12.4.09

Ameaça de instabilidade a leste ainda por resolver

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Depois das ameaças de colapso no início do ano, tudo parece mais calmo no Leste europeu. Mas os riscos permanecem, avisa o FMI


A Graças à queda do forint nos mercados internacionais, a Hungria tornou-se nos últimos meses, para os países da zona euro e para o Reino Unido, num dos principais destinos turísticos alternativos e num local privilegiado para realizar operações médicas de baixo custo no sector privado. No entanto, para os húngaros, é aqui que acabam as boas notícias, quando se fala do que está a acontecer à sua moeda.

A Hungria, à semelhança do que acontece com outros países do Leste europeu, está, desde o final do ano passado, em permanente risco de entrada em colapso da sua economia. E uma nova queda brusca do forint - que já caiu mais de 25 por cento face ao euro durante o último ano - pode ser o passo que falta para concretizar esse risco.

O maior problema a leste está no elevado nível de endividamento externo que vários países acumularam no decorrer da transição de um regime comunista para uma economia de mercado. Os Estados agravaram a sua dívida para financiar as reformas, os particulares e as empresas recorreram ao crédito para poderem investir e consumir mais e o resultado foi uma subida do défice externo para níveis bastante elevados.
Este fenómeno faz lembrar aquilo que aconteceu em Portugal a partir do momento em que o país decidiu adoptar o euro e as taxas de juro baixaram. A grande diferença, para o Leste europeu, é que a maior parte dos países não tem o euro e ainda está a viver com a sua pequena e frágil moeda. Um problema grave no actual cenário de crise financeira internacional.

Antes da crise, não faltavam bancos e investidores estrangeiros disponíveis para emprestar dinheiro às economias emergentes do Leste europeu. Os empréstimos aos particulares e às empresas eram até feitos em euros ou em francos suíços para que pudessem beneficiar de taxas mais baixas.

Mas a partir do momento em que a confiança desapareceu do mercado de crédito internacional, os países mais endividados e com mais risco foram os primeiros a sentir o aperto no acesso ao crédito. Uma coisa puxa a outra e, no início deste ano, devido a estas dificuldades no acesso ao crédito, as divisas do Leste europeu começaram a perder valor face ao euro. Isto, por sua vez, só piorou a situação, já que os empréstimos contraídos em divisa estrangeira ficaram de repente ainda mais difíceis de pagar.

Foi perante este cenário que seis países - a Hungria, Letónia, Ucrânia, Bielorrússia, Geórgia e Arménia - se viram forçados a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Com os seus empréstimos de emergência, o fundo ajudou a acalmar a situação. Na Hungria, noticiava a Bloomberg na semana passada, os 25 mil milhões de dólares emprestados vão servir para amortizar, até ao final do ano, os empréstimos contraídos no estrangeiro pelo sector público e privado, já que, se o Estado quisesse realizar uma emissão de obrigações do tesouro, pagaria agora juros três vezes mais elevados do que num passado recente.

Há países no Leste onde a situação é mais tranquila do que na Hungria. Checos e polacos, por exemplo, não gostam de ver os seus países serem confundidos com esta crise só porque estão situados no Leste europeu. No entanto, como recordam muitos analistas, mesmo para estes países com melhores indicadores, o risco de contágio (pelas fortes ligações que existem na região) é bastante elevado.

É para fazer face a estas ameaças que os países do G20, reunidos no início do mês em Londres, decidiram reforçar os fundos do FMI de 250 para 750 mil milhões de dólares. Um colapso em países emergentes, especialmente no Leste europeu, é, no meio de uma conjuntura internacional muito difícil para todos, visto como um dos cenários que é preciso por todos os meios afastar.

E, segundo o próprio FMI, mesmo com fundos reforçados, a tarefa não é nada fácil. Num relatório interno produzido por esta instituição e revelado na semana passada pelo Financial Times, avisava-se que as perdas de crédito das subsidiárias de bancos da Europa Ocidental estão a ameaçar iniciar um ciclo vicioso negativo", com "as divisas regionais sob pressão e a tensão a aumentar".

De acordo com os cálculos do Fundo, a região vai ter durante este ano de amortizar 413 mil milhões de dólares de dívida, para além de ter de procurar financiamento para novos défices no valor de 84 mil milhões de dólares. O FMI teme que não seja possível para os países encontrar financiamento no mercado para todas estas necessidades.

A solução, por isso, poderá vir a ter de passar por novos planos de emergência do FMI, que terá agora mais meios para os concretizar. Ainda assim, o Fundo sugere, no mesmo relatório, outro tipo de medida: a fixação das divisas nacionais ao euro. Seria uma forma de - perante a impossibilidade de acelerar a adesão completa destes países à zona euro - de poder ter alguns dos benefícios da moeda única europeia, nomeadamente a sua maior estabilidade perante a crise.