Sílvia Maia/Lusa, in Jornal Público
Sérgio Luís faz mais de 30 mil quilómetros por ano: vai a creches, escolas e lares falar sobre HIV. Dez anos depois da primeira palestra, assegura que as dúvidas continuam as mesmas. Num país onde a Educação Sexual ainda não chegou a todos, os jovens ainda perguntam "como se transmite o vírus".
No anfiteatro da Escola Secundária de Vila Nova de Santo André, no Alentejo, o ar despreocupado dos finalistas ali reunidos dá lugar a expressões de choque. Acabam de ouvir que fazem parte do grupo etário responsável por cerca de metade dos novos casos de infecção de HIV em Portugal.
A informação apanha-os de surpresa. Alguns, até então enterrados nas cadeiras, endireitam-se e procuram saber mais sobre o Vírus da Imunodeficiência Humana. "Se for detectado no início, pode ser tratado?", questiona um aluno no meio da plateia. "Como é que nos podemos proteger?", atira quase em simultâneo um colega, logo atropelado por outra pergunta: "Onde é que podemos fazer um teste para saber se estamos infectados?".
O técnico da associação Abraço tem um ranking "preocupante" das principais dúvidas levantadas pelos milhares de jovens que contactou ao longo de uma década. "O que é que significa HIV?" e "Como se transmite o vírus?" continuam no top, diz, preocupado. Perguntas difíceis de aceitar numa altura em que Portugal assinala precisamente 25 anos da detecção do primeiro caso de sida no país.
"Ao contrário dos estudos e relatórios que vão sendo divulgados sobre o conhecimento desta matéria, todos os dias respondo às mesmas perguntas e dúvidas que respondia há exactamente dez anos", alerta, sublinhando que, no que toca a conhecimentos, já não se encontram diferenças entre os jovens do interior e os das grandes cidades. A experiência do técnico é atestada pelas estatísticas, que revelam um paradoxo aparente: a geração que nasceu num mundo com HIV, com acesso à Internet e informação sobre sexualidade e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) é também uma das mais atingidas pelo vírus e responsável por colocar Portugal em segundo lugar entre os países europeus com a maior taxa de mães adolescentes.