Por Samuel Silva, in Jornal Público
O Ministério da Cultura e a Câmara de Guimarães estão a tentar convencer a administração da Fundação Cidade de Guimarães (FCG) a baixar os seus salários da administração, que custa 600 mil euros por ano. Os contactos entre as três instituições avançaram nos últimos dias, depois da divulgação da folha de pagamentos da entidade que gere a Capital Europeia da Cultura (CEC) de 2012. Nas próximas semanas, a comissão de vencimentos e o conselho geral da instituição vão também analisar a situação.
Na terça-feira, o presidente da câmara, António Magalhães, reuniu-se com a líder da FCG, Cristina Azevedo, e confrontou-a com a decisão de convocar a comissão de vencimentos para discutir uma redução salarial. A proposta deverá ser apreciada numa reunião a realizar "a curto prazo", revelou ontem o autarca, que pretende ouvir também os 17 membros do Conselho Geral da Guimarães 2012. "Vamos encontrar uma solução que compatibilize o momento que vivemos com o papel das pessoas e a qualidade do serviço que prestam", prometeu ontem o autarca na reunião do executivo municipal. Magalhães acredita que a administração "tem noção da responsabilidade do momento" e considera que Cristina Azevedo "não se põe de lado de uma exigência nacional".
Há uma semana, em declarações à Antena 1, Gabriela Canavilhas considerou "demais" e "inaceitável" os 600 mil euros anuais pagos à administração. "A FCG será a primeira a repensar a situação. Entre as várias adaptações que terá de fazer, essa será uma das primeiras", afirmou a ministra. O Ministério da Cultura também intensificou, nos últimos dias, os contactos com membros da administração e do Conselho Geral para preparar o caminho da redução salarial.
Contactada pelo PÚBLICO, a administração da FCG entende ser cedo para avaliar essa medida. "A comissão de vencimentos tem legitimidade para tomar uma decisão e só depois de ela estar tomada podemos tomar uma posição", avança fonte da entidade gestora da Guimarães 2012.
Apesar de partilharem a ideia de que é preciso reduzir os salários, a relação entre Governo e Câmara de Guimarães já viu melhores dias. Ontem, o presidente da autarquia criticou as declarações de Gabriela Canavilhas, a propósito dos vencimentos da administração da CEC 2012. "Podia ter tratado esta questão de outra maneira. Se achava que tinha razões objectivas para intervir, devia ter dado sinais disso mais cedo", afirmou António Magalhães.
O autarca lembra o "percurso de vida complicado" do evento, que já conheceu três ministros da Cultura e sofreu alguns "cortes no orçamento face ao combinado previamente".
António Magalhães critica também Gabriela Canavilhas por tratar o projecto como "um enteado". "Este não é um filho desta ministra, mas ela tem de o considerar como tal", sublinha o presidente de câmara, lamentando que, ao contrário do que aconteceu com os antecessores de Canavilhas, "ainda não conheça bem o que pensa a actual" governante acerca da Guimarães 2012.