Bárbara Simões, in Jornal Público
Relatório sobre integração de estrangeiros no mercado de trabalho sublinha também necessidade de investir mais na educação das crianças
A Portugal dá muito emprego aos imigrantes. Paga-lhes é menos e ocupa-os em actividades que, em muitos casos, ficam bastante aquém das suas habilitações e competências. E este é um dos aspectos que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) quer ver melhorados, como fica claro num relatório ontem apresentado em Lisboa.
O panorama pode ser traduzido para números. As taxas de actividade dos imigrantes são, no país, superiores às dos cidadãos nacionais. Dados relativos a 2005/2006 mostram que três quartos (75,4 por cento) dos homens estrangeiros estavam a trabalhar, quando os nascidos no país nessa situação não iam além de 73,6 por cento.
Em relação às mulheres, os valores eram de 63,1 (trabalhadoras imigrantes, com aquela que é a percentagem mais alta dos países da OCDE) e 61,8 (nacionais).
Mas, "muito embora grande parte dos imigrantes dos fluxos mais recentes possua qualificações elevadas, o mercado de trabalho português tem proporcionado a inserção laboral em ocupações de baixa qualificação, sobretudo no sector da construção civil", constata a OCDE.
Mais de 80 por cento dos imigrantes da Europa de Leste com habilitações superiores têm trabalhos para os quais estão sobrequalificados, por exemplo. E os estrangeiros ganham, em média, menos 20 por cento do que os portugueses, "que já de si têm salários baixos". Os imigrantes dos PALOP - sobretudo os de Cabo Verde - são particularmente afectados por esta discrepância.
O trabalho da OCDE sobre a integração dos imigrantes no mercado de trabalho em Portugal foi ontem apresentado pelo redactor principal do relatório, Thomas Liebig.
Em termos gerais, e atendendo a que a imigração (especialmente a qualificada e de cidadãos que não falam português) é recente no país, os técnicos da OCDE depararam-se com "resultados favoráveis", que em muitos aspectos ficam bem na comparação internacional.
Acolhimento "exemplar"
São elogiados, entre outros, o enfoque no acolhimento, a cooperação entre organismos e instituições, o papel do Alto-Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural e os Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante.
Para o futuro, Thomas Liebig apontou vários desafios: aproveitar melhor as qualificações dos imigrantes e combater a imigração ilegal, mas também, por exemplo, investir mais na educação dos imigrantes de segunda geração, sub-representados no ensino pré-escolar e a exigir reforço do ensino da língua portuguesa.
O alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rui Marques, tinha já resumido, no início da sessão, as recomendações a reter. E o ensino da língua portuguesa para quem não a tem como língua materna foi confirmado como uma das prioridades para os próximos anos. "Portugal quer ser exemplar no acolhimento aos imigrantes", disse no fim.
O trabalho sobre Portugal insere-se num conjunto de relatórios da OCDE para vários países. Austrália, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha e Suécia foram os primeiros.
A Associação dos Imigrantes dos Açores (AIPA) vai realizar um estudo para diagnosticar a situação laboral e apurar as necessidades de formação dos cerca de 5500 estrangeiros que residem no arquipélago. O trabalho será feito no próximo ano, ao abrigo de um protocolo, ontem assinado, entre a AIPA e a Direcção Regional do Trabalho e Qualificação Profissional.
O presidente da associação, Paulo Mendes, adianta que os imigrantes a viver nos Açores trabalham, na sua maioria, em "áreas muito instáveis" como a construção civil, a restauração e a pesca. Para o sociólogo, o conhecimento da realidade da comunidade imigrante nas ilhas irá contribuir para ultrapassar dificuldades, como vínculos laborais frágeis, incumprimento dos descontos para a Segurança Social pelas entidades empregadoras e necessidades de formação desta população. Lusa