21.11.07

Em Portugal 560 mortes de crianças podiam ser evitadas

Bárbara Wong, in Jornal Público

Relatório analisa segurança infantil em 18 países. Governo precisa de fazer mais, recomenda Aliança Europeia para a Segurança Infantil

28%
das mortes entre as crianças e jovens até aos 20 anos resultam de acidentes que podiam ser evitados através da prevenção


Os acidentes continuam a ser a principal causa de morte de crianças e adolescentes na Europa. Por ano morrem aproximadamente 55 mil europeus com menos de 20 anos em acidentes. Portugal está entre os piores classificados, com 22,16 mortes por cada cem mil habitantes. Abaixo estão Bélgica, Estónia e Grécia.

A análise é feita no relatório sobre Segurança Infantil na Europa, com base em dados de 1998 a 2003. Em 2001, por exemplo, muitas das mortes de crianças e adolescentes em Portugal nesse ano, 560, podiam ter sido evitadas, assim fosse feito um maior investimento na prevenção, alerta o estudo da Aliança Europeia de Segurança Infantil.
O relatório foi feito sob orientação de um grupo de especialistas da Organização Mundial de Saúde, Associação Europeia de Saúde Pública, Unicef e das universidades britânicas de Keel e West of England. E foi apresentado ontem, em Lisboa, no âmbito das celebrações do 15.º aniversário da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI).

"Qual o grau de preocupação de Portugal para com a segurança infantil?", pergunta-se no relatório. A resposta é a classificação de "Mau". Apesar de haver estruturas para trabalhar nesta área, é necessária uma "liderança forte por parte do Governo", diz o relatório. Ou, como reclama a APSI, "Portugal não pode continuar à espera de mais mortes para agir".

Quando é feita a comparação entre os 18 países participantes neste estudo, Portugal é terceiro no ranking das mais altas taxas de mortalidade entre os rapazes e quarto entre as raparigas. Contudo, diz o relatório, 28 por cento das mortes entre crianças e jovens até aos 20 anos resultam de acidentes que podiam ser evitados através da prevenção. O que mais continua a matar no país são os acidentes de viação, seguido dos afogamentos. Segundo a APSI, só este ano já morreram 11 crianças atropeladas e oito afogadas.

Dizem os especialistas europeus que, se forem adoptadas estratégias, é possível prevenir 90 por cento dos acidentes. Fazendo um cálculo de quantas mortes podiam ser evitadas nos 18 países, por comparação com a Suécia (com taxa zero em mortes evitáveis), Portugal poderia ter evitado 560 em 2001, quando foram registadas 731 mortes.

Menos recursos

Há países com valores mais altos, como a Itália (1213 mortes evitáveis, num total de 2030) e a França (1015 em 2122 mortes), mas que têm mais população, analisa Sandra Nascimento. O relatório aponta ainda que os anos de vida perdidos, entre crianças e adolescentes, em consequência dessas mortes prematuras, é de 48,75. "Com a baixa taxa de natalidade e as centenas de vidas de crianças que são ceifadas todos os anos, é preciso criar medidas mais eficazes de prevenção",
defende.

O relatório recomenda que se intervenha, criando programas e promovendo boas práticas, na área da segurança das crianças passageiros e peões e na prevenção dos afogamentos, queimaduras e ingestão de produtos tóxicos.

As crianças estão mais expostas aos acidentes quando são oriundas de famílias com poucos recursos económicos e menos educação, ou quando o Estado não lhes providencia cuidados de saúde primários, refere o estudo. "Estes factores são importantes porque permitem explicar a resposta de Portugal aos acidentes com crianças e jovens", aponta o relatório.

Os pais portugueses são ainda penalizados comparativamente aos europeus porque têm de trabalhar o dobro das horas para conseguirem comprar a cadeirinha para o carro. E um quinto da despesa é em IVA, acrescenta Sandra Nascimento.

O país precisa de investir para que seja criado um ambiente seguro para todas as crianças, recomenda o relatório. Sandra Nascimento lembra a experiência de outros países, onde equipas de saúde visitam as mães e dão conselhos sobre alimentação, higiene e segurança. "A existência de um ambiente seguro é um direito fundamental das crianças", conclui.