José Manuel Rocha, in Jornal Público
Cenário mais complicado nos Estados Unidos da América, com quebra no volume de postos de trabalho, algo que não se via desde Junho de 2003
Um ano de muitas "dificuldades" e com o crescimento económico "abaixo" dos dois por cento é o que prevê o secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) para o conjunto de 30 países que integram o organismo. Angel Gurria confirmou ontem que a organização reviu em baixa muitas das projecções que tinha para este ano.
Numa entrevista à agência de informação económica Bloomberg, Gurria não deu pormenores dos números que foram revistos, mas confirmou que o crescimento esperado para o conjunto dos países da organização não vai atingir os 2,3 por cento, como anteriormente fora avançado. O incremento da riqueza gerada nos 30 países da OCDE será de "menos de dois por cento", referiu o secretário-geral.
Da organização fazem parte 30 países que correspondem às economias mais desenvolvidas do mundo. Por isso, a analista Lena Komileva assinala que "vão longe os dias em que a crise financeira era considerada como um problema exclusivo dos Estados Unidos da América". Para Komileva, a economia norte-americana passou a ser "a draga que arrasta o resto do mundo".
O quadro pintado por Angel Gurria não podia ser mais negro. O responsável da OCDE diz, numa entrevista que concedeu ontem em Oslo, que 2008 "vai ser um ano difícil, de baixo crescimento e com surpresas muito pouco agradáveis". O cenário definitivo será confirmado no próximo dia 20, quando a organização divulgar uma nova bateria de projecções para a economia mundial.
Para o conjunto da economia mundial, o Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento de 4,1 por cento, este ano, mais do dobro do que será a nova projecção dos responsáveis da OCDE. Este número será muito influenciado pelos desempenhos das grandes economias emergentes, especialmentes dos gigantes Índia e China.
O responsável do gabinete económico da organização diz, por seu turno, que não é ainda claro que possa haver uma recessão nos Estados Unidos da América. Embora a economia norte-americana esteja na iminência de uma contracção.
Ontem, por sinal, foi revelado em Washington que o volume de emprego no sector privado caiu em Fevereiro a níveis que já não se viam desde 2003. Cerca de 23 mil postos de trabalho perderam-se no mês passado, após um ganho de mais de 100 mil no primeiro mês do ano. Os 30 economistas que tinham sido contactados pela agência Reuters para avançar uma previsão apontavam para um aumento do emprego em cerca de 30 mil novas admissões.
A revelação deste enfraquecimento do mercado de trabalho nos Estados Unidos produziu impactos negativos na Bolsa de Nova Iorque e afectou o dólar, que registou novo mínimo face ao euro. A moeda única chegou ontem a transaccionar-se a 1,53 dólares por unidade.
A contínua valorização do euro voltou a provocar uma reacção acalorada do Presidente francês, que a incluiu nos quatro grandes "choques" que a economia francesa actualmente enfrenta: preço do petróleo, crise do subprime, preço das matérias-primas e valor do euro.
2,3%
A OCDE previa que o crescimento das economias que integram a organização seria de 2,3 por cento este ano