Inês Schreck, in Jornal de Notícias
A implementação das unidades de saúde familiar nos centros de saúde permitiu poupar, em 2009, na Região Norte, quase 27 milhões de euros. O novo modelo organizacional permitiu ainda que mais 125 mil utentes passassem a ter médico de família.
Quatro anos depois de abrirem as primeiras USF começam a surgir os resultados deste novo modelo organizacional que põe médicos, enfermeiros e administrativos a lutar por objectivos comuns, dando-lhes autonomia técnica e funcional.
A aposta no modelo foi mais forte no Norte, onde há 126 USF num universo de 254 em todo o país. Em Lisboa e Vale do Tejo há 84 USF, no Centro 27, no Algarve nove e no Alentejo oito.
Os resultados são, por isso, mais visíveis a Norte.
No ano passado, as 126 USF permitiram uma poupança de 26,75 milhões de euros em medicamentos e meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT). A economia gerada assenta, sobretudo, na eliminação do desperdício (diminuindo, por exemplo, a duplicação de exames e análises) e no seguimento de boas práticas médicas que passam por uma maior prevenção e vigilância dos utentes para evitar situações agudas, mais custosas.
Em 2009, cada utilizador da USF custou menos 28,43 euros por ano em medicamentos e MCDT (como análises, exames de radiologia, fisioterapia), conclui a ARSN num estudo recente que compara o modelo das USF com o modelo tradicional dos centros de saúde.
A par da poupança, as 126 USF do Norte conseguiram dar médico de família a mais 125 mil utentes. Em 2007, 1,22 milhões de utentes tinham médico de família; em 2009, eram 1,34 milhões. Ainda assim, no final do ano passado, cerca de 10% da população não tinha médico de família.
Também a taxa de utilização das USF aumentou 2,6% em dois anos, revelando uma tendência de crescimento que "desmonta o argumento do efeito novidade".
Outro indicador a salientar é o da vigilância dos utentes. Entre 2007 e 2009, o rastreio do colo do útero foi realizado a mais 15% de mulheres entre os 25 e os 64 anos e o rastreio do cancro da mama chegou a mais 13% das utentes, entre os 50 e os 69 anos.
Mais 10% dos recém-nascidos tiveram a primeira consulta de vida antes dos 28 dias, mais grávidas (3%) iniciaram a vigilância precoce da gravidez e mais crianças (14%) foram vacinadas até aos dois anos.
A autonomia técnica e administrativa e a requalificação das instalações são os factores-chave do sucesso das USF na opinião de Pimenta Marinho, vice-presidente da ARSN, que trabalha sobretudo a área dos cuidados primários de saúde na região.
Satisfeito com o desempenho das USF, Pimenta Marinho valoriza o trabalho em equipa que o modelo exige, bem como a adopção de manuais de boas práticas em determinadas áreas. "Utentes e profissionais estão mais satisfeitos e o modelo mostra que é possível reduzir a despesa do Serviço Nacional de Saúde e torná-lo sustentável", conclui o responsável.