Gina Pereira, in Jornal de Notícias
Tem uma história de vida complexa. Era gráfico. Há mais de dez anos, trabalhou como paginador, depois foi repórter em dois jornais regionais da Margem Sul. Deixou-se apanhar nas malhas da droga.
"Infelizmente, agarrei-me às drogas duras", admite Jaime Filipe, 57 anos. Para matar o vício, aceitava traficar "pequenas quantias". Um dia, foi apanhado pela polícia, julgado por tráfico e condenado a sete anos de prisão. Saiu da cadeia em 2007, já curado. Deixou o vício.
Inscreveu-se no fundo de desemprego, mas nunca mais conseguiu arranjar trabalho. Dizem-lhe que é velho. Vive numa casa sem água e sem luz, perto do Pinhal Novo.
Até Maio, recebia 187 euros de rendimento social de inserção mas, subitamente, esse dinheiro foi-lhe cortado. Inscrevera-se num curso de energias alternativas, mas teve de recusar fazê-lo, quando percebeu que teria de trabalhar com um maçarico a soldar cobre. O trauma que tem de ter sobrevivido a um incêndio que matou três crianças numa casa abandonada do Pinhal Novo, em Junho do ano passado, impede-o de mexer no fogo. E as mãos inchadas, com que acorda todos os dias e que os médicos dizem ser artroses, também o impossibilitam de fazer trabalhos manuais.
Revoltado, Jaime Filipe gostava de ter a oportunidade de trabalhar como porteiro ou ao computador. Por estes dias, come apenas uma refeição por dia, da caridade alheia. Não sabe como vai ser o seu dia de amanhã. Mas garante que nem a morrer à fome vai roubar ou fazer mal à alguém.