27.11.07

Quase 500 jovens foram vítimas de abusos até Junho deste ano

Alexandra Marques, in Jornal de Notícias

A violência sobre os mais novos continua a assumir proporções preocupantes


No primeiro semestre de 2007, 474 crianças e jovens foram atendidos pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) por terem sido submetidos a várias formas de violência. Em casa, na rua ou na escola. Destes, 56% foram alvo de maus tratos psicológicos e físicos e quase 10% submetidos a ameaças e coacção.

Segundo a listagem da APAV, até ao final de Junho, cerca de 8% das crianças e jovens atendidos nos gabinetes da organização, foram vítimas de agressões e de abuso sexual.

Os números tornam-se ainda mais assustadores ao somar-se o total de crimes concretizados contra crianças e jovens desde 2001. Cerca de 5.850 situações assinaladas, a esmagadora maioria dentro da casa onde vivem.

"O ambiente familiar que deveria ser o mais seguro para qualquer criança ou jovem revela-se frequentemente muito perigoso", diz a nota emitida ontem à tarde.

"As crianças e jovens atendidos e apoiados pela APAV foram, na sua maioria, vítimas de crimes no âmbito da violência doméstica (cerca de 5.367 crimes)", refere o texto de suporte às estatísticas.

Preocupante e um dos alertas deixados a pais e educadores em geral é também o fenómeno de crescente expansão dos locais em que os crimes de intimidação ou violência sobre os menores de idade ocorrem.

"Nos últimos anos, tem-se revelado a existência de outras formas de vtimação infantil e juvenil em contextos como a escola, a rua e a Internet", adverte a APAV.

Numa tentativa de diminuir as ocorrências, a APAV lança hoje, numa escola básica de Lisboa, um website que tem por objectivo explicar e prevenir que estas formas de violência.

Site escalonado por idades

O site www.apav.pt/apavj estará disponível a partir de hoje e nele é explicado aos mais novos como devem reagir perante situações constrangedoras e como se podem proteger de ameaças que recebam através da Internet ou através mensagens escritas no telemóvel.

O portal está concebido e a informação é disponibilizada para crianças com menos de oito anos, entre os oito e os 13 e mais idade, aconselhando a melhor forma de denúncia da situação junto de um professor, um amigo mais velho, um familiar ou quem esteja por perto e possa ajudar.

Para o jovem entender se está a ser alvo de chantagem ou de qualquer forma de violência, são relatadas histórias verídicas, já ocorridas, para que seja mais se identificar com a situação.

Também é referida a maneira de procurar ajuda junto dos serviços da APAV - por exemplo pela Internet - sendo por isso um meio interactivo que permite pedir apoio em tempo útil.

O portal, realizado no âmbito do projecto MUSAS II, co-financiado pela Comissão Europeia, contém igualmente uma área dirigida especialmente a pais e educadores, em que se adverte para as consequências da vitimação e se sensibiliza os adultos para esta problemática.

A maioria das vítimas é do sexo feminino


Os dados relativos ao género demonstram que 58% (202) dos menores que foram vítimas de crimes no primeiro semestre de 2007, pertencem ao sexo feminino.

85 vítimas tinham menos de cinco anos de idade Na tabela referente à idade das vítimas, 35 tinham entre zero e três anos e 50 entre quatro e cinco anos. Num total de 346 casos, 100 eram crianças entre os seis e os dez anos e 161 foram jovens entre 11 e 17 anos.

Ligeiro aumento entre 2005 e 2006

A comparação dos números totais de crimes cometidos contra crianças e jovens são elucidativos quanto a um ligeiro aumento ocorrido nos casos atendidos. Registaram-se 522 em 2005 e 560 em 2006.

Violência doméstica encabeça crimes

Os crimes de violência doméstica continuam a ser os que mais vítimas provocam entre os menores. Além dos maus tratos psíquicos e físicos, desta tabela constam os crimes de ameaças e coacção, abuso sexual e violação e outras agressões em meio familiar.

"Bullying" lidera crimes fora de casa da vítima

Até Junho, as ofensas à integridade física e intimidação em meio escolar ou na rua foram os crimes contra menores mais ocorridos fora de casa.