por Ana Tomás Ribeiro, in Diário de Notícias
Confederação do Comércio de Portugal estima que milhares de estabelecimentos fechem temporariamente as portas, como consequência de um pico de pandemia de Gripe A, e receia que centenas, dos que hoje já estão em dificuldades por causa da crise, não reabram. A PME Portugal acha que uma situação como aquela pode acelerar encerramentos na indústria
Os empresários portugueses temem que o agravamento da gripe A no País acelere falências de pequenas e médias empresas já em dificuldades por causa da crise. Se se confirmar o cenário traçado de 2,5 ou 3 milhões de infectados e houver uma concentração elevada de baixas nos meses de Inverno, há portas que vão fechar-se definitivamente, quer nos sectores do comércio e serviços quer no da indústria. Quem o diz é o vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, João Vieira Lopes, e o presidente da PME Portugal, associação representativa de mais de cerca de 6500 pequenas e médias empresas industriais, Joaquim Cunha.
Isto porque, ao fecharem as portas, as empresas não facturam e, ao mesmo tempo, têm de suportar os custos com os trabalhadores de baixa. A agravar a situação haveria ainda uma redução de toda a actividade económica, que afectaria desta forma as vendas em vários sectores.
Por isso, os empresários esperam que o Governo tome medidas para minimizar os prejuízos no caso de se confirmar uma concentração de casos de infecção pelo vírus H1N1 nos meses de Outono e Inverno. A reunião, marcada para sexta--feira, entre Governo e parceiros sociais é, por isso, essencial para os empresários se prevenirem.
Para já, João Vieira Lopes estima que, "perante um pico de pandemia, alguns milhares de estabelecimentos comerciais e de serviços poderão encerrar temporariamente as portas, por uma semana, e algumas centenas, já em dificuldades, não deverão reabrir" .
Quanto às que fecharão temporariamente, João Vieira Lopes explica que isso só acontecerá em situações extremas, até porque não se vivem tempos de euforia na economia, bem pelo contrário. Mas como, das 200 mil empresas abrangidas pela confederação, a maioria não tem mais de cinco funcionários, e em muitos casos um deles é o empresário, se dois ou três dos funcionário forem infectados pelo vírus, e tiverem de ficar em casa de quarentena, não será viável manter o estabelecimento aberto.
Para minimizar os efeitos, a confederação defende que o Governo deve alargar o conceito de assistência familiar a casos de pessoas que tenham de ficar em casa por causa da pandemia, alargar a possibilidade de as empresas poderem recusar a prestação de trabalho - mesmo que o trabalhador se apresente ao serviço, por causa do risco para outros elementos - bem como da suspensão do contrato de trabalho para situações em que as empresas sejam obrigadas a fechar (ver caixa ao lado). Além disso, espera que o conceito de calamidade seja correlacionado com a pandemia.
Por seu lado, Joaquim Cunha, da PME Portugal, prefere continuar a ter esperança que a situação não venha a verificar-se. Mas se houver "uma grande concentração de baixas em Outubro e Novembro por causa da gripe, teremos milhares de pequenas e médias empresas a encerrar as portas, sem conseguirem suportar esses custos. Em risco estarão dezenas de milhares de postos de trabalho", diz. A redução da actividade económica, por causa da gripe, seria desastrosa, adianta.
Em Abril, o director-geral da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, disse que a pandemia era "economicamente uma má notícia". E estimou uma queda de 10% no comércio mundial, o que, a confirmar-se, seria a maior redução nas trocas comerciais registadas desde há décadas.