27.7.09

Valorizar e remunerar bem o factor humano

António Perez Metelo, in Diário de Notícias

Na contenda eleitoral, que se avizinha, ninguém poderá levar a mal que cada força política escolha o seu terreno, o mais favorável para alcançar as metas traçadas. Mas, no meio da vozearia dos devotos de todas as cores, há muito mais informação, muito mais dados concretos e comparáveis, que permitem análises sóbrias e racionais. Ninguém em seu perfeito juízo poderá ignorar os novos desafios para as contas públicas que a crise económica e financeira criou, ao empilhar défices dilatados - mas incontornáveis! - à dívida do passado. Só que não é a mesma coisa fazer do esperado défice público em 2009 (-5,9% do PIB) um bicho-de-sete-cabeças, que todos querem amansar à sua maneira, e constatar, com sobriedade, que ele "está em linha com os défices dos outros países da União Europeia, nomeadamente, da Zona Euro", e que, por conseguinte, "o défice público português não constitui qualquer ameaça para o euro".

Esta evidência atira, para um outro campo e para um outro arco de tempo, o intenso debate sobre a retoma da economia e do seu crescimento, de como espevitá-lo e de como combater as disfunções que lhe vão tolhendo as forças. Ao ponto de o produto potencial da economia portuguesa se encontrar encostado ao valor zero!

Neste debate não se dá o devido valor ao factor humano. É certo que muito tem vindo a ser feito para animar um novo impulso de qualificação e de aprendizagem, num movimento de massas sem precedentes, com o número de inscritos nas Novas Oportunidades a aproximar-se da meta traçada de um milhão de cidadãos. Mas ninguém fala das consequências disto numa política de rendimentos, baseada em maior produtividade e melhores resultados, para as empresas que apostam na valorização do seu capital humano. Se andamos a marcar passo há mais de uma década nos 60% do valor médio da produtividade por trabalhador da Europa, é preciso saber furar esse tecto fatídico, que vem manietando os nossos factores produtivos. Não por falta de bons equipamentos: são inúmeros os casos de investimentos caríssimos no estado da arte tecnológica para determinada operação produtiva, que rende muito menos de uma mesma máquina, manuseada por um operário alemão ou um sueco.

Na próxima legislatura, a aposta central tem de ser num choque de gestão nas PME, com uma política inclusiva de rendimentos nas empresas, que envolva todos os seus colaboradores. A aposta na qualificação, individual e colectiva, não pode obter, apenas, uma vaga promessa de prémio futuro. (Quando chegará ele, se o esforço de racionalização terá de ser contínuo?) Ela constitui a alavanca operativa para pôr todos a pensar e agir em termos de competitividade acrescida. Sem isso, não vamos lá.