada nas agendas dos candidatos às eleições europeias", a disputar no próximo Domingo, dia 7.
A pobreza está na ordem do dia, mas pobreza e emergência social são duas questões diferentes. "Intervir no combate à pobreza, significa intervir nas suas causas estruturais e não apenas nas emergências".
O consultor da REAPN não prevê uma mudança. "A própria estratégia da Comissão Europeia aposta no maior crescimento económico para combater a pobreza". Isso é "mais do mesmo", explica Sérgio Aires, sublinhando que "esta não é a vida para ultrapassar as questões de pobreza. Ainda mais este crescimento que é desigual".
Apesar dos ciclos, Sérgio Aires aponta alguns passos positivos. A estratégia europeia de Lisboa, em 2000, foi "uma conquista da REAPN juntamente com outras organizações que se esforçaram para incluir uma forte componente social". Outra passo positivo foi o contributo para marcar 2010 como o Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social.
Sérgio Aires define este trabalho como uma "maratona, sem sabermos exactamente quantos quilómetros tem". Mas a participação é fundamental. "Em especial a participação das pessoas em situação de pobreza", centra. Outra das conquistas da REAPN.
A REAPN lamenta a burocracia, dizendo mesmo que esta "dificulta a agilidade política. Parece ter sido construída para isso mesmo", refere Sérgio Aires. As estratégias definidas no Conselho Europeu encontram dificuldades inclusivamente, por parte de funcionários da Comissão Europeia.
"O recuo da estratégia de Lisboa falhou mais devido à tecnocracia de Bruxelas do que pelo envolvimento político dos líderes", indica o consultor.
A REAPN lamenta ainda o grande distanciamento entre a população e as instituições europeias, em especial "sobre as questões da pobreza".
"As pessoas estão alheadas e nem sequer atribuem importância à sua participação, esquecendo que as eleições europeias elegem talvez os deputados mais importantes que maior influência têm na sua vida".
Sérgio Aires indica que a pobreza e exclusão social devem ser critério para a votação nas próximas eleições.