Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público
A O agravamento inesperado da inflação levou ontem os ministros das Finanças da zona euro e o Banco Central Europeu (BCE) a lançar um alerta aos Governos e sindicatos para travarem uma luta sem tréguas contra a subida dos preços.
Ao mesmo tempo, os 15 ministros reconheceram que as perspectivas de crescimento económico na eurolândia voltaram a deteriorar-se devido à persistência da turbulência financeira, ao euro forte e à previsível entrada dos Estados Unidos em recessão. Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, considerou "provável" que a economia americana já esteja em recessão.
Estes diagnósticos foram feitos durante uma reunião do Eurogrupo, o fórum informal de coordenação das políticas económicas dos países do euro, na Eslovénia, a que se seguiu uma reunião informal dos ministros das Finanças da totalidade da União Europeia, acompanhados dos governadores dos bancos centrais.
"Estamos muito preocupados com o nível da inflação", afirmou Jean-Claude Juncker, ministro das Finanças do Luxemburgo e presidente do Eurogrupo, no final do encontro. À luz dos dados de Março, a inflação atingirá 3,5 por cento este ano na zona euro - quando a Comissão Europeia previa 2,6 por cento -, o que constitui o pior valor dos últimos 16 anos, devido sobretudo à subida dos preços do petróleo e dos produtos alimentares.
Esta situação levou Juncker e Jean-Claude Trichet, presidente do BCE, a lançarem um apelo aos Governos para "fazerem tudo o que estiver ao seu alcance na sua esfera de acção" para evitar "os efeitos secundários" da alta dos preços: nesta perspectiva, a prioridade deverá ser colocada na moderação salarial, na prudência relativamente a aumentos da fiscalidade indirecta e no reforço da concorrência para baixar os preços. "A moderação salarial é necessária hoje para garantir a estabilidade dos preços a médio prazo", frisou Trichet.
Esta mensagem vai ser hoje contestada pelos sindicatos europeus, que esperam reunir, igualmente na Eslovénia, uma manifestação de 30 a 40 mil pessoas de toda a Europa para exigir aumentos salariais e a instituição de salários mínimos em todos os países.
Para Juncker, no entanto, "a inflação também deve preocupar os sindicatos" porque "é o inimigo dos mais fracos (...), dos que não têm poder de compra". A luta contra a subida dos preços "é um combate social", defendeu.
Em paralelo com o aumento da inflação, os ministros reconheceram que o crescimento económico da eurolândia este ano ficará aquém da previsão de 1,8 por cento que foi avançada pela Comissão Europeia em Fevereiro. Apesar disso, o Eurogrupo considerou excessivamente pessimista a previsão de 1,3 por cento que deverá ser brevemente avançada pelo FMI. "Estamos a pensar num cenário melhor para o crescimento da zona euro", frisou Joaquin Almunia, comissário responsável pela Economia e Finanças, que publicará novas previsões a 28 de Abril. Segundo afirmou, o abrandamento da actividade resulta nomeadamente da persistência da turbulência dos mercados financeiros "que estão a durar mais tempo" do que o previsto. "Quanto mais demorarem, maiores serão os riscos de transmissão do impacto da turbulência à economia real", afirmou. Para Almunia, no entanto, os sinais não são todos negativos, já que a actividade industrial se mantém, a confiança persiste na Alemanha e na França (ao contrário da Espanha e da Itália) e o desemprego baixou para 7,1 por cento, o melhor valor dos últimos 15 anos.
Por seu lado, os Vinte e Sete, que se debruçaram sobretudo sobre a resposta europeia à crise do subprime, assumiram o compromisso de reforçar a supervisão financeira, sobretudo dos bancos com actividades em vários países, segundo afirmou Andrej Bajuk, ministro esloveno das Finanças, que presidiu à reunião. O que significa que a ideia de criar uma entidade supervisora única para toda a Europa foi recusada. "Nesta altura, ainda não é um assunto consensual", precisou Bajuk.