Catarina Craveiro, in Jornal de Notícias
Desde Janeiro foram abertas 15 mil empresas no paísa maioria no sector dos serviços e sedeadas em Lisboa
O número de empresas a abrir em Portugal é cada vez menor. No primeiro semestre do ano foram criadas menos 1.748 do que em igual período do ano passado. Em causa está a falta de apoios ao empreendedorismo e a elevada carga fiscal.
De acordo com dados do Ministério da Justiça, desde o início do ano foram criadas 15.075 empresas em Portugal, menos 1.748, face às 16.823 sociedades abertas no primeiro semestre do ano passado. Esta queda é ainda maior se compararmos o primeiro com o segundo semestre do ano passado. De Julho a Dezembro foram criadas menos 3.196 empresas.
A causa da constituição de menos sociedades prende-se não só com as dificuldades que o país atravessa devido à actual crise financeira, mas também, segundo as fontes ouvidas pelo JN, com a falta de apoios ao empreendedorismo por parte do Governo e à elevada carga fiscal praticada sobre as empresas.
"O endividamento do país é crescente, e vai ter que ser pago com impostos, o que é pouco atractivo para o investimento", afirmou o presidente da Associação Nacional das PME. Na opinião de Augusto Morais, Portugal não é atractivo ao investimento nacional nem estrangeiro, e acredita que a tendência é para piorar.
Uma opinião partilhada por Rocha de Matos, presidente da Associação Industrial Portuguesa: "É de admitir que o número de empresas a criar no segundo semestre seja inferior ao do primeiro, quer por efeitos sazonais, quer pelas perspectivas existentes relativamente à evolução do ciclo económico".
As justificações para a criação de menos empresas em Portugal não ficam por aqui. Para a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), "a crise baixa a confiança dos investidores, mas as grandes dificuldades das empresas no acesso ao crédito" também contribuem para a desaceleração.
Perante este cenário, Joaquim Cunha, presidente da Associação PME de Portugal, considera que, para travar a tendência, é preciso investir em políticas de empreendedorismo ao nível do financiamento. Até porque, "nos últimos quatro anos, tornou-se mais fácil criar empresas, o difícil é conseguir mantê-las e pagar os impostos".
A nível sectorial, este ano verifica-se uma maior aposta na área dos serviços. No entanto, a construção, comércio e consultoria também se destacam pelo número de sociedades criadas. No primeiro semestre de 2008, abriram, em média, mais de 300 empresas na área da construção e cerca de 600 na do comércio.
"Estas são as áreas que têm a grande maioria das empresas, uma vez que o tipo de actividade adequa-se à existência de grande número de empresas de pequena dimensão, e que têm, normalmente, custos de entrada baixos", explicou Rocha de Matos. Para além disso, são "sectores tradicionais de auto-emprego, pelo baixo investimento, que naturalmente crescem como compensação do desemprego", sublinhou a CCP.
Por falar em desemprego, o Norte do país, para além de ser uma das regiões com maior taxa de desempregados, é das mais penalizadas. É que na hora de escolher o local de criação, Lisboa é a cidade eleita. Isto porque "tem maiores oportunidades de negócio e é onde está o centro político", disse o líder da PME Portugal, acrescentando que a capital vai continuar a liderar a nível de criação de empresas, caso não sejam tomadas medidas para dinamizar o Norte.