Carla Soares, in Jornal de Notícias
A falta de casas recuperadas e a preços acessíveis, assim como a diminuição do número de pessoas por cada habitação são alguns dos factores apontados para a sucessiva redução da população no concelho do Porto.
Desde 2004, a cidade perdeu por dia à volta de 16 pessoas e ficou com menos 23.036 residentes. No total do Grande Porto, continuam a aumentar ligeiramente.
Os números do INE mostram que, entre 2007 e 2008, a população residente na Invicta passou de 224.795 para 218.940. Foram menos 5.855, que é sensivelmente o que, por ano, tem sido subtraído. Os idosos (65 anos ou mais) representam 13% da população residente. Em 2004, correspondia a 12,6%. Curiosamente, as crianças até aos 14 anos são também 13%.
Eduardo Macedo, ex-presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, diz que "sente-se no mercado o movimento de regresso" das pessoas à cidade do Porto. Mas "o saldo continua negativo", em relação aos que saem. A propósito, nota que "há pessoas que compram casas e as recuperam mas são agregados pequenos", quando, no passado "uma casa era habitada por várias famílias e grandes". Feitas as contas, "cada um de nós ocupa muitos mais metros quadrados" e o mesmo parque, agora recuperado, alberga "muito menos gente".
Por outro lado, Eduardo Macedo lança uma crítica. "Faltam casas a preços acessíveis e quem não as pode pagar "vai para a periferia". Por isso, as casas "precisam de ser recuperadas" para quem tem "menos poder de compra". O movimento de fuga para a periferia "começou a perder-se há meia dúzia de anos", regista, por outro lado, recordando o período em que muitos "deixaram as casas arrendadas". "Ficaram os idosos sem força anímica para sair". Os "mais novos", ou "já vivem no Porto" ou "querem regressar ao sítio onde nasceram". Mas "não há resposta suficiente".
Emília e Manuel Monteiro fazem parte dos portuenses que trocaram as casas arrendadas pela periferia. O filho insistiu para que mudassem para Rio Tinto, Gondomar, para estarem perto e, sobretudo, porque a casa que tinham não oferecia condições. Emília, de 90 anos, lembra que a casa de Contumil "era muito velha", com "mais de 100 anos". Mas as pessoas "eram mais dadas" e agora "o sossego é demais", lamenta, com saudades.
Rui Quelhas, administrador da Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), testemunha, por sua vez, a grande procura de casas. "Estão a vender-se e a procura é maioritariamente de fora", assegura, falando de 60%. Nota que, "na Baixa, há mais procura que oferta em termos de casa". Porém, garante que o regresso à cidade já "está a verificar-se". "Temos 400 pessoas inscritas. É sinal de que há um movimento", conclui, destacando que, "continuando o Porto como grande cidade empregadora", será o emprego a arrastar moradores.
O geógrafo Álvaro Domingo destaca que a população "mais envelhecida" provoca um "efeito de dominó". As "taxas de casamento e de naturalidade não são tão grandes. E a única coisa que podia contrariar isso era população residente nova". Porém, diz que não há muito por onde construir e destaca igualmente que são menos as pessoas por metro quadrado. Mesmo assim, diz que a estatística, sozinha, nada explica. E que "o que faz uma cidade não é a população residente" mas "os que fazem a sua vida" neste espaço.
Elisa Ferreira, cuja candidatura à Câmara do Porto apresentou recentemente um estudo sobre a perda de população, diz que os números do INE devem servir como "grito de alerta". "O que interessa são as pessoas que residem na cidade" e são estas que "dão dinamismo e peso político" ao Porto.