in Jornal Público
Se há quem saiba como é difícil sair de uma crise que se inicia com o rebentamento de uma bolha nos mercados financeiro e imobiliário são os japoneses. Afinal de contas, foi apenas há sete anos, depois de mais de uma década de crescimento negativo, nulo ou muito lento, que a economia nipónica começou a recuperar. A memória do período que começou com uma descida vertiginosa do preço das acções e das casas, continuou com a crise dos principais bancos e se acentuou com o aparecimento da deflação e consequente estagnação persistente do consumo e do investimento ainda está muito viva entre as famílias, empresas e autoridades.
E agora que no Japão se volta a temer um regresso a um período de crise, no resto do Mundo olha-se para o exemplo nipónico à procura de pistas para evitar também a ocorrência de uma "década perdida" nas economias da Europa e dos Estados Unidos.
No Japão, assim que os mercados entraram em colapso, o banco central demorou a reagir ao nível da política monetária, descendo taxas de forma moderada. Estas acabaram por chegar a zero, iniciando-se depois por parte do banco central a introdução de medidas quantitativas, como a compra de acções e obrigações.
O sector bancário entrou em crise, mas demorou muito a reestruturar-se, resistindo à falência ao longo de vários anos graças a regulares ajudas do Governo. O Estado iniciou ainda um período de realização de grandes obras públicas, que se prolongou por toda a década e que colocou as finanças públicas em situação de acentuado desequilíbrio.
Quais as lições que se retiram da experiência japonesa? Tudo depende de quem olha para o problema. Os mais liberais dizem que a excessiva intervenção estatal deixou que bancos doentes sobrevivessem durante demasiado tempo, atrasando a recuperação. Os neokeynesianos, por seu lado, dizem que a intervenção inicial foi demasiado modesta, permitindo que a economia entrasse numa situação de deflação de que depois não conseguiu sair.
Mas numa coisa todos concordam: a actual actuação das autoridades norte-americanas e europeia, apesar da maior agressividade das autoridades monetárias, em pouco difere da tomada no início dos anos 90 pelo Governo japonês. S.A.