Graça Barbosa Ribeiro, in Jornal Público
Mais do que os maus tratos físicos, são os psicológicos que levam as pessoas com mais de 65 anos a pedir ajuda à associação. "São um problema gravíssimo", diz Joana Marques Vidal
A Em 2007, foram 656 as pessoas com mais de 65 anos que recorreram à Associação de Apoio à Vítima (APAV), o que representa um aumento de 20,4 por cento em relação ao ano anterior. Um facto que, na perspectiva da presidente daquela instituição, Joana Marques Vidal, resulta de uma maior consciência dos seus direitos por parte dos idosos que, no capítulo da violência doméstica, se queixam, principalmente, de maus tratos psíquicos.
De acordo com os dados divulgados ao final do dia de ontem, no ano passado foram apresentadas à APAV - com pedido de apoio psicológico ou jurídico - 340 queixas por crimes de maus tratos psíquicos, mais 137 do que no ano anterior. Se juntarmos a estes as queixas por ameaças e coacção (177, mais uma que em 2006) e aquelas que foram feitas por difamação e injúrias (155, contra 112 no ano anterior), verifica-se que não são as agressões corporais, no âmbito doméstico, que mais levam os idosos a pedir ajuda.
"Registámos igualmente um número crescente de queixas por maus tratos físicos [299 no ano passado, mais 45 do que em 2006], mas fica muito claro, nos pedidos de apoio, que os maus tratos psicológicos representam um problema gravíssimo para os idosos portugueses", avalia Joana Marques Vidal. Segundo diz, as pessoas com mais de 65 anos queixam-se, principalmente, de serem insultadas, desvalorizadas e humilhadas pelos familiares. "Chamam-lhes velhos, dizem-lhes que só incomodam, que não valem nada, que mais valia que morressem", exemplifica.
A dirigente da APAV ressalva que o número de pedidos de ajuda registados na associação é inferior ao dos crimes contra idosos que motivaram queixa judicial e, por maioria de razão, aos efectivamente cometidos. E, nessa medida, alerta para a necessidade de dar especial atenção a esta matéria, "produzindo investigação académica que permita conhecer melhor o fenómeno" e, simultaneamente, "aumentando as acções de sensibilização da comunidade para a necessidade de apoiar os mais velhos e de denunciar os crimes que contra estes são cometidos".
Ainda para combater a violência doméstica contra idosos, Joana Marques Vidal defende a generalização de apoio àqueles que cuidam de familiares idosos e que, por falta de condições psicológicas, sociais e materiais, necessitam dessa ajuda.
A presidente da APAV realça, contudo, que não é apenas no âmbito da violência familiar que há motivo de preocupação. No total, e tendo em conta também os crimes contra as pessoas e a humanidade, os crimes contra o património, os crimes contra a vida em sociedade e os crimes rodoviários, foram 1245 as queixas apresentadas por idosos no ano passado (mais 148 do que em 2006).
Em 2005 foram registadas, no total, 802 queixas e não "quase cinco mil" como, por lapso, foi ontem transmitido por alguns órgãos de comunicação social. Aquele número - 4737 - corresponde, sim, ao número de queixas por todo o tipo de crimes, contra idosos, registadas na APAV entre 2000 e 2005, rectificou Joana Marques Vidal.
Mulheres são as principais vítimas
De acordo com dados relativos, apenas, às queixas recebidas na APAV no primeiro semestre de 2006, as vítimas de crimes contra idosos são principalmente mulheres (80 por cento). Já os agressores são, principalmente, homens (73 por cento), "habitualmente casados, muitas vezes com a própria vítima", que "detêm um nível de escolaridade variado, que passa tanto pelo ensino superior (5,9 por cento) como pelo 1.º ciclo (4,09 por cento)", pode ler-se no documento disponível em www.apav.pt.