Tiago Correia, opinião, in SIC
Opinião de Tiago Correira. Há uma intensa discussão académica sobre o significado de prestar bons cuidados de saúde. De imediato, pensa-se no ensino de qualidade, na tecnologia de ponta ou em infraestruturas modernas. Tudo isso importa, é certo, mas não é suficiente.
A ligação profissional-doente torna-se central nesta discussão. Não só condiciona a perceção da qualidade dos cuidados prestados, como favorece o melhor diagnóstico e que os doentes façam o que os profissionais consideram apropriado.
Um novo aspeto da ligação profissional-doente tem ganhado relevo: transmitir esperança. Esperança definida como a capacidade em acreditar que um resultado positivo é possível de alcançar.
Não importa qual o resultado em causa, mas sim que um qualquer resultado positivo é estabelecido e que pistas são dadas sobre como o atingir. Entende-se a importância disso, tanto em doenças curáveis e incuráveis, como para crianças e idosos. Levar o doente e a sua família a encontrar uma meta positiva e vê-la a concretizar-se é uma dimensão maior do cuidar.
Transmitir esperança é tão importante aos doentes quanto é aos profissionais.
Aos doentes, porque veem no profissional o rosto capaz de lhes dar alívio perante o sofrimento e a angústia. Afinal, a doença é muito mais do que o efeito de patologias no corpo. Diz respeito às emoções que essas patologias provocam na própria pessoa e nas que a rodeiam. E essas emoções tanto advêm dos significados das doenças como das expectativas sobre o seu impacto no desenrolar ou encurtar da vida.
A SIDA ou as perturbações mentais ilustram emoções espoletadas pelos significados das doenças, por estarem presas a estigmas e preconceitos. Já os tumores ilustram o quanto os diagnósticos suscitam emoções negativas pelo medo do sofrimento e da morte, mesmo que na prática, e felizmente, o avanço científico tenha permitido que assim não seja em tantos casos.
O que estes exemplos mostram, no fundo, é que para entender a doença não é possível dissociar o corpo da mente.
Já aos profissionais, transmitir esperança permite reforçar o elo de confiança e empatia que é tão valorizado por quem cuida. Vários estudos mostram que é graças a este elo que os profissionais, mais ou menos diferenciados, trabalhem indo além das suas obrigações contratuais. O trabalho em saúde tem o potencial de reforçar vínculos humanos.
Os avanços sobre como transmitir esperança em contextos de saúde referem a necessidade de abordar as competências pessoais (soft skills) com a mesma importância e sujeitas ao mesmo grau de rigor como se ensinam competências técnicas e de raciocínio (hard skills). O argumento é simples: não há qualidade na prestação de cuidados sem a qualidade das relações humanas e para que isso aconteça é necessário ensinar nas Universidades e nas formações práticas a atenção para com o outro.
Como é que os profissionais de saúde podem transmitir esperança? Alguns passos mostram o que precisa ser ensinado e valorizado nos contextos de saúde:Entender os objetivos da pessoa doente, ou seja, como vê o seu futuro provável
Compreender o que a pessoa doente valoriza através de objetivos imediatos e mediatos
Discutir os vários objetivos pelo grau de realismo com que podem ser, ou não, alcançáveis e focando o quanto os objetivos mediatos importam menos face a objetivos imediatos
Demonstrar interesse e mobilização para a concretização de objetivos imediatos
Abrir o leque de pessoas mobilizáveis para a concretização de objetivos, criando uma rede de partilha e foco na pessoa vulnerável
Sinalizar todas as conquistas, mudanças ou o percurso feito