Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
O Governo guarda para "momento oportuno" a divulgação de novas projecções, pelo que, até lá, irá "guiar-se" pelas previsões ontem divulgadas pelo Banco de Portugal. Em declarações aos jornalistas, o ministro das Finanças sublinhou que os números do BdP evidenciam uma "crise bem mais acentuada" do que o esperado e cuja magnitude vem tornar ainda mais necessária e justificada a aposta nos projectos de investimento público.
Enquadrando sempre a dimensão da recessão esperada para Portugal no agravamento da situação económica internacional, Teixeira dos Santos afirmou que as projecções do BdP reflectem aquele agravamento global. Tal como Vítor Constâncio, sublinhou também o facto de Portugal ter de esperar pela retoma de outros países para poder retomar a trajectória do crescimento.
Apesar de no seu último cenário macro-económico o Governo apontar para uma contracção do PIB de 0,8% (valor considerado na altura optimista tendo em conta os indicadores já existentes em meados de Janeiro, quando foram divulgadas), Teixeira dos Santos não vai fazer nenhuma correcção antecipada. Eventuais alterações foram, assim, remetidas para "momento oportuno", o que poderá ser no final deste mês quando o Governo apresentar à Assembleia da República as Grandes Opções do Plano. Até esse "momento", as "previsões do Banco de Portugal são as mais actuais de que dispomos e é para elas que devemos olhar", precisou.
Teixeira dos Santos adiantou ainda esperar que 2010 "traga um ambiente económico melhor", que permita à economia mundial iniciar o ciclo de retoma, mas recusou, para já, a hipótese de tomar novas medidas anti-crise.
"Temos de estar atentos à evolução da situação e prosseguir com a concretização das medidas já anunciadas", referiu Teixeira dos Santos, acentuando igualmente a necessidade de se seguir com atenção as consequências sociais que esta recessão está a criar, designadamente com o aumento do desemprego. Esta sua preocupação já havia sido sublinhada na intervenção que fez nas jornadas parlamentares do PS.
Teixeira dos Santos lembrou que há várias semanas que os organismos internacionais estavam a dar conta do agravamento da situação económica internacional, indicando que 2009 será o pior ano das últimas décadas. Para fazer face a esta situação, referiu, o Governo criou um pacote de medidas, estando determinado a prosseguir com a sua aplicação para enfrentar esta crise, "que nos ultrapassa e que é mais forte" do que se poderia inicialmente estimar. Recusou, por isso, que haja medidas adicionais antes das actuais serem executadas.
Toda esta situação, precisou ainda, exige um esforço orçamental acrescido e um esforço adicional no investimento público de forma a compensar a forte quebra do investimento privado. A retracção do investimento de empresas e particulares, afirmou, vem "mostrar bem que o Governo não deve desistir dos projectos de investimento" que tem em carteira - incluindo aqui os grandes e os de dimensão mais reduzida como os que estão previstos para as áreas da eficiência energética e da recuperação do parque escolar.