David Pontes, Director adjunto, in Jornal de Notícias
O primeiro-ministro José Sócrates deu sinal de partida para a festa do "euromilhões" do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) 2007/2013, com a atribuição de 35,6 milhões de euros a vários programas. Uma gota de água no total de mil milhões de investimento, que são a última grande tranche de verbas a atribuir pela União Europeia a Portugal. Se o programa se vai tornar num jogo de sorte, em que dificilmente o país ganha o "prémio" de ter o dinheiro bem aplicado na causa da competitividade é o que iremos ver, apesar de José Sócrates ter anunciado que a aplicação das verbas assenta "numa nova visão política", que se traduzirá "num novo ciclo" de apostas.
Discursos como estes já ouvimos em anteriores quadros de apoio comunitários, quando o caudal dos milhões se perdeu em acções de formação inócuas e em investimentos que não chegaram para alterar uma economia muito frágil. O sucesso irá depender da condução política do dossiê, numa fiscalização muito apertada, mas também na necessária convicção, que todos os intervenientes devem ter, de que não haverá outra oportunidade tão boa como esta para nos tentarmos aproximar dos nossos parceiros europeus.
O problema grave é que, apesar de todas as palavras, não se sente a urgência desta atitude. E, no entanto, a situação é grave e nem sequer é preciso estar à espera que se concretize o aviso da SEDES de que "emergirá, mais cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever". O aumento de 40 % de portugueses a trabalhar em Espanha mostra que se está a repetir aquilo que já aconteceu em outros momentos históricos, como na fase final do Estado Novo. Em vez de ficar por cá a tentar contrariar o destino, muitos dos melhores, dos mais activos, preferem emigrar na procura de uma solução e, dessa forma, evitam que a crise rebente em toda a sua dimensão. Somos pouco dados a dar murros na porta, preferimos bater com ela e sair.