Nuno Miguel Ropio, in Jornal de Notícias
Largo da Zona J é dos poucos lugares de convívio num bairro com população de fracos recursos
Falta de limpeza das ruas e pátios, idosos que, à falta de actividades ocupacionais, deambulam por entre os prédios, onde os detritos se acumulam, ou venda de materiais contrafeitos à luz do dia. Estes são apenas exemplos do estado a que chegou o Bairro do Condado, nome com o qual desde 1999 se tenta apagar a anterior denominação de "Zona J", na freguesia de Marvila, Lisboa.
Os habitantes daquele bairro de realojamento social, assinalado como um dos mais problemáticos da capital, dizem-se desamparados tanto pela Segurança Social como pelo poder autárquico lisboeta. Jovens sem qualquer ocupação ou a fragilidade no policiamento devido aos poucos agentes na esquadra da PSP compõem o rol de queixas. "Chega a estar só um agente na esquadra e isto é marginalidade. Dizem que a malta da Zona J é que assalta mas os do bairro do Armador é que fazem confusão", afirma Jorge Figueiredo, de 58 anos, sentado numa das arcadas do edifício da Junta de Freguesia.
"Há muito que se esqueceram de nós. Não limpam nada, os prédios estão uma miséria. Se não for aqui o café não temos nada", diz Eurico Teixeira, reformado, entre um grupo de moradores que se reúne todos as tardes no Largo Batalha de Vasconcelos, local de convívio na Zona J. Queixas a que o próprio presidente da Junta de Freguesia (PS) deu publicamente voz na última semana, aquando da apresentação do primeiro Relatório do Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa.
O estudo assinala Marvila como uma freguesia onde o fenómeno da pobreza tem mais incidência, afectando na maioria idosos, crianças e imigrantes dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que residem habitações sociais superlotadas. Refere ainda que ali a taxa de desemprego é das mais altas da capital.
No rescaldo do relatório elaborado pela Rede Europeia Anti-Pobreza, o CDS-PP irá questionar na Assembleia da República quais as medidas que estão a ser tomadas para combater a pobreza na capital. "Vamos apresentar requerimentos à Câmara Municipal e à Santa Casa para perceber o que estão a fazer e até onde pretendem ir na sua acção", adiantou o deputado do círculo de Lisboa, António Carlos Monteiro, ontem numa visita ao bairro do Condado, após uma reunião com o autarca da freguesia.