Nuno Miguel Ropio, in Jornal de Notícias
Discriminadas no acesso ao emprego ou até a apoios sociais, as mulheres de etnia cigana são as que mais sofrem com a pobreza no contexto global europeu. Para as ciganas, a exclusão social começa logo pelas regras impostas na comunidade onde se inserem.
Se é maior a exclusão social das mulheres que integram as minorias étnicas na Europa, são as de etnia cigana as que mais sofrem com este fenómeno. E as tradições de uma comunidade fechada a intercâmbios, com a sociedade maioritária, afiguram-se como o principal factor para que estas mulheres acabem por ser muito mais castigadas pela pobreza do que os homens ciganos.
As consequências reflectem-se logo na educação: ao serem arrancadas das escolas pela família, conseguem ter um nível mais baixo de instrução entre a população feminina no geral e em comparação somente com os homens das minorias étnicas.
Com baixas habilitações, vêem-se secundarizadas na própria comunidade. Cenário acentuado entre os Romani – do Leste europeu e cujo número cresce em território nacional – e menos nos ciganos Caló, que se estabeleceram em Portugal e Espanha há mais de 500 anos (ler caixa ao lado).
Segundo o último relatório da Comissão Europeia sobre a igualdade de género e que aconselha os Estados-membro a criar legislação para as minorias étnicas, estas são as causas para que as ciganas apresentem propensão para a pobreza.
“As ciganas sofrem exclusão dupla. Por pertencerem à comunidade excluída e depois dentro dela”, confirma a investigadora Maria José Magalhães, presidente da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e uma das autoras de “Em busca da Interculturalidade entre Mulheres Ciganas e Padjas na Educação”.
?É necessário combater esta realidade, logo através da escola, que não está preparada para receber a comunidade cigana. Nem profissionais, nem universidades têm um trabalho de reflexão sobre o currículo ou pedagogia a usar nestes casos?, refere.
Olga Mariano, da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas, frisa que as “mudanças estão a ocorrer”.
“Devagar, porque as mulheres ciganas estão no mesmo patamar que estavam as mulheres portuguesas, no geral, há 30 anos: dependentes dos maridos e das tradições”.