31.8.23

s portugueses estão a ler mais e isso deve-se aos jovens: são eles quem mais compra livros em Portugal

Tiago Serra Cunha Jornalista, in Expresso



Menos de dois terços dos portugueses compraram livros no último ano, indica um novo estudo, mas os números estão a subir, principalmente por conta dos jovens, que continuam a impulsionar o setor. Apesar dos indicadores positivos, Portugal mantém-se como o país que menos lê na Europa — ainda assim, os dados permitem “esperança no futuro”, acredita a APEL

Há mais livros a ser comprados em Portugal e os jovens estão a ser os principais responsáveis pelo facto. São melhorias face à tendência negativa apresentada pelos últimos dados sobre o setor, revelam os números de um novo estudo promovido pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e realizado pela GfK. Os dados sobre o “Mercado do Livro e Hábitos de Compra em Portugal”, foram divulgados esta quinta-feira na abertura do Book 2.0, descrito como o maior evento de discussão do futuro dos livros em Portugal e na Europa.


Os números divulgados pela APEL indicam que 62% dos inquiridos compraram livros no último ano — o que corresponde a menos de dois terços dos portugueses. Destes, 70% afirmaram que compraram o mesmo total ou mais livros do que no ano anterior, revelando uma ligeira mudança de hábitos dos portugueses em relação à literatura nos últimos anos: o Inquérito às Práticas Culturais, realizado em 2020 pelo Instituto de Ciências Sociais, indicava que 61% dos portugueses não tinham lido qualquer livro nesse último ano.

Comparando os dados atuais com aqueles pré-pandemia, 68% dos compradores afirmam ter comprado o mesmo número (40%) ou até mais livros (28%).

Os jovens são quem está a impulsionar o setor. Os inquiridos entre os 15 e os 34 anos dizem continuar a ter o hábito de comprar livros, sendo quem mais comprou no último ano (28% do total). Em 2022, as compras pela camada mais jovem subiram 44% face ao período pré-pandemia.

Números que comprovam os dados já avançados pelo Expresso, também da GfK, que indicavam que o mercado livreiro atingiu em 2022 o maior volume de faturação desde que os dados começaram a ser auditados, há 15 anos — e foi mesmo o que mais cresceu na Europa no ano passado — graças às camadas mais jovens, quem mais lê no país.

As comunidades de leitores que foram surgindo em redes como o Instagram ou o TikTok foram alavancando o setor. “Talvez se chegue agora aos livros de forma diferente, por exemplo através das redes sociais, mas a verdade é que a compra, leitura e partilha de livros é agora muito comum entre os jovens, o que é extremamente positivo para o futuro da leitura”, diz o presidente da APEL, Pedro Sobral, sobre esta tendência, citado em comunicado.


Para impulsionar estes números, estão a ser pensadas iniciativas como o cheque-livro, plano de consolidação dos hábitos de leitura desenvolvido pelo ministério da Cultura em conjunto com a APEL.

O Governo quer para pôr os mais novos a ler, ao dar a cada jovem que tenha 18 anos feitos em 2023 a “experiência” de “escolher e comprar” pelo menos um livro (o valor final está ainda por revelar). Há também múltiplos projetos a serem levados a cabo por leitores e criadores de conteúdo na internet, de forma a divulgar o que se publica em Portugal.

O ROMANCE DOMINA UM MERCADO ONDE O LIVRO FÍSICO CONTINUA A REINAR

O romance continua a ser o género literário preferido de quem compra livros (69%), seguindo-se o romance histórico (52%). Os livros infantojuvenis continuam a alimentar 50% das compras efetuadas — este segmento foi o que mais vendeu e, dos 15 livros de ficção de maior sucesso em 2022, 10 são populares entre adolescentes e jovens adultos, tinha noticiado o Expresso.

Os livros físicos continuam a dominar, apesar da prevalência das redes sociais para a sua recomendação. Este é o formato privilegiado por quem compra livros, correspondendo a 99% das compras efetuadas, sobretudo, também, em livrarias e lojas físicas (88%). O digital, no entanto, ganha algum terreno: 8% dos leitores compram livros digitais; 39% compram livros - físicos ou digitais - em lojas online.

CLASSES MAIS BAIXAS CONTINUAM COM BAIXO ACESSO A LIVROS

Os números não são todos positivos. Segundo mostram os dados da GfK, as maiores quebras de compra de livros registadas no último ano registaram-se no Porto (-14%), no Litoral (-10%) e no Interior (-10%). 26% destas quebras verificam-se nas classes sociais mais baixas (classes C e D).

Por outro lado, é nos lares com um status social mais elevado (classes A e B) que são comprados mais livros (42%).

O presidente da APEL refere mesmo, em comunicado, que Portugal mantém-se, apesar de todos os indicadores positivos, o “país com os índices de leitura mais baixos da Europa”. No entanto, Pedro Sobral deposita esperança nos indicadores em subida: “estes números trazem-nos esperança no futuro, fazem-nos acreditar que é possível mudar hábitos para as gerações futuras”, diz, referindo que “o aumento da leitura deve ser transversal a todo o país, independentemente da classe económica ou da região do país, por isso democratizar o acesso ao livro deve ser um imperativo nacional”.

MERCADO VALEU 175 MILHÕES EM 2022

No ano passado, o mercado livreiro português valeu cerca de 175 milhões de euros, com um total de 21.115 livros lançados. É dominado por quatro grupos de livrarias em rede, que detêm 80 lojas, “nove retalhistas multiproduto, correspondentes a 1.200 pontos de venda; oito grupos de grande distribuição, com 1.800 pontos de venda, e quatro livrarias únicas”.

O estudo sobre o “Mercado do Livro e Hábitos de Compra em Portugal” foi realizado pela GfK entre os dias 18 de julho e 10 de agosto de 2023 e conta com uma amostra constituída por 1001 pessoas.