João Ramos de Almeida, in Jornal Público
Portugueses acham-se seguros no seu emprego, mas crêem que, caindo no desemprego, dificilmente voltarão ao mercado de trabalho
Por muitos sinais que se anunciem de que a crise bateu no fundo, metade dos portugueses crê que o pior no mercado laboral ainda está para vir. Mas nessa desconfiança não estão sozinhos. Dois terços dos europeus também acreditam nessa ideia.
A resposta retira-se das conclusões de um inquérito ontem divulgado em Bruxelas lançado pela Comissão Europeia nos 27 países da União Europeia para medir os efeitos da crise no mundo do trabalho e as perspectivas de emprego.
"Os europeus estão muito preocupados sobre possíveis perdas de emprego em resultado da crise, o que provavelmente se deve ao facto de sentirem que o pior ainda está para vir", assinala-se logo no início. E não é caso para menos. Se um em cada dez europeus em idade activa está no desemprego, mais de um terço dos europeus (36 por cento) tem um membro da família ou amigo chegado no desemprego.
Em Portugal, cerca de 16 por cento dos inquiridos declaram estar no desemprego, ou seja, o dobro da taxa oficial de desemprego e valores muito próximos dos obtidos em Espanha ou Irlanda. E o círculo alarga-se, já que 39 por cento dos portugueses disseram ter alguém da família ou amigo sem emprego.
Quanto ao futuro, o emprego dos portugueses parece seguro no curto prazo, mas o verdadeiro risco é o de cair no desemprego. Mais de quatro quintos dos portugueses (84 por cento) confiam que manterão o emprego nos próximos meses, um valor próximo da média europeia (80 por cento). Mas a percentagem já baixa para 60 por cento quanto a manter o emprego nos próximos dois anos (abaixo da média europeia de 66 por cento). Mas caso se caia no desemprego, apenas 16 por cento acham que arranjam um novo emprego (menos de metade da média europeia de 38 por cento).
Esse risco começa por os portugueses ignorarem os apoios sociais existentes à situação de desemprego ou - a julgar as respostas como correspondentes à realidade - têm apoios bastante diferenciados. Quase metade dos portugueses (45 por cento) afirma não saber quanto receberia de subsídio de desemprego, um grau de ignorância só comparável à Letónia, Lituânia, Chipre, Malta e Macedónia. Treze por cento receberiam entre 71 a 100 por cento do rendimento salarial, um quarto entre 51 e 70 por cento do salário, enquanto 18 por cento dizem que receberiam menos de metade do rendimento salarial actual.
Para encontrar um novo emprego, os portugueses apoiam-se mais na sua experiência profissional do que na sua aptidão para se adaptar e mudar. Conhecimentos de informática e domínio de línguas são dois activos desvalorizados face à média europeia. Mas não há um perfil europeu. Os franceses dão menos importância às qualificações e valorizam a experiência profissional e a capacidade de se adaptar. Já os alemães, holandeses e dinamarqueses sublinham as qualificações.
Em caso de desemprego, os portugueses - tal como a média europeia - concorreriam, primeiro, ao mesmo trabalho com um empregador diferente (50 por cento); depois, procurariam o mesmo trabalho noutra localidade (34 por cento). Mas apenas 12 por cento experimentariam um trabalho completamente diferente, no mesmo local (19 por cento na UE) e dez por cento começariam o seu próprio negócio (13 por cento na UE).
Para cerca de dois terços dos cidadãos europeus, a crise ainda não bateu no fundo em relação ao emprego.