Bárbara Wong, in Jornal Público
Estão em curso seis projectos de investigação. Objectivo é avançar para o terreno no próximo ano
A Fundação Calouste Gulbenkian está preocupada com os números do insucesso e abandono escolar nacionais. Por isso, a partir de 2008, vai lançar um programa dedicado ao combate ao insucesso, "de forma integrada", anuncia Rui Vilar, presidente da fundação.
A preocupação da Gulbenkian não é nova. Nos últimos anos, as conferências internacionais que promove têm andado à volta deste tema. Tal como ontem e hoje se discute o Sucesso e Insucesso: Escola, Economia e Sociedade.
Em 2005, a fundação seleccionou três projectos de pesquisa educativa, com o objectivo de estudar o problema do insucesso e do abandono. O projecto foi alargado a mais três universidades, o ano passado.
A intenção do novo programa, que terá a duração de seis anos e que será avaliado por entidades externas, é partir da investigação para a sua aplicação nas escolas de ensino básico e secundário. "Queremos lançar um programa integrado, de investigação e que se alia a intervenções no terreno", explica Rui Vilar. O objectivo é "conhecer a complexidade do problema e conseguir diminuir as taxas de abandono e de insucesso", diz.
Para o presidente da Gulbenkian, o Ministério da Educação é "um parceiro indispensável". Ontem, na sessão de abertura da conferência, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues lembrou os vários projectos que o Governo tem posto em prática no sentido de melhorar os resultados dos alunos. A governante referiu a escola a tempo inteiro no 1.º ciclo, a introdução do Inglês, das actividades de enriquecimento curricular, o plano para a Matemática, etc.
Maria de Lurdes Rodrigues lembrou que o "desafio da escola é assegurar a aquisição de um leque de competências", mantendo a qualidade das aprendizagens. Citando os resultados do PISA, o estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que analisa a literacia em ciências, matemática e língua materna dos alunos de 15 anos, a ministra recorda que a origem social e os recursos económicos influenciam o sucesso dos alunos. "A desigualdade social e económica tem maior expressão e são o verdadeiro desafio" para as escolas, declara.
Num dos estudo financiados pela Gulbenkian, a equipa do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa liderada por Madalena Matos analisou seis escolas - duas em pequenos meios do interior; duas em grandes aglomerações urbanas e duas em meios urbanos com níveis de desenvolvimento médio-baixo.
Nas conclusões iniciais, Madalena Matos aponta que na génese do êxito das escolas está a organização, não só administrativa, mas pedagógica. Os problemas para esta organização já são conhecidos: mobilidade dos professores, relação e coerência entre os ciclos e o problema da liderança da escola.
Mas a chave do sucesso também está no interior da cabeça dos alunos, acredita Alexandre Castro Caldas, neurologista ligado à Universidade Católica Portuguesa. Na conferência de abertura, lembrou alguns estudos que revelam que o cérebro se vai modificando à medida que o ser humano cresce. Para isso precisa de "informação", "além de outros nutrientes que lhe chegam pelo sangue". Castro Caldas aconselha que se deve "aproveitar ao máximo" a primeira idade, para estimular o cérebro.
"Queremos lançar um programa integrado, de investigação e que se alia a intervenções no terreno", diz Vilar.