in Jornal de Notícias
A questão das alterações climáticas já influencia a ajuda ao desenvolvimento?
Trata-se de uma perspectiva recente.Começou a quebrar-se a barreira entre as organizações de defesa do ambiente e as de promoção do desenvolvimento. A colaboração entre estas duas valências pode ser muito positiva.
A Oikos já adoptou essa perspectiva?
Lançámos há pouco tempo, com a empresa Ecoprogresso, a iniciativa "Carbono contra a Pobreza", que visa a sensibilização para os problemas de regiões que mais podem ser afectadas.Tentamos também que Portugal, no âmbito das compensações de carbono, canalize fundos para a luta contra a pobreza energética. Uma empresa ou uma autarquia pode contribuir para projectos menos dependentes do petróleo ou para planeamento urbano com técnicas de maior resistência ao clima adverso.
A comunidade internacional está a adaptar-se a este critério nas suas ajudas?
Cerca de metade das infra-estruturas públicas com base na cooperação para o desenvolvimento é vulnerável aos rigores climáticos. Pela nossa parte, procuramos influenciar o Governo e a Comissão Europeia para que todas as ajudas sejam "à prova de clima".
As alterações climáticas devem fazer parte das finalidades de ajuda ao desenvolvimento?
Claro. Mas defendo que o investimento seja adicional. De outro modo, corre-se o risco de se ir repartindo o bolo até que não fica nada para o próprio desenvolvimento. O comissário europeu Louis Michel já defendeu a constituição de fundos internacionais com esse fim exclusivo.
Este relatório propõe a transferência de tecnologias limpas e de monitorização meteorológica. Acho isso fundamental, bem como a instalação de sistemas de alerta rápido. Mas preocupa-nos o facto de ter vindo a baixar a ajuda pública ao desenvolvimento. Em Portugal esta cifra-se agora em 0,21% do Rendimento Nacional Bruto, quando o compromisso estabelecia 0,7%.