Pela primeira vez nas Conferências do Estoril, os temas de Saúde ganham protagonismo. Helena Canhão, diretora da Nova Medical School, explica que os problemas emergentes do mundo se ligam à Saúde.
Tem da Medicina uma visão abrangente, que a põe em relação com as ciências sociais e humanas, com a política e com a comunicação. Helena Canhão, diretora da Nova Medical School, professora catedrática de Medicina, é ela própria uma boa comunicadora, que, em poucos minutos, conta a história fascinante da sua escola, até há bem pouco tempo designada Faculdade de Ciências Médicas. Uma história que inclui o Vasquinho da Anatomia a confundir os mestres com o esternocleidomastoideo, no filme “A Canção de Lisboa”. Mas, tal como é ciosa deste passado, Helena Canhão encara com o mesmo entusiasmo os desafios que o futuro coloca às profissões na área da Saúde. Especializada em Reumatologia, é também dirigente e responsável médica pela Patient Innovation, organismo que premeia as iniciativas inovadoras em benefício de doentes e cuidadores, como se verá durante esta 8a.ª edição das Conferências do Estoril.
O que levou a Nova Medical School a associar-se às Conferências do Estoril? Na verdade, estamos habituados a que as questões relacionadas com a saúde sejam tratadas em congressos médicos, com pouca relação com a economia, a política ou as artes, como aqui parece ser o objetivo.
Antes de mais, a localização. Na verdade, ainda estamos em Lisboa, no edifício onde sempre estivemos, mas esperamos mudar-nos em breve para Carcavelos, onde ficaremos junto ao campus da Nova SBE. Mas, claro, também é muito importante o facto de estas Conferências serem muito reconhecidas nacional e internacionalmente. Em meu entender, este ano ainda faz mais sentido promovermos esta associação porque o tema é a reumanização da sociedade — e isso tem tudo a ver com a área da saúde. Surgimos, pois, como parceiros naturais destas Conferências. Temos de ter em conta que problemas emergentes, como a pobreza e a desigualdade social, têm também consequências ao nível da Saúde.
Mas esses aspetos são geralmente tratados pelas ciências sociais ou pela política…
Sim, mas as condições em que as populações vivem não são indiferentes para a saúde. O mesmo acontece com as alterações climáticas. As pessoas estão efetivamente a morrer de frio e de calor, há dados estatísticos que o comprovam. As epidemias, as pandemias, a resistência a antibióticos — são todos fenómenos novos. Não podemos continuar a trabalhar estes temas em caixinhas demasiado técnicas.
“As pessoas conseguem viver hoje com doenças que antes eram letais”
Outro tema relevante é o do envelhecimento. Pela primeira vez na História da humanidade, temos alguns milhões de pessoas, em todo o mundo, a atingir uma idade avançada. É um exemplo de um tema social com as tais implicações na Saúde?
É um tema da maior relevância. As pessoas conseguem viver hoje com doenças que antes eram letais e vivem realmente mais tempo, mas temos que estar atentos à sua qualidade de vida. Há uma série de novos problemas que têm de ser equacionados e que nem sequer existiam até aqui. Por outro lado, estas Conferências também estarão muito atentas aos jovens e às questões relacionadas e colocadas pelas novas tecnologias. Queremos lançar pistas e debater o modo como os profissionais de Saúde do futuro vão tratar do mundo, recorrendo precisamente a essas novas ferramentas, tão diferentes das tradicionais, mas sem abdicar da humanização. No fundo, importa perceber como é que vamos ser cada vez melhores educadores, melhores comunicadores ou cuidadores.
Há muito interesse por parte dos estudantes pelas Conferências?
Sim, neste momento em que falamos já temos quase três mil inscritos. Umas largas centenas são estudantes. No caso dos nossos, há várias formas de participação possíveis: alguns integram as equipas médicas que prestam apoio, no local, às Conferências, outros estarão na plateia a lançar perguntas aos convidados. Mas também temos outros no apoio à organização. Isto para além dos muitos que se inscreveram para assistir.
“Espero que nos sintamos inspirados”
Na área da Saúde quais foram os critérios para a escolha dos convidados? Para já temos dois Prémios Nobel…
Procuramos escolher os melhores nas suas áreas, claro, mas também pessoas que sejam boas comunicadoras e que sejam capazes de falar para a comunidade. Por outro lado, procuramos integrar no programa momentos para quebrar o gelo. Temos médicos que fazem performances e que são também músicos. Por outro lado, também vamos ter os prémios da Patient Innovation, que já têm alguns anos e que são um projeto meu e do Professor Pedro Oliveira, ainda antes de sermos ambos diretores das nossas escolas. É um projeto relacionado justamente com as questões da qualidade de vida.
Este prémio tem três vertentes…
Sim, por um lado, distinguimos doentes que trabalham modos de se integrarem melhor na sociedade, não deixando que a doença se torne um estigma ou um modo de isolamento. Também temos prémios para cuidadores ou para colaboradores de empresas que encontram um modo de ajudar uma pessoa com um problema específico.
Vamos imaginar que não está envolvida na organização. Como professora, o que gostaria de encontrar nestas Conferências?
Penso que o ambiente em si é logo muito inspirador. Por isso, o que espero é que, no regresso de férias, possamos sentir-nos mais determinados a introduzir fatores de mudança nas nossas vidas, que possamos perceber como é que podemos sentir-nos mais saudáveis e, logo, tornar o mundo melhor. Por isso, o que espero é que nos sintamos inspirados, ao mesmo tempo que aprendemos muito sobre temas de importância vital para o nosso futuro.
Este artigo faz parte de uma série sobre as Conferências do Estoril, evento de que o Observador é media partner.Resulta de uma parceria com a Nova Medical School, Nova School of Business and Economics e a Câmara Municipal de Cascais. É um conteúdo editorial independente