Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
Banco de Portugal prevê que a economia nacional se contraia 3,5% em 2009 e que a recuperação comece em 2010
A economia portuguesa deverá contrair-se 3,5% este ano, sendo que o aspecto mais grave desta recessão é que Portugal só sairá dela quando a Europa recuperar. Ainda assim o BdP acredita que o desemprego não vai disparar.
Não se esperava que o Boletim Económico da Primavera, ontem divulgado pelo Banco de Portugal, incluísse boas notícias, mas as previsões avançadas acabaram por traduzir uma revisão em baixa, face às anteriores projecções, mais forte do que o esperado. Para este ano, o BdP prevê uma recessão de 3,5%, "arrastada" por uma forte quebra do investimento privado (de -14,4%) e das exportações (-14,2%).
"Portugal iniciou no segundo semestre do ano passado um período recessivo que se antevê como o mais profundo e prolongado das últimas décadas", sublinhou ontem Vítor Constâncio. No documento é feita uma comparação com os três períodos recessivos dos últimos 30 anos, além do actual, e a conclusão é a de que nunca antes a economia sofreu uma contracção superior a 1%, nem em nenhum daqueles momentos se verificou a "queda ímpar das exportações e do investimento" que agora se espera.
Um dos aspectos mais graves e incontornáveis desta crise é o facto da economia portuguesa ter de esperar pela retoma europeia para poder iniciar, por sua vez, a sua recuperação. "Para uma economia da nossa dimensão, a recuperação tem de começar pelas exportações e prosseguir com base no investimento", acentuou o governador do BdP, sendo que o aumento da procura externa está dependente do que for acontecendo pela Europa, que absorve mais de 80% das nossas exportações.
Outra previsão ontem divulgada pelo BdP que foi além do esperado foi a da inflação, sendo que esta instituição antecipa que os preços caiam -0,2% em 2009. Esta previsão de inflação, aliada à descida das taxas de juro e aos aumentos salariais farão com que, em média, os portugueses beneficiem este ano de um aumento real de 2% do rendimento disponível.
Este "desafogo" financeiro (sentido por quem mantiver o emprego) não será, no entanto, canalizado para consumo, mas para poupança, prevendo o BdP uma "forte subida" da taxa de poupança (de 6,2% para 9% do rendimento disponível). Uma "atitude de receio e incerteza face ao futuro" traduzir-se-á num adiamento e elevada redução dos gastos principalmente com bens duradouros (como automóveis) e não duradouros. Esta atitude justifica, assim, a contracção de 0,9% do consumo privado. A nota positiva é o impacto que isto terá na redução das importações e também do défice externo.
Apesar do cenário recessivo de 2009, Vítor Constâncio acredita que o desemprego poderá não subir tanto como se poderia temer "A subida do desemprego não será proporcional à queda do PIB", afirmou o governador, assinalando que se a retoma da economia mundial se iniciar em 2010, o número de desempregado poderá subir menos, ainda que se preveja um aumento, até pela menor criação de empregos que é esperada. Mas, disse também, a incerteza é grande e se a recessão se prolongar, os efeitos na destruição do emprego serão elevados.