3.6.09

Crise deverá reduzir crescimento potencial das economias e em Portugal já está em queda

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Em Portugal, a variação potencial do PIB este ano já está abaixo de zero. E, mostra um estudo da OCDE, as crises financeiras podem piorar a situação


A crise financeira internacional pode vir a custar às economias mais ricas do planeta cerca de quatro por cento do seu PIB potencial. A projecção é feita num estudo publicado em Maio pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e revela o impacto de longo prazo que a actual crise pode ter em muitas economias.

O PIB potencial é, em termos teóricos, a produção que uma economia consegue realizar numa situação de equilíbrio entre a oferta e a procura, ou seja, sem criar pressões inflacionistas. Os dois autores do estudo - Davide Furceri e Annabelle Mourougane - analisam, para os 30 países da OCDE, qual o efeito no PIB potencial de crises financeiras passadas e concluem que, em crises muito profundas como a actual, a redução deste indicador pode atingir em média os 3,8 por cento.

Isto significa que as economias da OCDE, para além do efeito de curto prazo que estão já a sentir, se arriscam a perder potencial de crescimento futuro, algo que está relacionado com factores como a possível redução de investimento em novas tecnologias ou a persistência de práticas mais restritivas de concessão de crédito.

Portugal no vermelho


Para já, de acordo com as últimas estimativas da Comissão Europeia, ainda não se notam variações negativas do valor do PIB potencial na União Europeia, com excepção de dois países: Portugal e a Irlanda.

O PIB potencial português, diz Bruxelas, deverá registar durante este ano uma redução em termos reais de 0,1 por cento, o primeiro valor negativo de que há registo desde que a Comissão iniciou esta série em 1967.

O impacto da actual crise no crescimento potencial português pode, no entanto, não ser ainda muito significativo, tendo em conta que esta entrada em terreno negativo não é mais do que a continuação de uma tendência descendente que já acontece há décadas. Nos anos 70, a média da taxa de crescimento potencial anual foi de 4,7 por cento. Nas duas décadas seguintes, este indicador esteve próximo dos três por cento. E, agora, entre 2000 e 2009, o potencial de variação do PIB português foi, em média, de 1,2 por cento, caindo consecutivamente de 2,9 para -0,1 por cento.

Ocidente perde peso

O estudo da OCDE revela o que pode vir a ser um futuro de menor ritmo de crescimento para as economias mais ricas do planeta. Nas últimas décadas, foram estas que mais dependeram do crédito e da aposta na investigação tecnológica para crescer rapidamente, podendo agora, no rescaldo da crise, ficar mais fragilizadas.

Por isso, não é surpreendente a redução do peso das economias ocidentais no Globo. Um estudo ontem publicado pelo instituto britânico Centre for Economics and Business Research (CEBR) calcula que as economias dos EUA, Europa e Canadá juntas vão passar a valer este ano menos de 50 por cento do PIB mundial. Antes, o CEBR previa que tal só viesse a acontecer em 2015.