24.8.23

Aceitar o envelhecimento como uma fase de vida

Margarida Quinhones, opinião, in Público


O envelhecimento saudável não é apenas sobre manter a mente ativa, mas também sobre cultivar a flexibilidade mental que nos permite abraçar mudanças e desafios com confiança.


O envelhecimento saudável está a tornar-se uma preocupação fundamental para os indivíduos e para as sociedades, e ainda bem, porque é inegável que se vive mais tempo e procuramos que isso aconteça da melhor forma. À medida que a ciência e a medicina progridem, paralelamente com a consciencialização sobre a importância do bem-estar em todas as fases da vida de um ser humano, o paradigma do envelhecimento vai também sendo alterado.


Hoje, mais do que nunca, entendemos que o envelhecimento não precisa ser sinónimo de declínio, embora traga algumas perdas significativas, mas pode ser visto como uma nova etapa da vida, de sabedoria e realização. Envelhecer de forma saudável significa saber fazer escolhas, melhorar hábitos de vida e mudar atitudes que podem e devem moldar os nossos últimos anos.


Na sua essência, o envelhecimento saudável alia bem-estar físico, mental e emocional. É fundamental adotar estilos de vida que alimentem o nosso corpo e o espírito, como ter uma alimentação saudável, manter relações sociais e ter tempo para desenvolver a espiritualidade.

A base de um envelhecimento saudável começa no corpo: a alimentação equilibrada é o primeiro passo que influencia a qualidade da jornada de envelhecimento. Evitar o excesso de açúcares, as gorduras saturadas e alimentos processados pode ser determinante.


Aceitar o envelhecimento como uma fase de vidaO caminho para o envelhecimento saudável não está completo sem a atividade física. A incorporação de exercícios regulares, seja caminhar, nadar, dançar ou praticar qualquer desporto, não só mantém os nossos músculos e ossos fortes, mas também promove a libertação de endorfinas, que têm um impacto direto no nosso bem-estar emocional e previne, ainda, algumas doenças graves.

Além disso, o estimular a mente é uma componente vital neste quadro do envelhecimento saudável. A aprendizagem contínua, a procura por novos desafios cognitivos e a participação em atividades intelectualmente estimulantes são os aspectos que também contribuem de forma determinante. O envelhecimento saudável não é apenas sobre manter a mente ativa, mas também sobre cultivar a flexibilidade mental que nos permite abraçar mudanças e desafios com confiança.

Outro dos aspetos marcantes do envelhecimento saudável é o conjunto de ligações sociais que construímos. Cultivar relacionamentos significativos, passar tempo com entes queridos e construir uma rede de apoio são elementos que trazem significado à nossa vida. As ligações sociais não são apenas mais um componente da vida: são a própria essência da experiência humana.

O conceito de envelhecimento saudável não se deve focar apenas no indivíduo, mas também no ambiente e nos contextos em que vive. As comunidades que priorizam espaços verdes, acessibilidade e inclusão, contribuem para um envelhecimento mais saudável da sua população. As políticas públicas também desempenham um papel crucial na tarefa de criar um ambiente que promova a saúde e o bem-estar das pessoas mais velhas. É importante investir em infra-estruturas adaptadas, cuidados de saúde acessíveis a todos e programas de apoio social adequados.

Veja-se o exemplo das chamadas Blue Zones, regiões do mundo onde as pessoas têm uma longevidade notável e envelhecem com vitalidade. Estes locais representam verdadeiras lições de vida sobre o envelhecimento saudável. Nestas zonas, a ligação com a natureza, a alimentação baseada em plantas cultivadas localmente, o exercício físico diário, o apoio social e um propósito de vida comum são elementos centrais que contribuem para a qualidade de vida excecional das pessoas. Estas comunidades não revelam apenas segredos para uma vida longa e saudável, mas também oferecem uma valiosa perceção sobre como podemos construir uma trajetória de envelhecimento mais ativo e saudável.

Devemos encarar o envelhecimento como uma expressão única de quem somos e do que valorizamos, que reflita o percurso de vida de cada um, como seres únicos e irrepetíveis. Cada escolha que fazemos, cada relacionamento que cultivamos e cada momento que abraçamos deve contribuir para esta construção do envelhecimento, enquanto uma fase de vida que é, e não como um fim de vida.

A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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