Eduarda Ferreira,in Jornal de Notícias
UNESCO diz que nações pobres atingidas pela crise arriscam ter mais uma geração analfabeta
Há no Mundo 72 milhões de crianças sem escola e 759 milhões de adultos analfabetos. Os objectivos "Escola para Todos" em 2015 estão comprometidos, avisa a UNESCO. Portugal projecta para esse ano ter apenas dois mil jovens iletrados. Adulto s serão mais de 200 mil.
As projecções sobre Portugal constantes no relatório da UNESCO, ontem divulgado, implicam que até 2015, entre a população com mais de 15 anos, 98% esteja escolarizada. Também para o meio da década, a previsão é de que acima daquela idade haja no país 268 mil analfabetos. Um avanço conjugado, diga-se, entre escolarização e desaparecimento de gerações mais velhas (entre 1985 e 1994 havia quase um milhão de portugueses analfabetos).
A evolução expectável para 2015 referida no relatório assume maior expressão na faixa precisa entre os 15 e os 24 anos: ela terá uma literacia próxima dos 100%, havendo apenas um número residual de dois mil jovens sem escolaridade.
Segundo as estatísticas mais recentes do Ministério da Educação, divulgadas em Dezembro e até ao ano lectivo 2007-08, a população escolarizada entre os seis e os 15 anos era de 100%. Faltou ainda crescer nas coberturas do Pré-escolar e do Secundário.
A nível mundial, os dados da UNESCO relativos a 2007-08 revelam retrocesso no caminho para o objectivo traçado já há dez anos. Só se reduziu em 33 milhões o número de analfabetos. O relatório intercalar ontem divulgado, com o lema "Chegar aos Marginalizados", afirma que nem metade dos objectivos foram cumpridos numa década. Assim, em 2015, ainda haverá 56 milhões fora da escola.
A crise financeira nos países desenvolvidos está a ter forte impacto nos mais pobres. Os meios necessários a que eles crescessem em esforço educativo correspondem a apenas 2% do que foi utilizado para salvar os bancos que entraram em colapso no Reino Unido e EUA. Por outro lado, acusa a UNESCO, desde 2004 que os ricos vão estagnando e reduzindo as ajudas aos países pobres. O organismo das Nações Unidas vocacionado para a Educação e Cultura, acusa mesmo os desenvolvidos de mascararem as ajudas, reprogramando-as por vezes em empréstimos.
Segundo a UNESCO, a situação pode criar uma "geração perdida" por falta de escolarização, o que se traduzirá em menores hipóteses de escapar à pobreza e de os países se desenvolverem. Há excepções: o relatório cita os casos do Brasil e de Moçambique que, de alguma forma, estão a acelerar na recuperação de atrasos. A América Latina e os EUA são também referidos por usarem a formação técnico-profissional para alargar oportunidades a jovens marginalizados do sistema escolar. No caso português, face a uma década atrás, os dados do Ministério da Educação indicam que a frequência dos cursos profissionais e tecnológicos cresceu 32%. A UNESCO, sobre os seus desígnios mundiais, lembra que "ter menos do que quatro anos de educação, o mínimo exigível para a literacia básica, é sinal de situação desvantajosa extrema".