29.7.22

Marcelo: empresas com lucros extraordinários “devem tomar iniciativa de sacrificar distribuição de dividendos”

David Santiago, in Público


https://www.publico.pt/2022/07/29/politica/noticia/marcelo-empresas-lucros-extraordinarios-tomar-iniciativa-sacrificar-distribuicao-dividendos-2015511




Marcelo Rebelo de Sousa espera que as empresas com lucros extraordinários decorrentes de uma “situação extraordinária devem ser as primeiras a tomar a iniciativa de maior responsabilidade social. Não podem ignorar aqueles que sofrem à sua volta”.




Em declarações reproduzidas pela RTP3, Marcelo falou ainda sobre a possibilidade de empresas como a Galp, cujos lucros aumentaram mais de 150% no primeiro semestre face a igual período do ano passado, em especial devido à actual conjuntura, verem os lucros extraordinários obtidos taxados como propõem o Bloco de Esquerda e o PCP, considerando que para tal o sector privado deve receber uma “contrapartida”, ainda por “estudar”.





“A aplicação de impostos é uma matéria que está a ser discutida por toda a Europa. Há a dificuldade em encontrar uma solução que não seja retroactiva e que seja justa, abarque todos aqueles que porventura poderiam ser abarcados e que tivesse uma contrapartida, que é preciso estudar”, afirmou Marcelo, acrescentando que “se se aumentam impostos sobre quem teve lucros extraordinários devido a uma situação extraordinária, talvez se devesse baixar os impostos ou tomar medidas sociais relativamente aos sectores desfavorecidos que sofrem mais”.






Sobre se no caso de as empresas não tomarem essa iniciativa o Governo deve avançar com a aplicação de uma taxa extraordinária, o chefe de Estado prefere não se adiantar e deixar “apenas o apelo” de que “qualquer medida que seja tomada tem de ser justa e que chegue, nos seus resultados, ao bolso das pessoas”. Esta quinta-feira, no final do Conselho de Ministros a que presidiu enquanto primeira-ministra em exercício, Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, frisou que qualquer medida só será tomada em Setembro ou Outubro e sempre tendo em conta o princípio das contas orçamentais certas.



Quanto à inflação, que em Julho acelerou para mais de 9%, o Presidente da República lembra que se trata de uma “situação de crise que se vive por causa da guerra”. “Vai ser um período difícil, nós sabemos disso, um período que exige resistência, capacidade de decisão, e decisão rápida se for necessária”, alertou, frisando ser “evidente que estes são tempos difíceis”.




Ainda sobre outro dos efeitos provocados pela guerra na Ucrânia a que Marcelo se referiu foi a crise energética e para salientar que Portugal está “ao contrário de outros países europeus, que entram já no Outono e no Inverno, sem necessidades energéticas”. “Estamos numa situação relativamente menos grave”, considerou tendo em conta a não dependência do gás russo e a aposta nacional nas energias renováveis.



"Temos de antecipar respostas” na saúde


Já quanto à notícia da demissão em bloco dos chefes do serviço de urgência do Hospital de São Francisco Xavier, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou ser preciso “trabalhar para que este mês de Agosto, sobretudo com a pressão do turismo e eventual subida de pressão nalguns pólos [do país]” não existam consequências de maior para o sistema de saúde: “Temos de nos prevenir e tentar antecipar respostas.”

E relativamente ao caso da grávida que perdeu o bebé antes de chegar ao hospital de Santarém, o Presidente admitiu saber que “o sistema [de saúde] está muito, muito sobre pressão ainda por causa da pandemia e de todo o tipo de cuidados que foram afectados indirectamente pela pandemia”.








“Sei que é difícil o reajustamento e que há férias. Sei que há questões por resolver”, prosseguiu, para depois pedir um “esforço para evitar rupturas e para superar as rupturas”, um “esforço de todos, naturalmente de todo o Estado, do poder local” e dos “próprios profissionais”. “Não é justo que as pessoas venham a sofrer por causa duma pressão desigual. É preciso que se trabalhe para resolver os problemas pendentes e evitar outros”, concluiu.





À margem do Eurafrican Forum, e ao lado do homólogo de Cabo Verde, que faz a primeira visita de Estado a Portugal, José Maria Neves, o Presidente da República comentou diversos temas que marcam a actualidade e sobre as empresas que “por razões várias tenham vindo a ter proventos extraordinários devido a uma situação extraordinária”, defendeu que “têm de investir mais em termos sociais sacrificando dividendos, a distribuição de lucros. Devem tomar essa iniciativa”.

Mais de 607 milhões de euros aprovados para as Polícias

in JN

O Conselho de Ministros aprovou, esta quinta-feira, um investimento de mais de 607 milhões de euros para melhorar e modernizar as infraestruturas e equipamentos das forças e serviços de segurança, anunciou o ministro da Administração Interna.

O investimento está previsto no âmbito da programação de infraestruturas e equipamentos das forças e serviços de segurança do Ministério da Administração Interna, um compromisso plurianual até 2026.

Em conferência de imprensa, no final da reunião do Conselho de Ministros, José Luís Carneiro explicou que se trata de um investimento superior a 607 milhões de euros que dá continuidade a um programa de investimentos iniciado em 2017 e no âmbito do qual já foram executados mais de 340 milhões de euros.

"Trata-se do maior volume de investimento de sempre na modernização, requalificação e dignificação das condições de trabalho e garantia de melhores indicadores de operacionalidade das nossas forças e serviços de segurança", sublinhou o ministro.

A maioria da verba hoje aprovada destina-se a infraestruturas (236 milhões de euros) e aos sistemas de tecnologia de informação e comunicação (250 milhões de euros). Há ainda cerca de 64 milhões de euros para a aquisição de novos veículos e 11,5 milhões de euros para a aquisição de novas armas "mais adequadas às exigências das ameaças e risco", explicou o ministro. Está também prevista a aquisição de equipamentos de proteção individual para os polícias, no valor de 15 milhões de euros, equipamentos para funções especializadas, no valor de 22 milhões de euros, e equipamento de apoio à atividade profissional, no valor de cinco milhões de euros.

José Luís Carneiro acrescentou que, além do plano de investimento, o executivo está empenhado numa política de rejuvenescimento das forças e serviços de segurança. De acordo com o governante, em 2021 foram recrutados cerca de 2400 polícias e guardas e está em curso a contratação de outros 2600 agentes.

O ministro da Administração referiu também um "esforço para garantir um investimento de mais de 40 milhões de euros para alojamento para agentes da PSP e da GNR e para as suas famílias".

Por outro lado, está em fase de conclusão a estratégia integrada de segurança urbana, que deverá ser apresentada em breve, e permitirá revitalizar os contratos locais de segurança e os programas "Noite Segura", "Idosos em Segurança" e "Escola Segura".

As unidades móveis de atendimento, que serão apresentadas hoje pelas 18:00, simultaneamente em Lisboa e no Porto, fazem também parte dessa estratégia, explicou José Luís Carneiro, admitindo que foram antecipadas em resposta a preocupações manifestadas pelos autarcas das duas cidades.

"As unidades móveis têm a ver com um objetivo de manter níveis elevados de proximidade com os cidadãos, agilizando o modo como podem aceder às autoridades para efeitos de participação de ocorrências ou crimes", disse o ministro, antecipando que "esta abordagem de proximidade estará inscrita na matriz da estratégia de segurança urbana".

Gratuitidade das creches deve atingir 100 mil crianças em 2024

in JN

A gratuitidade das creches para todas as crianças nascidas depois do dia 1 de setembro de 2021 começa no mês de setembro, devendo abranger 100 mil crianças dentro de dois anos, segundo o acordo do Governo e do setor Social e Solidário.

Informação do Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social (MTSSS) hoje divulgada à Lusa indica que o acordo está pronto e a portaria que regulamenta a gratuitidade já foi assinada e será publicada esta semana.

O acordo entre o Governo e as organizações representativas do setor social e solidário (União das Misericórdias, Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Confecoop e União das Mutualidades) estabelece que a gratuitidade inclui "todas as atividades pedagógicas desenvolvidas (exceto, atividades extra projeto pedagógico), a alimentação, os custos com inscrições e seguros, assim como os custos com períodos de prolongamento do horário de funcionamento".

No debate sobre o estado da Nação, na última quarta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou ter concluído um acordo entre o executivo e o setor social para assegurar a gratuitidade das creches para crianças nascidas a partir do dia 01 de setembro de 2021 e que frequentem pela primeira vez a creche a partir de setembro de 2022.

Esta segunda-feira, numa informação enviada à Agência Lusa, o MTSSS explica que a gratuitidade aplica-se às crianças que frequentam creches do setor social e solidário, independentemente da sala que venham a frequentar.

"Até 2024, a gratuitidade das creches será implementada de forma faseada, aumentando anualmente mais um ano de creche abrangido, até à globalidade das crianças da rede social e solidária. As crianças, agora abrangidas pela gratuitidade, mantêm-na durante todos os anos que estiverem na creche", explica o Ministério.

"A gratuitidade das creches é uma medida decisiva e prioritária para o país, quer no combate à pobreza infantil, promovendo a integração e igualdade de acesso de oportunidades e rompendo ciclos de pobreza, quer na promoção de uma política de apoio às famílias, em especial aos jovens que precisam de apoio e condições para permanecerem em Portugal, para se autonomizarem e constituírem família", diz, citada no documento, a ministra do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

O MTSSS destaca ainda no acordo o estabelecimento de uma "priorização" na atribuição de vagas para as crianças.

São prioritárias crianças com deficiência e ou incapacidade, crianças de famílias mais carenciadas, crianças cujos progenitores sejam cuidadores informais principais, crianças de agregados monoparentais ou famílias numerosas e cujos pais residam ou trabalham na área, ou crianças sinalizadas como em risco.

Em relação a valores a informação dada à Lusa explica que, quanto às crianças abrangidas na primeira fase do acordo, que vão para a creche em setembro, as comparticipações que os pais pagavam passam a ser assumidos pelo Governo.

"Atualmente, a Segurança Social paga 293 euros por cada criança a frequentar as creches do setor social e solidário e as famílias pagam um valor de comparticipação variável adicional. Com a implementação da gratuitidade, a Segurança Social passa a assumir também o valor diferencial das comparticipações que estava a cargo das famílias, ou seja, o custo técnico total da resposta no valor de 460 euros", explica o MTSSS.

Na semana passada, o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, o padre Lino Maia, disse à Lusa que cerca de 80 mil crianças deverão frequentar gratuitamente a creche a partir de setembro, já que estima que existam atualmente cerca de 50 mil crianças a frequentar gratuitamente a creche por os pais estarem nos 1.º e 2.º escalões de rendimento.

Também na semana passada, a associação que representa as creches privadas acusou o Governo de discriminação, ao excluir o setor do acordo que permite assegurar a gratuidade das creches para crianças com 1 ano de idade, a partir de setembro.

Creches têm de devolver verbas já pagas por famílias abrangidas pela gratuitidade

in JN

As instituições terão de restituir os valores pagos na inscrição pelas famílias cujos filhos venham a ser abrangidos pela medida da gratuitidade das creches.

O diploma publicado esta quarta-feira em Diário da República estabelece também que a gratuitidade da frequência das creches está dependente da capacidade dos estabelecimentos, sendo a única exceção os casos de crianças em risco que poderão obrigar a criar uma vaga extra.

A portaria define como irá funcionar a medida anunciada na semana passada pelo primeiro-ministro, que se destina nesta primeira fase às cerca de 80 mil crianças que nasceram no último ano, desde 1 de setembro de 2021. A gratuitidade está, no entanto, dependente das vagas existentes no setor social e solidário: "A medida de gratuitidade da frequência de creche e creche familiar estende-se até ao limite da capacidade autorizada para o estabelecimento".

A única exceção são as crianças com medidas de promoção e proteção, aplicadas pelas comissões de proteção de crianças e jovens (CPCJ) ou pelos tribunais, "com indicação de frequência de creche, que têm acesso e admissão obrigatórios na resposta de creche, ainda que para o efeito tenha de ser criada vaga extra", acrescenta o diploma que entra em vigor na quinta-feira.

No caso de não haver vagas para todos os interessados numa determinada creche, é feita uma avaliação social e económica do agregado familiar, sendo aplicados critérios tendo em conta a situação económica familiar mas também outras "circunstâncias conducentes à desvantagem social da criança e da respetiva família".

Segundo o anexo da portaria, a lista de prioridades para admissão nas vagas das respostas sociais é encimada pelas crianças que já frequentavam a creche no ano anterior, seguindo-se as crianças com deficiência ou incapacidades.

Os filhos de pais "estudantes menores, ou beneficiários de assistência pessoal no âmbito do Apoio à Vida Independente ou reconhecido como cuidador informal principal, ou crianças em situação de acolhimento ou em casa abrigo" aparecem em terceiro lugar na lista de prioridades.

Seguem-se os que já têm irmãos na instituição, as crianças beneficiárias da prestação social Garantia para a Infância e ou com abono de família do 1.º e 2.º escalões e as crianças carenciadas cujos pais trabalham na zona e as de agregados monoparentais ou famílias numerosas.

O diploma define ainda que pelo menos 30% das vagas afetas à gratuitidade são para crianças abrangidas pela prestação social Garantia para a Infância ou beneficiárias do abono de família até ao 3.º escalão.

O Governo pretende que até 2024, a gratuitidade das creches seja implementada de forma faseada, aumentando anualmente mais um ano de creche abrangido, até à globalidade das crianças da rede social e solidária. As crianças que agora venham a ser abrangidas pela medida vão mantê-la durante todos os anos que estiverem na creche.

Além dos bebés nascidos no último ano, as creches continuam a ser gratuitas também para todas as restantes crianças de famílias mais carenciadas (do 1.º ou 2.º escalões das comparticipações familiares). "Apenas as atividades extra projeto pedagógico, de caráter facultativo, que as instituições pretendam desenvolver e nas quais os pais ou representantes legais inscrevam as crianças bem como a aquisição de fardas e uniformes escolares estão excluídas da medida da gratuitidade", refere a portaria.

Governo cria apoio extraordinário de 18 milhões de euros e reforça comparticipação das respostas sociais

in Público

Medidas resultam de um acordo estabelecido entre o Governo e o sector a propósito do Compromisso de Coordenação para o sector social e solidário.

O Governo vai criar um apoio extraordinário de 18 milhões de euros para reforçar as respostas sociais, anunciou esta quarta-feira o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), que vai também aumentar a comparticipação financeira das instituições.

As medidas resultam de um acordo estabelecido entre o Governo e o sector a propósito do Compromisso de Coordenação para o sector social e solidário.

Relativamente ao novo apoio temporário e extraordinário, num total de 18 milhões de euros, o objectivo é apoiar as instituições na garantia de “respostas sociais inclusivas e com qualidade”, explica o ministério em comunicado.

Na prática, as instituições vão receber um pagamento adicional mensal no valor de 18 euros por utente em estruturas residenciais e serviço de apoio domiciliários e de 6,6 euros por utente nas restantes respostas sociais de carácter não residencial.

O executivo justifica o reforço com o “contexto actual de aumento dos custos, nomeadamente alimentação e energia, decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia e da inflação”.

Além desse apoio, haverá também um reforço, com efeitos a partir de Janeiro de 2022, da comparticipação financeira das estruturas residenciais para pessoas idosas, que passa de 433 euros mensais 470,16, e dos centros dias, que passam a receber 140 euros mensais, em vez dos anteriores 125 euros.

“Para as restantes respostas sociais e acordos atípicos ficou estabelecido um aumento de 3,6% na comparticipação financeira”, acrescenta a tutela.

Em comunicado, o MTSSS refere que a adenda extraordinária ao Compromisso de Cooperação representa “o maior aumento de sempre nas comparticipações para reforçar as respostas de apoio social às pessoas mais vulneráveis”.

As alterações acordadas entre o Governo, a União das Misericórdias Portuguesas, a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, as Mutualidades Portuguesas e a Confederação Cooperativa Portuguesa integram também a gratuitidade das creches, cuja Portaria foi publicada esta quarta-feira em Diário da República.

A medida, anunciada na semana passada e que entra em vigor a partir do dia 1 de Setembro, estabelece a gratuitidade das creches para as cerca de 80 mil crianças que nasceram no último ano, desde 1 de Setembro de 2021.

“Até 2024, a gratuitidade das creches será implementada de forma faseada, aumentando anualmente mais um ano de creche abrangido, até à globalidade das crianças da rede social e solidária”, acrescenta o ministério.

Caro D. Manuel Clemente: pedofilia não é só pecado. É crime

João Miguel Tavares, opinião, in Público

O Papa Francisco já explicou isto mil vezes. A Igreja portuguesa, pelos vistos, continua a não querer perceber.

Se a ocultação de centenas de milhares de casos de pedofilia por parte da Igreja não for a maior barbaridade cometida ao longo da sua História (a competição é forte), é com certeza uma das maiores. A Igreja permitiu a destruição da vida de crianças inocentes e das suas famílias, denegou-lhes justiça, ocultou os crimes dos seus sacerdotes, promoveu a prática continuada desses crimes ao deslocar os padres pedófilos para outras paróquias, cobriu tudo com um repugnante manto de silêncio, colocou a reputação da hierarquia à frente do sofrimento dos mais fracos, afastou do seu seio os justos para proteger os ímpios, cuspiu em cada palavra do mesmo Evangelho que jurou seguir.

Não é coisa pouca. Bento XVI começou a dar os primeiros passos, ainda tímidos, para corrigir a situação. O Papa Francisco tem sido bastante mais resoluto: assumiu tudo, pediu perdão vezes sem conta, impôs a criação de comissões independentes para avaliar a escala do drama da pedofilia ao nível local, tomou medidas efectivas para ajudar a purificar o ambiente da Igreja – só que, infelizmente, continua a ser muito difícil enfiar as suas ideias na cabeça de todos os padres e de todos os bispos, pois, como o próprio Papa já explicou, é tarefa hercúlea remover o clericalismo da Igreja – essa perversão estrutural que é sempre um sintoma de falta de humanidade. Nas suas sábias palavras, “sob qualquer rigidez há sempre podridão”.

Ponham podridão nisso. Veja-se o caso agora noticiado pelo Observador: tanto D. José Policarpo, no final dos anos 90 (por queixa da mãe da vítima), como D. Manuel Clemente, já depois de 2019 (por queixa da própria vítima), tiveram conhecimento de uma acusação de abusos sexuais de uma criança de 11 anos, ocorrida no início da década de 90, por parte de um jovem padre. Esse padre foi afastado das actividades paroquiais por D. José Policarpo apenas em 2002, para logo ser colocado numa capelania onde voltou a ter contacto com jovens, sem que nem o antigo nem o actual cardeal-patriarca tenham apresentado queixa à polícia.

Embora este caso em concreto esteja por esta altura prescrito, é muito pouco compreensível que D. Manuel Clemente continue a refugiar-se em respostas evasivas, tanto mais que, como explica o pedopsiquiatra Pedro Strecht no artigo, “há um alto risco de prossecução do mesmo crime, porque os abusadores, uma vez abusando, têm grande probabilidade de o continuar a fazer”. Ora, quando o Observador tentou saber mais pormenores sobre a actuação da Igreja, foi “informado telefonicamente pelo gabinete de imprensa do Patriarcado que D. Manuel Clemente não pretendia dar mais respostas ao jornal”. Quanto às respostas que deu, elas não descansam ninguém: segundo o Patriarcado, terá sido a vítima a não querer divulgar o caso, já que a sua intenção foi apenas garantir “que não se voltasse a repetir”.

A sério? Esta ausência de explicações é um pecado capital – chama-se soberba, e é o oposto da humildade. Há um duplo problema naquele raciocínio: 1) Ninguém percebeu, até agora, que raio fez a Igreja para impedir “que não se voltasse a repetir”. 2) Não compete à Igreja substituir-se às autoridades civis e ao Ministério Público. A pedofilia não é apenas um pecado – é também um crime. A Igreja pode ocupar-se do primeiro, mas é à Justiça, e só à Justiça, que compete avaliar o segundo. O Papa Francisco já explicou isto mil vezes. A Igreja portuguesa, pelos vistos, continua a não querer perceber.

D. Manuel Clemente terá ocultado denúncia de abusos sexuais

in DN

Segundo o Observador, o patriarca de Lisboa chegou a encontrar-se pessoalmente com a vítima, mas decidiu não denunciar caso à polícia e manter o padre no ativo.O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, teve conhecimento de uma denúncia de abusos sexuais de menores por parte de um sacerdote do Patriarcado e chegou mesmo a encontrar-se pessoalmente com a vítima, mas decidiu não denunciar o caso às autoridades civis e manter o padre no ativo com funções de capelania, avança o Observador.

Além disso, o sacerdote em causa continuou a gerir uma associação privada onde acolhe famílias, jovens e crianças, com conhecimento de D. Manuel Clemente, porque a vítima, que diz ter sofrido esses abusos durante a década de 1990, não quis que o caso se tornasse público e queria apenas que os abusos não se repetissem, justificou o Patriarcado ao Observador.

A situação foi levada ao conhecimento do Patriarcado, pela primeira vez, ainda com o anterior patriarca, José Policarpo, pela mãe da vítima, mas segundo o Observador, "esta primeira reunião foi infrutífera", com a família a sair do encontro "com a ideia de que a hierarquia da Igreja Católica não acreditava na denúncia".

"Seguiram-se vários contactos entre a família e a hierarquia do Patriarcado de Lisboa, que incluíram conselhos para que a mãe da criança tivesse acompanhamento clínico", adianta o jornal.

A atuação do Patriarca de Lisboa contraria as normais internas da Igreja Católica, que determina a comunicação às autoridades civis, e os apelos que têm vido a ser feitos pela comissão independente liderada pelo psiquiatra Pedro Strecht e pela Polícia Judiciária para que todos os casos, mesmos os que já se encontrem prescritos judicialmente, sejam denunciados, pois a probabilidade de repetição deste tipo de crimes é elevada.

Entretanto, numa nota enviada esta quarta-feira à agência Lusa, o Patriarcado de Lisboa confirmou ter recebido, "no final da década de 1990", queixa contra um padre por alegados abusos sexuais, assegurando que "duas décadas depois" o atual patriarca encontrou-se com a vítima, "que não quis divulgar o caso".

O Patriarcado informa que, "na altura, foram tomadas decisões tendo em conta as recomendações civis e canónicas vigentes" e que, "até este momento, (...) desconhece qualquer outra queixa ou observação de desapreço sobre o sacerdote", que chegou a ser responsável por duas paróquias da zona norte do distrito de Lisboa.

Segundo o Patriarcado, "o sacerdote está atualmente hospitalizado" e à Comissão Diocesana de Proteção de Menores não chegou "qualquer denúncia ou comunicação sobre o caso".

A nota adianta que o Patriarcado de Lisboa "está totalmente disponível para colaborar com as autoridades competentes, tendo sempre como prioridade o apuramento da verdade e o acompanhamento das vítimas".

A Comissão Independente criada para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa recolheu até 10 de julho 352 testemunhos de vítimas desde que foi criada, há seis meses, e convidou arquiteto Álvaro Siza para projetar memorial de homenagem, que aceitou o projeto.

Além de Pedro Strecht, fazem ainda parte da comissão Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, Ana Nunes de Almeida, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Daniel Sampaio, psiquiatra, professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa, Filipa Tavares, assistente social e terapeuta familiar, e Catarina Vasconcelos, cineasta.

As denúncias e testemunhos podem chegar à comissão através do preenchimento de um inquérito 'online' em darvozaosilencio.org, através do número de telemóvel +351917110000 (diariamente entre as 10:00 e as 20:00), por correio eletrónico, em geral@darvozaosilencio.org e por carta para "Comissão Independente", Apartado 012079, EC Picoas 1061-011 Lisboa.

BE queixa-se de discriminação racial em reunião da Câmara de Lisboa

Júlia M. Tavares, in Público

Com a saída prematura de Carlos Moedas antes do fim da última reunião de câmara do primeiro ano de mandato, a vereadora Beatriz Gomes Dias queixa-se das sucessivas interrupções do autarca e de discriminação racial.Beatriz Gomes Dias acusou esta quarta-feira o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, de discriminação racial. 

A vereadora do Bloco de Esquerda queixou-se sobre a condução de trabalhos, como as constantes interrupções por parte do autarca, da falta de inscrição ou a atribuição da palavra a outro vereador, quando a solicita. “Quando falamos de discriminação também são estas as atitudes”, afirma, “a forma como as pessoas não brancas são tratadas nos contextos onde exercem a sua função”, sublinha.

Foi após um pedido de ajuda para habitação de uma munícipe durante a reunião, e a vereadora se ter pronunciado acerca do programa da Renda Acessível, que Carlos Moedas interrompeu o discurso por considerar que a intervenção não é um contributo apropriado para o caso da munícipe por não se tratar de uma solução, mas sim de uma discussão política sobre uma medida. O autarca deixou que Beatriz Gomes Dias terminasse o seu discurso mas a vereadora considerou a interrupção anterior como “inadequada e incorrecta” porque, como afirmou, tem a liberdade de decidir o que diz em todas das suas intervenções, relembrando a última reunião pública onde, mais uma vez, Moedas a interrompeu durante o seu discurso.

A vereadora do PS Inês Drummond refere que as sistemáticas interrupções dos vereadores não são aceitáveis enquanto falam dentro do tempo regimental e realça a forma “lamentável” como o presidente da câmara interrompe a vereadora do BE, sendo que já não se trata da “primeira vez, nem da segunda”.

Risco de recessão na zona euro está a aumentar

Sónia M. Lourenço, in Expresso

Subida dos juros acentua abrandamento associado à guerra na Ucrânia. Eventual corte de gás russo é a maior ameaça

A possibilidade de a economia da zona euro entrar em recessão não é o cenário central para os economistas, mas o risco tem vindo a aumentar. É essa a mensagem ouvida pelo Expresso junto de vários especialistas.

“O aumento das taxas de juro tenderá a diminuir o consumo e o investimento da maioria das famílias e empresas, e desta forma contribuir para o abrandamento da economia”, aponta Pedro Brinca, economista e professor da Nova SBE, argumentando que “numa altura em que as taxas de inflação ainda não começaram a cair de forma pronunciada para o objetivo dos 2%, não será necessariamente um problema”. Contudo, “é preciso ser prudente para que o abrandamento da economia seja o necessário para retomar a normalidade dos valores da inflação, mas não mais do que isso”, alerta.

É um “caminho estreito” o que o BCE enfrenta, vinca o estudo “Hard or soft landing?”, publicado pelo Bank for International Settlements. “Apertar demasiado ou muito rapidamente pode resultar em stresse financeiro e uma aterragem dura, infligindo danos desnecessários à economia. Mas, apertar demasiado lentamente pode deixar as pressões inflacionistas tornarem-se persistentes, exigindo ações mais fortes e custosas mais à frente”, avisam os autores.

As projeções apontam para um abrandamento da economia europeia, mas não para uma recessão. A Comissão Europeia antecipa uma expansão da zona euro de 2,6% este ano — com Portugal a liderar o crescimento nos 6,5% — e de 1,4% em 2023 – com Portugal a abrandar para 1,9%.

“O cenário de recessão é possível, mas não parece ser ainda o central”, salienta João Borges de Assunção, professor da Católica-Lisbon, salientando que em caso de forte arrefecimento, “em particular associado a subidas do desemprego, será de esperar uma normalização mais lenta da política monetária”. Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, aponta no mesmo sentido: “O cenário de recessão tem alguma probabilidade de ocorrência, não só pela subida dos juros e ambiente financeiro mais restritivo, como sobretudo pelas consequências da guerra na Ucrânia, e, em concreto, a incerteza relativamente ao abastecimento de energia à Europa. Não é o cenário central, mas a sua probabilidade tem vindo a aumentar.” Um corte definitivo do abastecimento de gás natural russo é a principal ameaça e “lançará a Europa numa recessão, disso tenho poucas dúvidas”, salienta Pedro Brinca. Mas, “tirando a questão energética, não me parece que uma recessão seja uma inevitabilidade”, remata.

Marcelo promete "promulgação imediata" da nova lei de estrangeiros

in JN

O Presidente da República prometeu hoje uma "promulgação imediata" do novo regime jurídico para estrangeiros em Portugal, que teve uma "maioria esmagadora a votar a favor" no parlamento, considerando que "não faz sentido dramatizar a questão das migrações".Na conferência de imprensa conjunta no âmbito da primeira visita oficial do presidente de Cabo Verde a Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa disse esperar que o decreto da Assembleia da República relativo à nova lei dos estrangeiros chegue ao Palácio de Belém ou sexta-feira ou no início da próxima semana.

"Eu certamente o promulgarei antes de meados do mês de agosto. Será promulgação imediata. Não tenho qualquer dúvida, não teve nenhum voto contra no parlamento e teve uma maioria esmagadora a votar a favor, representa um consenso nacional", comprometeu-se.

A Assembleia da República aprovou há uma semana, no dia 21 de julho, em votação final global, o novo regime jurídico para estrangeiros em Portugal, com votos a favor do PS, PCP, BE e Livre, abstenções do PSD, IL e PAN, e ausência do Chega.

De acordo com o Presidente da República, o diploma "entrará logo a seguir em vigor e prevê um novo regime nomeadamente para vistos de trabalho e para vistos para estudantes", dois casos que "são cronicamente apontados como mais complicados para a vida das pessoas".

"Estamos a fazer um esforço ao mesmo tempo para flexibilizar e ir melhorando em termos burocráticos o mecanismo do processamento dos vistos", disse.

O objetivo, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "é o mais rapidamente possível pôr de pé o mecanismo que foi uma ideia conjunta de Cabo Verde e de Portugal" quando os "irmãos da CPLP ainda tinham reservas".

"Quanto mais depressa melhor porque representa reconhecer um mérito do passado, o que nós devemos aos cabo-verdianos em Portugal e estamos convencidos que também Cabo Verde deve aos portugueses em Cabo Verde, que não tem medida", defendeu.

O chefe de Estado considerou que "com esta míni revolução" se pretende "estreitar o espírito da CPLP, mas levar mais longe aquilo que começou a ser feito em condições que não eram tão favoráveis como aquelas que estão agora a ser criadas".

"A preocupação é óbvia: é levarmos mais longe aquilo que é uma comunidade - não apenas comunidade entre chefes de estado, primeiros-ministros, ministro dos Negócios Estrangeiros, governantes, mesmo poder local e instituições da sociedade civil, - mas uma comunidade construída todos os dias pelas pessoas e nós sabemos, de uma experiência muito antiga, como não faz sentido dramatizar a questão das migrações porque praticamo-la, nos dois sentidos, dia após dia, enriquecendo as nossas sociedades", defendeu.

Educação, Constituição e Convenção Europeia dos Direitos Humanos

Teresa Violante, opinião, in Público

Em Estado de direito democrático, não existe um direito humano a não sermos confrontados com opiniões contrárias às nossas crenças e convicções – nem a isolarmos os nossos filhos do pluralismo próprio das sociedades contemporâneas.Um pouco por todo o mundo, pais e educadores têm-se oposto à frequência, pelos seus educandos, de certas disciplinas ou conteúdos curriculares, alegando razões religiosas, morais, ou de consciência. O caso de Famalicão é, por isso, a declinação portuguesa de um fenómeno bem mais vasto, e podemos colher auxílio noutras jurisdições para enquadrar a questão.

É certo que, à luz da nossa Constituição, o Estado português apresenta vinculações que estão ausentes noutras ordens jurídicas. É de realçar o artigo 73.º, que estabelece o dever do Estado de promover a democratização da educação para que a mesma contribua para a “igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida ativa”.

Obviamente, a educação não é um processo alheio a valores. A educação não pode ser ideologicamente programada, como o impõe o artigo 43.º, n.º 2, mas isso não significa que seja valorativamente assética. Como reconhece o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), muito dificilmente certas disciplinas não terão, em maior ou menor medida, ressonância ética, filosófica ou moral.

À luz da Constituição, e do Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Estado deve respeitar as convicções morais e religiosas de cada um, designadamente dos pais, e o direito destes de educar os seus filhos de acordo com essas convicções. É inequívoco, aliás, que os pais são os principais responsáveis pela educação e ensino dos seus filhos.

No entanto, a escolaridade obrigatória implica deveres públicos relativamente aos pais e encarregados de educação, tal como o dever de garantir que os alunos frequentam as aulas e o currículo obrigatório. O não cumprimento destes deveres pode dar lugar a sanções. Nos termos da jurisprudência do TEDH, o desenho dos currículos compete aos Estados, devendo a informação e o conhecimento ser enquadrados de modo objetivo, crítico e plural, dando aos alunos ferramentas para desenvolver um espírito crítico.

Se estes limites, bem como as crenças religiosas e filosóficas dos pais, forem respeitados, o Estado é livre de desenhar os conteúdos, estabelecer a sua obrigatoriedade, e aprovar, ou não, isenções à frequência de certas disciplinas. Aliás, relativamente às isenções, o Tribunal acrescenta que as mesmas podem até ter um efeito pernicioso e estigmatizante, potenciando um conflito de lealdades entre a escola e os pais. O TEDH salienta ainda que o pluralismo na educação é essencial para preservar o Estado de direito democrático.

Existem casos em que a recusa dos pais em autorizar a frequência dos filhos de disciplinas de educação sexual, ética, ou mesmo o ensino presencial, conduziu à aplicação de sanções penais (penas de multa e de prisão), e à retirada do poder paternal, concretamente por parte do Estado alemão. Em todos esses casos, o TEDH considerou não ter ocorrido violação de parâmetros da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Situações destas podem-nos parecer drásticas, mas demonstram claramente que, em matéria de educação, e dentro dos limites definidos pelo Tribunal, os Estados têm competências para garantir que as convicções pessoais dos pais não interferem no direito dos filhos à educação.

Situações destas podem-nos parecer drásticas, mas demonstram claramente que, em matéria de educação, e dentro dos limites definidos pelo Tribunal, os Estados têm competências para garantir que as convicções pessoais dos pais não interferem no direito dos filhos à educação

A ação do Estado visa precisamente permitir que a liberdade de consciência dos pais não interfere na liberdade de consciência dos filhos, garantindo que os alunos podem formar livremente as suas convicções, dando-lhes condições para virem a ser adultos livres.

Existe espaço para o debate crítico sobre os conteúdos curriculares e as ferramentas pedagógicas do ensino obrigatório. Esse debate é próprio de sociedades plurais e o dissenso não deve ser aniquilado, nem esse deve ser o objetivo da escola, nem da educação. Tal debate deve ser travado, primordialmente, no espaço democrático, reservando-se para as restantes autoridades, designadamente os tribunais, situações em que o Estado, notoriamente, não respeitou os limites que se lhe impõem, designadamente em matéria de respeito pelas convicções religiosas e morais dos pais.

Quanto ao respeito que o Estado deve às convicções religiosas e morais dos pais, vale a pena, contudo, salientar um aspeto crucial que resulta da jurisprudência do TEDH, e que merece profunda reflexão, em tempos de crescente polarização: em Estado de direito democrático, não existe um direito humano a não sermos confrontados com opiniões contrárias às nossas crenças e convicções – nem a isolarmos os nossos filhos do pluralismo próprio das sociedades contemporâneas.

Exercício físico e atividades cognitivas previnem a perda de raciocínio à medida que se envelhece

in SIC

As conclusões são de um estudo publicado na revista Neurology.

Manter o corpo e o cérebro ativos pode ser a fórmula para uma melhor saúde mental à medida que se envelhece.

Entre as principais manifestações do envelhecimento cognitivo estão a diminuição da velocidade de raciocínio, a perda de memória e atenção e ainda as dificuldades de linguagem. Contrariar esta tendência pode contribuir para um pensamento mais rápido, conseguir manter o foco nas tarefas e ter uma maior capacidade de relacionamento com outras pessoas, segundo a CNN Internacional.

As conclusões de um estudo desenvolvido nos EUA mostram que o processamento mental das mulheres pode beneficiar mais do que o dos homens do exercício físico. Já de atividades cognitivas, tanto homens como mulheres, beneficiam.

"Descobrimos que uma maior atividade física estava associada a uma maior capacidade de pensamento em mulheres, mas não em homens", afirmou a autora do estudo Judy Pa, professora de neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, em San Diego, num comunicado divulgado, cita do CNN Internacional.

Neste estudo participaram 758 pessoas, com uma média de idades de 76 anos. Alguns participantes mostraram ter sinais de défice cognitivo e demência, enquanto outros não tinham qualquer problema associado. Todos foram questionados pelas atividades físicas e cognitivas semanais que praticavam e fizeram testes de memória e de raciocínio.

A prática de exercício físico em representou "cerca de 2,75 anos a menos no envelhecimento cognitivo em mulheres", segundo Richard Isaacson, diretor da Clínica de Prevenção de Alzheimer no Centro de Saúde do Cérebro do Schmidt College da Florida Atlantic University.

Atividades como aulas, jogar cartas ou ler diminuiu a perda de raciocínio, em média, 13 anos - 17 anos nos homens e 10 anos nas mulheres, segundo o estudo.

Esta ideia levou a responsável do estudo a concluir que, havendo poucos ou nenhuns tratamentos eficazes para a doença de Alzheimer, a prevenção é crucial.

"Saber que as pessoas podem melhorar as reservas cognitivas através de medidas simples, como ir às aulas numa universidade sénior ou centro de dia, jogar bingo com os amigos ou passar mais tempo a caminhar ou a cuidar do jardim é muito entusiasmante", disse Judy Pa.

Ainda assim, este estudo tem limitações, por exemplo, não controlou fatores como a educação, que afeta a forma como o cérebro envelhece. Isaacson explica que o exercício físico e o exercício da mente foram o foco deste estudo, no entanto uma "abordagem abrangente para reduzir os fatores de risco de Alzheimer é a melhor receita para o sucesso".

Para além disso, qualquer plano de prevenção deve também incluir acompanhamento regular de um médico de cuidados primários, o controlo de fatores de risco, como tensão arterial, açúcar no sangue e colesterol, evitar fumar, minimizar o consumo de álcool, priorizar o sono, controlar o stress e seguir uma dieta equilibrada", acrescentou.

Quanto ao impacto do exercício físico e das atividades cognitivas na memória, o estudo não encontrou nenhum impacto significativo. Ou seja, uma maior ou menor atividade física, por exemplo, não foi associada à perda ou não da memória em homens ou mulheres.

Estudo revela que somos um país cada vez mais envelhecido com maior desigualdade

Arlinda Brandão, in RTP

A Fundação Francisco Manuel dos Santos esteve a comparar os municípios portugueses em matéria de bem-estar de desigualdade social e concluiu em quase um terço dos municípios de Portugal mais de metade das famílias são pobres e há mais idosos do que crianças em 96% dos concelhos do país.Estas são duas das muitas conclusões de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos que caracteriza perfis de bem-estar e de desigualdade social nos vários concelhos portugueses. Chama-se «Territórios de Bem-Estar: Assimetrias nos municípios portugueses».

Os municípios que mais perderam população jovem são os que têm rendimentos mais baixos e a qualidade do ambiente é um dos traços mais valorizados nas apreciações de bem-estar. Estas são outras conclusões do estudo onde também se diz que o equilíbrio entre trabalho e vida familiar é muito valorizado pelos portugueses nas apreciações de bem-estar.

Este estudo mostra que são vários os desafios para melhorar as condições de vida e de bem-estar das populações, que está dependente das oportunidades e condições de emprego, acesso à habitação, à saúde ou à segurança, oferta de bons ou maus transportes.

As principais conclusões permitem mostrar caminhos aos decisores para reduzir o fosso entre os municípios do litoral e do interior do país.

A noção de bem-estar não significa o mesmo para todas as pessoas, nem em todos os lugares.

Mas o que contribui para o bem-estar dos cidadãos?

Foi a esta questão que os investigadores quiseram responder e que permitiu concluir neste Estudo que as pessoas apresentam condições devida e de participação social muito desiguais nos municípios portugueses.

E que há vantagens e desvantagens em viver nos municípios do litoral ou do interior do país. Isto porque a perceção de bem-estar é influenciada não só por critérios ligados à capacidade económica da população, como o acesso ao emprego ou a bons salários, que se destacam nos concelhos do litoral; mas também de qualidade de vida, ligados ao ambiente, à família, ao apoio social que no interior são em média melhor.

Os que mais perderam população jovem são os que têm rendimentos mais baixos, o equilíbrio entre trabalho e vida familiar tb é muito valorizado pelos portugueses , são outras conclusões deste estudo abrangente.

A jornalista Arlinda Brandão falou com a coordenadora do Estudo, Rosário Mauritti para perceber como foi feito tendo em conta áreas como a saúde, habitação, trabalho, transportes, educação ou cultura, numa análise comparativa em diferentes territórios de Portugal.

“Liberdade e democracia têm um custo”

Luís Marques Mendes, opinião, in SIC 

No seu habitual espaço de opinião no Jornal da Noite da SIC, o comentador Luís Marques Mendes analisou os novos apoios sociais, a subida das taxas de juro, o debate do Estado da Nação, a queda do PS nas sondagens, os cinco meses de guerra na Ucrânia e as críticas da Rússia a Pedro Abrunhosa.

1500 migrantes desembarcam em Itália

in Euronews

Mais de 1.500 migrantes desembarcaram, este domingo, em Itália em segurança, enquanto os navios das organizações não-governamentais humanitárias Sea-Wacht e SOS MEDITERRANEE resgataram mais de 500 pessoas de embarcações à deriva no Mediterrâneo central.Entre os resgatados estavam uma mulher grávida e um homem com queimaduras graves.

No Twitter, a SOS MEDITERRANEE anunciou ter recolhido das águas do Mediterrâneo 87 pessoas, incluindo 57 menores, com o seu navio humanitário "Ocean Viking". Os migrantes estão agora aos cuidados da Cruz Vermelha Internacional.

"O Sea Watch 3 tem agora 444 pessoas a bordo, resgatadas de quatro barcos sobrelotados", revelou a ONG alemã Sea-Watch International no Twitter. Esperam agora encontrar um porto onde possam desembarcar estas pessoas em segurança.

De acordo com o ACNUR, a agência das Nações Unidas para os refugiados 32.782 migrantes e refugiados chegaram a Itália por mar desde 17 de julho, na sua maioria provenientes do Bangladesh, Egito, Tunísia e Afeganistão.

Mais de 1.200 pessoas terão morrido este ano ao tentarem atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa.

Entretanto, cerca de 900 migrantes, na sua maioria afegãos, paquistaneses, sudaneses, etíopes, somalis, nigerianos, senegaleses e eritreus da Líbia, desembarcaram no sábado na ilha de Lampedusa no sul de Itália. O centro de acolhimento local volta a estar sobrelotado com mais de 1.300 pessoas quando a sua capacidade é para cerca de 350.

PRR para a habitação é "gota de água num oceano"

Filipe Santa-Bárbara, in TSF

Vai o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) resolver os problemas da habitação no país? Foi isso que a TSF foi tentar perceber junto de dois investigadores académicos e especialistas no tema. Teresa Costa Pinto (ISCTE) e Gonçalo Antunes (FCSH/UNL) congratulam-se pelo facto de haver verbas específicas, mas não acreditam que os problemas sejam resolvidos com a "bazuca".

"Gota de água num oceano". As palavras são da investigadora Teresa Costa Pinto, especialista em habitação e estudos urbanos no ISCTE, sobre o modo como as verbas do PRR destinadas à habitação vão ter um impacto no mercado da habitação em Portugal. Já Gonçalo Antunes, também especialista e investigador na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sublinha que o grande problema é estar a "propor políticas de habitação pública" e não "políticas públicas de habitação".

São mais de 2700 milhões de euros que estão destinados a dar um impulso para resolver os problemas da habitação em Portugal, uma grande fatia - de mais de 1200 milhões - é mesmo para o programa de apoio ao acesso à habitação e que visa dar resposta a necessidades básicas numa previsão para 26 mil famílias, um número que hoje já se sabe estar desatualizado.


"Temos um problema demasiado complexo e abrangente para ser resolvido na sua forma cabal por estes programas que estão em cima da mesa", nota Teresa Costa Pinto lembrando que, no caso da habitação pública, "partimos de um patamar muito baixo" de cerca de 2% quando a média da União Europeia está nos 7%.

Destaca a investigadora que, mesmo para chegar a uma fasquia dos 5%, como é o caso da Alemanha, seria necessário "mais de 170 mil fogos", um número que fica bastante acima daquele que está previsto no Plano de Recuperação e Resiliência.

Já Gonçalo Antunes também defende que é necessário um aumento do parque habitacional público, mas nota à TSF que "não será nenhuma panaceia" para solucionar os problemas da habitação, "muito menos todos os problemas".

"Dificilmente irá contribuir para diminuir os preços do mercado, seja na compra ou no arrendamento, como já ouvi dizer alguns responsáveis públicos. O crescimento do parque habitacional público não fará isso porque a dimensão daquilo que está previsto não é suficiente para contrariar as tendências do mercado", vinca o investigador da FCSH que considera "redutor" o modelo de aplicação do PRR por "propor políticas de habitação pública e não propor políticas públicas de habitação".

Mais regulação?

Além das respostas a carências básicas de habitação, há uma verba de 775 milhões de euros a título de empréstimo para "construção e reabilitação para disponibilização do património público devoluto do Estado, com aptidão habitacional, para promoção de arrendamento a preços acessíveis". O que, nos objetivos do governo, se traduz em 6.800 fogos de habitação acessível em todo o país.

Para ambos os investigadores, o número é manifestamente insuficiente. "Um programa destes, que se propõe disponibilizar 6.800 fogos em seis anos para o mercado de arrendamento a custos acessíveis, não creio que possa solucionar este problema que é complexo e de grande abrangência social", começa por notar Teresa Costa Pinto.

A professora do ISCTE realça que "além do problema da provisão pública, nos vários sentidos", é necessário "colocar outras variáveis na equação" que, no seu entender, "passarão muito pela regulação e pela capacidade que o Estado tiver de regular os mecanismos do mercado".

"Para mim, é um bocadinho paradoxal e completamente ausente de sentido ajudar a criar lógicas - e criaram-se lógicas com vários programas e pacotes legislativos - cuja consequência foi a especulação imobiliária e a subida exponencial dos preços e, depois, para tentar colmatar os efeitos colaterais destes mecanismos, o Estado ter de criar apoios para mitigar este problema", nota.

"Conhecemos experiências internacionais que, às vezes, nos parecem radicais e que não defendo que sejam transpostas linearmente para o contexto português, mas pelo menos deveriam desencadear uma reflexão sobre o assunto", destaca a investigadora.

Já Gonçalo Antunes é um pouco mais avesso a essa questão, nomeadamente, quando se fala em congelamento de rendas ou a fixação de tetos máximos. "Tenho de confessar que tenho sempre algum pé atrás relativamente a essas medidas, definir tetos de rendas e outras medidas similares, elas acabam por ser o contrário do mercado e negam a existência do próprio mercado", afirma o professor da Nova.

"É preciso perceber que os próprios tetos de rendas, como o exemplo de Berlim, não são nenhuma solução ou panaceia e acabam por criar outros problemas. Beneficiam uns, por norma aqueles que já estão no mercado, e muitas vezes acabam por prejudicar aqueles que estão à procura de casa", diz o investigador que reconhece que o "mercado deve ter liberdade", ainda que possa ser um pouco mais regulado.

São dois pontos de vista de académicos habituados a tratar o problema da habitação e que não acreditam que o Plano de Recuperação e Resiliência venha resolver o problema. Isto numa altura em que o Executivo tem um compromisso claro inscrito no programa de Governo: "erradicar as principais carências habitacionais identificadas no Levantamento Nacional de Necessidades de Realojamento Habitacional de 2018 até ao 50.º aniversário do 25 de abril, em 2024".

Quase 130 casas de renda acessível em Lisboa entregues esta segunda-feira

in SIC


Estas casas estão localizadas na zona de Entrecampos.

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, entregam esta segunda-feira 128 habitações de renda acessível na zona de Entrecampos.

Este é o primeiro lote concluído e, no total, está prevista a construção de 476 casas em terrenos municipais.

Os apartamentos começaram a ser construídos em 2020, ainda na presidência de Fernando Medina. Este primeiro lote estava avaliado em 14 milhões de euros.




BE critica falta de proteção para migrantes e para o clima

Enzo Santos, in JN

O Bloco de Esquerda esteve esta manhã em Odemira, distrito de Beja, para estar ao lado dos imigrantes que trabalham na agricultura intensiva e "garantem a Portugal que o país funciona e que a agricultura está a funcionar", disse a líder do BE. Discursando na marcha integrada no "Roteiro pela Justiça Climática", Catarina Martins exigiu que as explorações agrícolas que recorrem ao método intensivo e superintensivo sejam submetidas a "avaliações de impacto ambiental" e laboral, que tratem "não só do ambiente, mas também das pessoas".

O BE acusou o Governo de "não mudar nada" para evitar o crescimento das estufas e melhorar os direitos dos trabalhadores e as questões da água e exigiu mais medidas. Porque "sabemos que lutar pelo clima e lutar pelos direitos do trabalho, pelas condições do trabalho, é uma e a mesma coisa", justificou Catarina Martins.

O BE estabeleceu também como objetivo combater "todo o abuso laboral e todo o trabalho forçado" e defendeu que devem ser considerados culpados todos aqueles que lucram com este tipo de práticas.

"Não podemos condenar os trabalhadores a viver em contentores, ou a viver em amontoados em quartos sem condições. As pessoas não podem continuar a pagar tanto para viver tão mal e não podemos ter tanta gente a viver em sítios onde faltam as condições médicas e de educação", disse.

Gestão pública da água

"Se nada for feito e se esta lei não mudar, as estufas vão continuar a aumentar, a água vai ser cada vez menos e os trabalhadores vão continuar a ser explorados", afirmou a coordenadora bloquista, instando o Governo a rever as políticas de gestão da água - ponto que também marcou a agenda da marcha bloquista que decorreu em Odemira, na parte da Costa Vicentina.

O BE bate-se também "para que a água seja gerida de forma pública e não pelos senhores do agro-negócio. Porque é a única forma de ser gerida de uma forma que respeite todas as pessoas e que dê o direito à agua numa altura em que o nosso país sofre tanto com as secas - todo o território nacional esta já em seca", acrescentou Catarina Martins, que discursou "numa das zonas onde a seca é mais visível".

Dirigindo-se aos migrantes presentes, a líder do BE falou em inglês e comprometeu-se a lutar pelos seus direitos.

Desigualdades sociais: em 28% dos concelhos, mais de metade das famílias são pobres

Raquel Albuquerque, in Expresso

Estudo da FFMS mostra como o país é “profundamente assimétrico” nas condições de vida e de bem-estar das populações. Mas as cidades dão menos apoio a quem não tem como viver dignamente. O que mais conta para os portugueses é viver num local com qualidade ambiental, próximo da família ou amigos e com trabalho digno

Em 28% dos municípios do Continente, mais de metade das famílias são pobres. Na sua maioria, esses concelhos encontram-se em territórios de baixa densidade populacional ou intermédia. Mas é nas grandes cidades, densamente povoadas e com menor proximidade entre os moradores, que é “mais duro” ser pobre, conclui um estudo divulgado esta segunda-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) que avaliou o impacto das condições de vida no bem-estar das populações nos diferentes territórios do país.

Em 28% dos municípios do Continente, mais de metade das famílias são pobres. Na sua maioria, esses concelhos encontram-se em territórios de baixa densidade populacional ou intermédia. Mas é nas grandes cidades, densamente povoadas e com menor proximidade entre os moradores, que é “mais duro” ser pobre, conclui um estudo divulgado esta segunda-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) que avaliou o impacto das condições de vida no bem-estar das populações nos diferentes territórios do país.

O estudo “Territórios de bem-estar: assimetrias nos municípios portugueses”, coordenado por Rosário Mauritti, socióloga e professora no ISCTE, aferiu a pobreza por concelho com base no número de famílias que se encontram nos 40% de rendimentos mais baixos, a partir de estatísticas das Finanças, uma vez que os dados oficiais sobre pobreza, calculados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), dão um retrato apenas nacional e por região.

“A concentração da pobreza está muito disseminada nos territórios estruturalmente mais frágeis, sobretudo os de baixa densidade e intermédios. Mas também a encontramos nos territórios inovadores, com maior densidade populacional e recursos. Neles, a pobreza é muito mais dura, porque não existe a teia de apoio que encontramos nos de baixa densidade. Ser pobre, ser velho e viver numa casa sozinho, na cidade, incorpora muito mais desafios do que ter a mesma situação numa comunidade mais pequena”, explica Rosário Mauritti ao Expresso.

Na cidade, a pobreza “é envergonhada e nem sempre reconhecida”, acrescenta a investigadora. “Nos chavões destes territórios, pretende-se promover o concelho como o que acolhe os melhores estudantes ou o que quer ter a melhor capacidade produtiva. Por isso, as manchas de pobreza ficam mal e aparecem apenas referidas na periferia das periferias, nos bairros marcados por forte diversidade étnica, por pessoas desempregadas ou com baixas qualificações.”

Pelo contrário, apesar de as zonas de menor densidade populacional serem mais envelhecidas, terem menos emprego, menor atividade económica e capacidade produtiva, é nelas que se vê “maior mobilização comunitária para mitigar o envelhecimento e a pobreza”. Aliás, o sector do apoio social está entre os que geram mais emprego nas zonas de menor densidade.

Portugal é um “país profundamente assimétrico” nas condições de vida e de bem estar das populações, conclui o estudo, que se baseou num conjunto alargado de indicadores estatísticos por concelho para fazer um retrato detalhado do Continente, agrupando os municípios em cinco grupos distintos com semelhanças entre si.

Designaram-nos por Territórios Industriais em Transição, Territórios Intermédios, Territórios Urbanos em Rede, Territórios Inovadores e Territórios de Baixa Densidade. E podem, daqui em diante, ser usados para ter uma visão das condições de vida e de bem estar dos portugueses, “mais próxima da realidade das suas vidas e produzida com base em estatísticas oficiais”, explica o estudo

Cada vez menos, indicadores como o PIB e o crescimento económico conseguem medir as condições de vida das pessoas nos diferentes territórios. “Percebemos isso sobretudo a partir da crise em 2008 e desde então surgiram mais estudos para medir a felicidade e o bem-estar, mas fazem-no de forma agregada, a nível nacional, e não sobre a realidade concreta das pessoas”, refere a coordenadora.

O QUE É ENTÃO O BEM-ESTAR?

Embora a ideia de bem-estar não signifique o mesmo para todos os portugueses, nem em todos os pontos do país, há algumas perceções comuns. E uma delas é viver num local próximo da família ou de amigos, com uma sensação de pertença. “Os contactos sociais são importantíssimos para os sentimentos de felicidade. Viver sozinho num terceiro andar com problemas de mobilidade e frágeis condições de recursos é ainda mais difícil na cidade”, refere Rosário Mauritti. Contudo, o estudo apurou que em mais de 60% dos municípios, um em cada cinco idosos vive sozinho.

O ambiente do local onde se vive é mesmo o traço mais valorizado, refere o estudo. A qualidade do ar, o espaço para caminhar e a proximidade do mar, de um rio ou da serra estão entre os fatores mais referidos na definição de bem-estar. E, depois do ambiente e dos contactos sociais, está também o trabalho digno, uma realidade “assimétrica” no território e muito associada à valorização do equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar.

Saúde, habitação e educação são três grandes áreas com assimetrias no território. Em zonas mais rurais, associa-se uma fraca mobilidade à ausência de cuidados de saúde especializados. Por outro lado, mais de metade da habitação social está concentrada em sete concelhos, sobretudo urbanos, onde a concentração de população é maior. “Este é outro dilema muito significativo”, refere Rosário Mauritti, lembrando, porém, que a questão da habitação é vivida de forma distinta noutras zonas de menor densidade, onde as aldeias ficaram com muitas casas vazias.

“Outra grande questão é a qualificação da população”, acrescenta a investigadora. “Temos uma população jovem que se está a qualificar, mas a economia não está a mudar ao mesmo ritmo. A incapacidade de reconverter o tecido económico é um dos enormes desafios em Portugal. Todo o país expulsa os jovens para os territórios inovadores, que são poucos e pequenos. E isso sem essa reconversão, isso vai continuar a acontecer.”

Ministra da Justiça destaca “passos significativos” na consolidação da política de protecção da criança

in Expresso das Ilhas

A ministra da Justiça afirmou hoje que Cabo Verde tem dado “passos significativos” na consolidação da sua política de protecção dos direitos da criança, e exortou ao reforço das parcerias permanentes no combate aos crimes cometidos contra as mesmas.

Joana Rosa fez estas afirmações durante a cerimónia de apresentação pública dos resultados da segunda e terceira fases da parceria entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Unicef, realizada na Cidade da Praia, no âmbito da tramitação dos processos da jurisdição de família e menores e de crimes sexuais contra crianças.

Lembrou que a fuga à paternidade, que é um problema recorrente reconhecido pela sociedade e poder político em Cabo Verde, viola direitos fundamentais da criança consagrados no Estatuto da Criança e do Adolescente, nomeadamente o direito de conhecer os progenitores e o direito à convivência familiar.

De acordo com a governante, este fenómeno motiva anualmente centenas de processos judiciais, nomeadamente para efeitos de perfilhação, o que ao seu ver, tem contribuído no aumento das pendências processuais e para a morosidade, incomportáveis com o crescente número de processos de averiguação oficiosa de paternidade, com custos para o Estado e para o sistema judicial.

“É alarmante sabermos uma tendência para aumento de processos judiciais de averiguação oficiosa de paternidade, mas registamos, com satisfação, o impulso do Ministério Público em dar vazão a esses processos. Das estatísticas até 31 de Janeiro de 2021, haviam sido contabilizados 3.169 processos pendentes de averiguação oficiosa de paternidade”, apontou.

A ministra defendeu a necessidade de se apostar na informação jurídica, intensificação da sensibilização da população, criação de mecanismos visando reduzir as desigualdades sociais, empoderar as famílias e criação de mecanismos efectivos de responsabilização.

Salientou, por outro lado, que o projecto concebido entre a PGR e a Unicef tem um valor inqualificável porquanto, admitiu, não é concebível que num país com cerca de meio milhão de pessoas, haja um número significativo de processos de investigação de paternidade.

Por sua vez, o procurador-geral da República, José Luís Landim, enalteceu o interesse do Governo na busca conjunta de soluções para as causas de justiça, nomeadamente a questão da resolução de pendências e da morosidade processual.

“O relato sobre a frequência de crimes sexuais contra crianças impõe que medidas redobradas sejam adoptadas no sentido de proteger esses seres indefesos”, asseverou, realçando que o Ministério Público tem dado atenção especial a este fenómeno e tem sido implacável na perseguição dos crimes contra crianças.

Defendeu, neste sentido, a alocação de mais recursos, dedicação dos magistrados e oficiais de justiça, engajamento dos órgãos da polícia criminal e entre outros no cumprimento dos objectivos do referido projecto.

Por seu turno, o representante da Unicef em Cabo Verde, Steven Corsino, afirmou que Cabo Verde continua a demonstrar através das suas políticas, que a criança é prioridade absoluta no seu desenvolvimento sustentado, de não deixar nenhum para trás.

“Para a Unicef, a equidade significa que todas as crianças têm a oportunidade de desenvolver o seu potencial sem discriminação e preconceito. Temos acompanhado com muita satisfação as iniciativas levadas a cabo pelo Ministério da Justiça considerando a importância da justiça para a paz social”, declarou, garantindo a total disponibilidade da Unicef em continuar a colaborar com Cabo Verde na melhoria e qualidade de respostas aos direitos das crianças.

Crise energética: Bruxelas pede solidariedade, Portugal e Espanha respondem não ao corte de 15% do gás

Susana Frexes, in Expresso

A Comissão Europeia quer que todos os países cortem no consumo de gás e apela à solidariedade dos que estão menos expostos aos fornecimentos russos. Devem estar disponíveis para poupar, mas também partilhar. Portugal e Espanha já disseram que estão contra a proposta. A discussão promete aquecer até à reunião de ministros da Energia da próxima semana

Um corte total do gás russo pode custar uma nova quebra de 1,5% à economia europeia. Um problema que, para a Comissão Europeia, não é apenas dos países dependentes do fornecimento de Moscovo, mas de todos.

"Todos os Estados-membros vão sofrer as consequências", avisa a presidente da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen reconhece que uns países são mais vulneráveis do que outros, mas que os 27, sem exceção, devem avançar com um corte de 15% no consumo de gás, preparando-se para serem também solidários: "é importante que contribuam para a poupança, para o armazenamento e que estejam prontos para partilhar gás com os vizinhos, caso seja necessário".

As opções de partilha "são várias", quer através de gasoduto, quer pela permuta (swap) de contratos, permitindo, por exemplo", que o GNL destinado a um Estado-membro, vá para outro onde é mais necessário".

Bruxelas receia uma disrupção no Mercado Interno provocada pela paragem da indústria europeia, a começar pela alemã. E com o argumento da defesa da economia como um todo, insiste que resolver a escassez energética exige também "solidariedade". Se não for de forma voluntária, então terá de passar por um mecanismo obrigatório.

"A solidariedade energética é um princípio fundamental nos tratados", lembra a alemã. Aponta para a legislação já existente sobre a segurança no abastecimento, "que prevê que os Estados-membros possam contar uns com os outros", e propõe um novo instrumento de emergência, a ser acionado caso a Rússia feche drasticamente a torneira do gás.

Questionada pelo Expresso durante a conferência de imprensa, sobre se este é um apelo direto aos países que, como Portugal, pouco ou nada dependem do gás russo, Von der Leyen preferiu passar a pergunta à sua comissária para a Energia. A estónia Kadri Simson também não respondeu diretamente, recorrendo antes ao caso da Finlândia, que já cortou drasticamente no consumo - é um dos países afetados pelos cortes da Rússia - deixando aos restantes um recado: evitar o pior cenário depende "do espírito de solidariedade".

PENÍNSULA IBÉRICA JÁ DISSE NÃO

Mas a proposta não caiu bem na Península Ibérica. Portugal já disse que é "completamente contra". E Espanha também. O secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba, compreende que "há países que não se protegeram e agora pedem ajuda" mas critica a Comissão Europeia por desenhar uma proposta "insustentável", que obriga o país a ficar sem eletricidade.

Também a ministra da Transição Ecológica de Espanha, Teresa Ribera, dispara para Bruxelas recusando "assumir um sacrifício". "Ao contrário de outros países, nós, espanhóis, não vivemos acima das nossas possibilidades do ponto de vista energético", atira. Declarações a fazer lembrar outras, feitas noutros tempos por países mais a norte sobre os do sul, durante a crise da dívida soberana e da troika.

Para Ribera, a solidariedade não passa pelo corte, mas está disposta a disponibilizar infra-estruturas. "A nossa solidariedade é muito mais útil se pudermos utilizar as nossas infra-estruturas para fornecer gás ao resto da Europa, mas não à custa dos consumidores domésticos e industriais que pagam contas muito elevadas há muito tempo", afirmou.

Os dois países obtiveram recentemente a luz verde da Comissão à chamada exceção ibérica. Um mecanismo temporário que lhes permite limitar o preço do gás que alimenta as centrais, levando a uma redução na factura de electricidade das famílias.

A discussão promete continuar a aquecer até terça-feira, dia em que está previsto um conselho extraordinário de energia, que deveria servir para dar o primeiro aval à proposta da Comissão Europeia, antes das férias de verão. Os países terão, em particular, de chegar a acordo sobre a parte legislativa da proposta que prevê - em caso de "alerta da União" - uma redução obrigatória da procura de gás a todos os Estados-membros. Uma redução que seria imposta pela Comissão, em caso de escassez severa.

SOLIDARIEDADE EM RISCO

É um conceito fundamental da União Europeia, várias vezes vezes evocada - e também criticada - das crises migratórias e dos refugiados, à economia ou mais recentemente ao embargo ao petróleo russo, contra o qual esteve a Hungria e que, graças à solidariedade e compreensão dos restantes, vai poder continuar a importar petróleo russo.

Esta quarta-feira, a solidariedade voltou a ser lembrada por Ursula von der Leyen e pelos três comissários que a acompanharam na Conferência de Imprensa. Não foi por acaso que lembrou a recente partilha de vacinas contra a covid - considerada um caso de sucesso da coordenação europeia - mas também o pacote de recuperação de 800 mil milhões de euros - a chamada bazuca europeia - com milhões de euros a fundo perdido a serem canalizados para os países mais afetados pela pandemia.

A crise energética promete reabrir a discussão norte-sul, com uma nova solidariedade a ser pedida para países como a Alemanha, Polónia, Letónia, Finlândia e outros expostos aos cortes no abastecimento russo.

21.7.22

Primeiro-ministro promete mais medidas de apoio para famílias e empresas em setembro

in SIC 

António Costa afirmou no discurso sobre o Estado da Nação que o Governo vai adotar um novo pacote de medidas para fazer face aos efeitos da inflação.

O primeiro-ministro anunciou, esta quarta-feira no Parlamento, que em setembro o Governo vai adotar um novo pacote de medidas para apoiar o rendimento das famílias e a atividade das empresas face aos efeitos da inflação.

Esta linha de ação do executivo foi transmitida por António Costa no seu discurso que abriu o debate sobre o Estado da Nação na Assembleia da República.

“É hoje claro que, com o prolongar da guerra, o efeito da inflação será mais duradouro do que o inicialmente previsto. Por isso, no final deste trimestre, em setembro, iremos adotar um novo pacote de medidas para apoiar o rendimento das famílias e a atividade das empresas”, declarou o líder do Executivo.

Antes do debate começar, o primeiro-ministro deslocou-se à bancada do PSD para cumprimentar o ex-presidente social-democrata, Rui Rio.

A parte inicial do discurso do primeiro-ministro foi dedicada às consequências da conjuntura internacional na economia portuguesa, salientando que “do estado de pandemia” da covid-19 se passou “ao estado de guerra” e advogando que “Portugal reagiu de imediato com a condenação da invasão Russa e no apoio à Ucrânia”.

“Todos sabemos que os efeitos da guerra não se contêm nas fronteiras da Ucrânia. Têm um efeito global e têm um efeito em Portugal - efeito que se traduz, desde logo, num brutal aumento da inflação, impulsionado pelo custo das importações, em particular da energia”, assinalou.

De acordo com o líder do Executivo, a resposta tem passado pela tentativa de contenção do aumento do preço da energia “na medida do possível”, pelo apoio à produção das empresas mais expostas ao consumo de energia e pela atribuição de auxílios às famílias mais carenciadas.

Na sua perspetiva, como resultado das medidas adotadas, houve uma “redução de 3,7% do preço da eletricidade para as famílias no mercado regulado; redução de 18 pontos percentuais da carga fiscal sobre os combustíveis, permitindo uma poupança de 16 euros num depósito de 50 litros de gasolina ou 14 euros num depósito de gasóleo; e uma redução do impacto da subida do preço do gás na produção de eletricidade no mercado spot, com uma poupança média diária neste primeiro mês de aplicação de 18%”.



Depois de dois anos de restrições, esperados mais emigrantes em Portugal no Verão

in Público

Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafofo, espera que “possam perspectivar em Portugal uma oportunidade de investir”. Associação Cap Magellan tem previstas várias acções de acolhimento e esclarecimento em três pontos da fronteira portuguesa: Vilar Formoso, Vila Nova de Raia e Valença.

Após dois anos de restrições impostas pela pandemia de covid-19, é esperada uma forte presença de emigrantes em Portugal nestas férias de Verão, o que é motivo de regozijo, mas também de preocupações com a segurança rodoviária.

“Teremos este ano uma presença significativa, após dois anos de pandemia, em que as viagens tiveram restrições e as próprias pessoas acabaram por não se deslocar tanto como habitualmente faziam”, disse à agência Lusa o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafofo.

E adiantou: “Será um ano em cheio para Portugal acolher de braços abertos os portugueses e portuguesas que estão no mundo”.

Para Paulo Cafofo é grande a expectativa em relação à presença de emigrantes portugueses e luso-descendentes em Portugal nestas férias, restabelecendo assim uma ligação física ao país que a pandemia interrompeu. “Desejamos um regresso com boa energia, que tragam não só o seu exemplo daquilo que nos dão enquanto inspiração de quem vence na vida com muito empreendedorismo e coragem, mas também tragam investimentos”, referiu. “Também é um dos nossos objectivos que estes portugueses mantenham a ligação com o país, com as visitas, a deslocação, mas também que possam perspectivar em Portugal uma oportunidade de investir, de realizar sonhos e, por isso, esperamos que venham em segurança”, adiantou.

Paulo Cafofo, que estará na fronteira de Vilar Formoso no próximo dia 30, numa sessão de boas-vindas aos emigrantes portugueses, alertou para a necessidade de as viagens serem feitas em segurança, de modo a que este seja um regresso “em alegria”.

Especialmente atenta a este regresso rodoviário, a associação Cap Magellan tem previstas várias acções de acolhimento e esclarecimento em três pontos da fronteira portuguesa: Vilar Formoso, Vila Nova de Raia e Valença.

A Cap Magellan, uma associação de jovens lusófonos da Europa, que promove a língua portuguesa, a cultura lusófona e acções de cidadania, promove este ano a 20ª edição da campanha de segurança rodoviária que visa alertar para os perigos das longas viagens, como a fadiga e o excesso de velocidade.

Gabriela Vieira, coordenadora desta campanha de segurança rodoviária, explicou à Lusa que são esperados muitos emigrantes portugueses nas estradas portuguesas, rumo a Portugal.

Este ano, disse, o lema da campanha é “Vamos salvar vidas” e Gabriela Vieira está certa que esta recepção aos portugueses que vivem no estrangeiro ajuda nesse propósito.

Nestes três locais os voluntários da Cap Magellan irão distribuir sacos com ofertas e lembrar mais uma vez que é preciso fazer uma pausa na condução de duas em duas horas.

“O emigrante quer chegar a casa o mais depressa possível, mas é preciso parar e descansar, ainda mais com os fogos que assolam muitos dos países que atravessam”, referiu.

Uma parte significativa dos 169 milhões de trabalhadores migrantes está envolvida em “trabalhos sujos, perigosos e exigentes”, alerta a OMS

in Expresso

Refugiados e migrantes compõem cerca de um oitavo da população mundial - cerca de mil milhões de pessoas - e "são muitas vezes os membros mais vulneráveis e esquecidos das suas sociedades", salientou o diretor-geral da OMS, no lançamento hoje do primeiro relatório da organização sobre esta matéria


Milhões de refugiados e migrantes correm maior risco de ter pior saúde do que as comunidades de acolhimento, alerta um novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), que apela aos sistemas de saúde para integrarem estes grupos.

Refugiados e migrantes compõem cerca de um oitavo da população mundial - cerca de mil milhões de pessoas - e "são muitas vezes os membros mais vulneráveis e esquecidos das suas sociedades", salientou o diretor-geral da OMS, no lançamento hoje do primeiro relatório da organização sobre esta matéria.

O documento sobre as condições de saúde de refugiados e migrantes "mostra a necessidade urgente de abordar as causas dos problemas de saúde (nestes grupos) e de reorientar radicalmente os sistemas de saúde para responder a um mundo cada vez mais móvel", acrescentou Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O relatório sublinha que, embora os refugiados e os migrantes sejam mais vulneráveis, não são grupos inerentemente "menos saudáveis" do que os das populações que os acolhem: são as circunstâncias como os rendimentos mais baixos, os problemas de habitação, as barreiras culturais ou linguísticas que os colocam em maior risco.

Neste sentido, os trabalhadores migrantes tendem a utilizar os sistemas de saúde menos do que as populações locais, e estão em maior risco de sofrer acidentes de trabalho, de acordo com o estudo, segundo o qual uma boa parte deste grupo está empregada em condições pouco saudáveis, de risco e de maior exigência.

Os dados mostraram que uma parte significativa dos 169 milhões de trabalhadores migrantes em todo o mundo está envolvida em “trabalhos sujos, perigosos e exigentes” e correm maior risco de acidentes de trabalho, lesões e problemas de saúde relacionados ao trabalho do que seus colegas não migrantes.

O relatório inclui dados gerais sobre a saúde destes grupos e, neste sentido, indica que as estatísticas relativas aos refugiados e migrantes estão muito fragmentadas, para além de serem difíceis de comparar entre países e anos, razão pela qual a OMS também exige uma recolha mais sistemática de informação a nível nacional.

"A saúde não começa nem termina numa fronteira, pelo que o estatuto dos migrantes não deve ser um fator de discriminação, mas um motor político para a construção da saúde, proteção social e financeira", apelou Santino Severoni, diretor do programa de saúde e migração da OMS.

Os portugueses gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde

Henrique Raposo, opinião, in Expresso

Os portugueses, enquanto povo, gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde. Como é que se governa um país com este nível de irracionalidade? Quantos seguros de saúde, quantas propinas de colégios ou faculdade, quantas bilhas de gás para os dias frios, quantas refeições saudáveis não estão naqueles 1718 milhões queimados na raspadinha pelos mais pobres?

Estado da nação? Claro que muito do que está errado parte da governação socialista, que tem sido dominante desde 1995. Há uma ideia de Estado e de sociedade – a ideia socialista – que está na base da nossa decadência e do constante empobrecimento neste século. É o socialismo que cria os tais “problemas estruturais” que o PS não resolve porque a sua solução implica a negação do PS. Mas há outro tipo de problemas, problemas orgânicos, culturais, que estão na mentalidade dos portugueses – uma mentalidade de pobreza que cria ainda mais pobreza.

A raspadinha é uma doença social e económica neste país porque vicia os pobres num nível de jogo sem precedentes. A Dona Maria não vai ao casino ou a uma sala de batota jogar com os homens, mas vai à papelaria ou ao café torrar a reforma em raspadinhas. O caso está amplamente estudado e é de facto uma vergonha que a Santa Casa e o Estado usem a psique da pobreza que procura estímulos imediatos que dão conforto, daí a relação entre pobreza e obesidade, daí a relação entre pobreza e aquele gesto frenético de raspar a raspadinha. Seja como for, com ou sem psique da pobreza que debilita o livre arbítrio e a racionalidade das escolhas, o certo é que os portugueses gastam milhões em raspadinhas. Em 2020, gastaram 4,7 milhões de euros por dia em raspadinhas, o que dá o incrível valor de mil milhões e setecentos e dezoito milhões. Para termos a noção desta irracionalidade dos mais pobres (que devia ser mitigada e não explorada), convém registar que os portugueses gastam mil milhões em seguros de saúde privados.

Ou seja, os portugueses, enquanto povo, gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde. Como é que se governa um país com este nível de irracionalidade? Quantos seguros de saúde, quantas propinas de colégios ou faculdade, quantas bilhas de gás para os dias frios, quantas refeições saudáveis não estão naqueles 1718 milhões queimados na raspadinha pelos mais pobres? Pior: como é que o Estado e a Santa Casa exploram esta irracionalidade em vez de a travar?

Claro que estamos a falar de dois agregados populacionais diferentes. Os seguros de saúde pertencem à classe média que consegue pensar racionalmente a sua vida; o grupo da raspadinha representa a pobreza sem qualquer esperança e mergulhada naquele vórtice da miséria. E este é talvez o grande problema: o socialismo que nos apascenta tem criado pobreza, empobrecimento e sobretudo esta cultura de desesperança nos mais pobres, que acabam por ter no gesto de raspar a raspadinha a sua grande esperança de um futuro melhor.

20.7.22

Um país mais desigual mas com novas oportunidades, apesar da incerteza

Leonete Botelho, in Público

Este é um ano atípico em que, em Portugal, se conjuga um enorme crescimento económico alavancado por um envelope financeiro único com deficiências estruturais agravadas pela pandemia e desafios globais de evolução imprevisível devido à guerra. Relatório do ISCTE traça o estado da nação e olha para a recuperação em tempos de incerteza.

A boa notícia deste ano para Portugal é o crescimento recorde da economia. Num clima de incerteza global, somos um dos países da União Europeia que melhor está a resistir ao impacto provocado pela guerra na Ucrânia e o aumento dos preços, ainda que a recuperação económica seja quase uma certeza a nível mundial, depois da contracção histórica da economia global. Mas quem cá vive sabe como os problemas estruturais são persistentes e que, apesar dos progressos das últimas décadas, a pandemia deixou à vista, quando não agravou, as desigualdades sociais e as assimetrias territoriais. Em particular no acesso à saúde, à educação e à habitação, assim como as falhas de cobertura da protecção social e dos direitos laborais, que acentuaram os efeitos da crise em alguns segmentos da população.

É sobre esta conjuntura de desafios e oportunidades que trata o retrato do estado da nação e das políticas públicas elaborado este ano pelo Instituto para as Políticas Públicas e Sociais (IPPS-ISCTE). No relatório Recuperação em Tempos de Incerteza, porém, os investigadores coordenados por Ricardo Paes Mamede, não traçam apenas um diagnóstico de pontos fracos e algumas vantagens competitivas do país: deixam também pistas consistentes de como trilhar terras em brasa sem perder o pé.

Enquanto economista, Ricardo Paes Mamede valoriza muito o tema das agendas mobilizadoras lançado pelo Governo para concretizar uma grande fatia do Plano de Recuperação e Resiliência, de cujos apoios vão beneficiar, para já, 51 consórcios de empresas, que se propõem assegurar 83% dos 7572 milhões de euros a fundo perdido do PRR. Mas o coordenador deste trabalho deixa um alerta: “O sucesso das economias depende mais do sistema produtivo do que de algumas empresas: o que é fundamental é dar apoio a projectos de desenvolvimento.”

Esses projectos devem ter em conta as novas dinâmicas económicas para dar resposta, por exemplo, às dificuldades no abastecimento de matérias-primas, bens intermédios e produtos finais de importância estratégica sentidas na pandemia e agravadas pela guerra na Ucrânia. Tanto mais que, como é evidenciado no relatório, “acentuaram-se tendências anteriores de reorganização das redes internacionais de produção, com algumas actividades a privilegiar lógicas mais regionais (e menos globais) nas cadeias de abastecimento”.

“Temos novas oportunidades de atracção de investimento, mas o nosso problema é garantir que o investimento que atraímos é aquele de que mais precisamos”, sublinha Paes Mamede, sustentando que “só se deve privilegiar o investimento qualificado”, dando oportunidade aos centros tecnológicos de “dar um salto qualitativo” e garantindo que “as pequenas e médias empresas sejam capazes de aproveitar a presença das multinacionais para entrar nas cadeias de produção global”.

Por outro lado, sustenta que o desenvolvimento de que Portugal carece hoje é sobretudo “um desenvolvimento inclusivo, pois a pandemia veio tornar claro que há segmentos da população que ficaram mais trás”, pelo que o crescimento económico actual é “uma oportunidade única para focarmos a nossa atenção” nessas pessoas. De facto, como escreve na introdução do estudo, nos anos da pandemia tornaram-se mais visíveis alguns problemas estruturais da sociedade portuguesa.

Problemas persistentes​

Na saúde, o acesso a consultas médicas continua a ser condicionado pelas capacidades das famílias. Por outro lado, “a mobilização dos serviços de saúde na resposta à covid-19 e as dificuldades de atender a todas as outras necessidades dos utentes acentuaram a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde e a necessidade de repensar os recursos que lhe são destinados e o modo como são geridos”, sublinha o relatório.

Na educação, a oferta de ensino e os desempenhos escolares dos alunos são marcados por assimetrias territoriais relevantes. A pandemia pôs também a nu a falta de protecção, no emprego e no desemprego, dos trabalhadores informais e precários, traduzindo-se em níveis elevados de desemprego entre os jovens. Quanto aos idosos, a sua exposição à covid-19 revelou a reduzida cobertura dos cuidados de longo prazo geriátrico, além de ter exposto as insuficiências da rede de lares.

Na habitação, os confinamentos revelaram as más condições em que vivem muitos agregados familiares mais desfavorecidos, e, em simultâneo, o contínuo aumento dos preços das casas nos centros metropolitanos dificultou o acesso à habitação por parte das classes médias. No domínio da mobilidade, os receios de infecção terão afastado muitos cidadãos do uso de transportes públicos, pondo em causa os esforços de redução do peso do transporte individual nas zonas urbanas. Na cultura, acelerou-se a transformação dos padrões de consumo, com os serviços de streaming e outras actividades à distância a ganharem peso face aos eventos presenciais.

Um sector que conquistou enorme relevância na pandemia foi a investigação científica. “A resposta à pandemia convocou a ciência e a tecnologia para o desenvolvimento de novas vacinas, tratamentos e equipamentos, mas também para o esclarecimento das populações e para o planeamento adequado das políticas públicas na resposta aos desafios emergentes, alterando a percepção geral sobre a relevância social dos cientistas e das instituições de investigação”, lê-se no relatório. Que recomenda “um apoio político mais significativo ao investimento na ciência”.

Apesar de tudo, Paes Mamede faz questão de sublinhar que os problemas estruturais do país são, por definição, persistentes, e que “a evolução tem sido moderadamente positiva ao longo das últimas décadas”, sobretudo na saúde, educação e protecção social. E frisa a palavra décadas, para evidenciar que essas políticas públicas não são exclusivas de governos concretos: “Houve um consenso nos diferentes governos face a estas políticas, que depois têm tradução ao nível económico.” Ou seja, as políticas sociais traduzem-se em mais-valias para o país.