in Jornal de Notícias
Entrevista a Alfredo Bruto da Costa, ex-presidente do Conselho Económico e Social.
Diz sempre que a política económica é decisiva para acabar com a pobreza. Pode explicar?
Porque é importante perceber que as políticas a adoptar têm que ser transversais a toda a sociedade. Não podemos ficar pelas medidas sociais. Tem que haver uma mudança de mentalidade. O sistema empresarial português, por exemplo, tem que mudar. Numa empresa, onde é que está concentrado o poder de decisão? No empresário, quase, exclusivamente, numa pessoa. Sendo assim, se os empresários tiverem baixa qualificação, e muitos têm, como é que se vão enfrentar os desafios? Como é que vão, por exemplo, conquistar novos mercados e competir? Não podemos ir pela via da mão-de-obra barata. É inviável. Tem que se apostar na qualificação dos trabalhadores e empresários. O caminho é o da qualidade, só assim poderemos competir, crescer.
Ou seja, a política do salário 'o mais baixo possível' tem que acabar...
Exactamente. Tem é que se investir no emprego sustentável e bem remunerado.
Sempre que se fala disso, os empresários replicam com a eterna questão da produtividade. Dizem que não podem aumentar os salários sem que aumente a produtividade. Não lhe parece um argumento falacioso?
Não haverá mais produtividade enquanto não houver mais qualificação. Tem que haver mais qualificação. A qualificação, dos trabalhadores, mas dos empresários também, trará novos métodos, novas formas de gestão, capacidade para competir e fazer frente a desafios. É por aqui que me parece ser o caminho. Não é admissível que pessoas que trabalhem sejam pobres. É um escândalo.
Em Portugal, por exemplo, a percentagem de jovens que acaba o liceu é baixa. Isto não vai perpetuar, de algum modo, o salário baixo, a pobreza?
Os números dizem que 45% de rapazes acaba e 60% das raparigas também. É muito baixo. É muito mau. É preciso investir na qualificação.