30.8.23

Que indicadores nos vão dizer (e quando) se os juros continuam a subir?

Sónia M. Lourenço, in Expresso

A 14 de setembro, o conselho do Banco Central Europeu volta a reunir-se para decidir o próximo passo na sua política monetária. Continuar a subir os juros ou fazer uma pausa é a pergunta para um milhão de euros. A resposta depende, em grande medida, dos últimos dados de vários indicadores. O Expresso explica-lhe quais são


Após nove subidas consecutivas das taxas de juro de referência no espaço de cerca de um ano, é grande a expetativa sobre qual será a decisão do conselho do Banco Central Europeu (BCE) na próxima reunião, agendada para o próximo dia 14 de setembro. “Podemos subir ou podemos fazer uma pausa”, apontou Christine Lagarde, presidente da instituição, na conferência de imprensa onde explicou o aumento dos juros decidido em julho. E frisou que a decisão será “dependente dos dados”, tanto para setembro, como para as reuniões seguintes. Ainda assim, no final da semana passada, no simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos, Lagarde frisou que a “guerra” contra a inflação ainda “não está ganha”, apesar “dos progressos que têm sido feitos”. Com este pano de fundo, afinal, quais são os indicadores que nos vão dizer - e quando - se os juros continuam a subir? O Expresso explica-lhe em seis perguntas e respostas quais são os mais importantes e quais as últimas leituras.


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QUANDO SERÁ TOMADA A PRÓXIMA DECISÃO DO BCE SOBRE AS TAXAS DE JURO DE REFERÊNCIA?

A próxima reunião de política monetária do BCE está agendada para 14 de setembro, em Frankfurt. Depois de nove decisões consecutivas de aumento das taxas de juro de referência no espaço de cerca de um ano - as reuniões decorrem com intervalos de seis semanas entre elas - está em cima da mesa uma nova subida ou, em alternativa, fazer um pausa nesta escalada. Na conferência de imprensa no final do último encontro, a 27 de julho, Lagarde salientou que “podemos subir ou podemos fazer uma pausa, e o que for decidido em setembro não é definitivo. Pode variar de uma reunião para outra". E vincou que “estamos deliberadamente dependentes dos dados”.


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QUEM TOMA A DECISÃO DE SUBIR OU NÃO OS JUROS?

A decisão é tomada nas reuniões de política monetária do Conselho do BCE. O Conselho é formado pelos seis membros da comissão executiva da instituição, mais os governadores dos bancos centrais dos países da zona euro. Contudo, nem todos votam em todas as reuniões. Os membros da comissão executiva - Christine Lagarde (presidente), Luis de Guindos (vice-presidente), Frank Elderson, Philip R. Lane, Fabio Panetta, e Isabel Schnabel - têm direito de voto em todos os encontros. Mas, no caso dos governadores dos bancos centras nacionais o exercício desse direito é rotativo, tendo em conta o tamanho das economias e dos sistemas financeiros nacionais. Por causa deste regime, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, não votou na reunião de julho, mas irá votar no encontro de setembro.


3

QUAIS SÃO OS DADOS DE QUE O BCE ESTÁ “DEPENDENTE” NESSA DECISÃO, COMO REFERIU CHRISTINE LAGARDE?

O primeiro e mais importante é o valor da inflação na zona euro, tanto o indicador global, como o indicador subjacente (que exclui os produtos energéticos e alimentares, com preços mais voláteis). Na reunião de 27 de julho, quando foi decidido o último aumento das taxas de juro de referência - em 25 pontos-base -, os últimos dados disponíveis eram os de junho, mês em que a taxa de inflação na zona euro, medida pela variação homóloga do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) tinha descido para os 5,5% (o que comparava com 6,1% em maio). Quanto ao indicador subjacente (excluindo energia, produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco) tinha subido em junho para 5,5%, quando estava nos 5,3% em maio. Valores muito acima da fasquia dos 2% que serve de referência para BCE, e que tem a estabilidade dos preços inscrita no seu mandato.


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JÁ FORAM CONHECIDOS NOVOS VALORES PARA ESTES INDICADORES?

Sim, desde então o Eurostat publicou os dados da inflação na zona euro relativos a julho, que indicam uma nova descida no indicador total, para 5,3%. Contudo, o indicador subjacente (excluindo energia, produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco) manteve-se inalterado nos 5,5%. O BCE e outros bancos centrais dão muita importância a este indicador subjacente, já que sinaliza até que ponto as pressões inflacionistas - que no atual surto começaram na energia e produtos alimentares - se disseminaram pela economia, podendo tornar-se mais persistentes. E a informação disponível para o conselho do BCE não vai ficar por aqui. Esta quinta-feira, 31 de agosto, o Eurostat vai divulgar a estimativa rápida para a inflação na zona euro em agosto, embora o valor definitivo (e os detalhes) só sejam publicados depois da reunião do BCE.


5

O BCE TAMBÉM TEM EM CONTA PREVISÕES PARA A EVOLUÇÃO DA INFLAÇÃO NO FUTURO?

Sim. Na reunião de 14 de setembro serão divulgadas as novas projeções dos especialistas do BCE para a esperada descida da inflação nos próximos meses e anos. Números que irão pesar na decisão do Conselho de voltar a subir, ou não, as taxas de juro de referência. Outro fator que os membros do Conselho terão em conta passa pelas expetativas de inflação na zona euro, sobretudo a médio e longo prazos. Na conferência de imprensa após o encontro de julho, Lagarde destacou que a maioria destas medidas “estão atualmente em torno dos 2%”, mas “alguns indicadores permanecem elevados e precisam de ser monitorizados de perto”. Para avaliar essas expetativas sobre a inflação futura na zona euro, o BCE recorre a ferramentas como o inquérito às expetativas dos consumidores. No inquérito de junho (resultados publicados já em agosto), a mediana dessas expetativas para o valor da inflação nos próximos 12 meses voltou a recuar, para 3,4% (3,9% em maio), e para a inflação nos próximos três anos baixou para 2,3% (2,5% em maio). Novos dados serão divulgados a 5 de setembro, ou seja, ainda antes da reunião de dia 14.


6

HÁ OUTROS INDICADORES A TER EM CONTA?

O BCE presta muita atenção à transmissão das decisões de política monetária - subida das taxas de referência - aos mercados de crédito na zona euro. Uma forma de aferir essa transmissão passa pelos resultados do inquérito ao crédito dos bancos da zona euro. No final de julho, o BCE reportava que os critérios de concessão de crédito apertaram adicionalmente para todas as categorias de empréstimos, e que a procura de crédito diminuiu fortemente, tanto por parte das empresas, como das famílias (esta segunda-feira, por exemplo, o Banco de Portugal deu conta da primeira queda no montante do crédito à habitação em Portugal em quase cinco anos).