in Jornal Público
Preços em queda permanente, actividade económica estagnada, desemprego em alta e governos e bancos centrais sem saberem o que fazer. Assim se vivia durante os dois principais períodos de deflação registados durante o século passado: a Grande Depressão dos anos 30 e a crise japonesa dos anos 90.
Se este é o cenário que as autoridades querem agora evitar, mais preocupante se torna o facto de, naquelas duas ocasiões, por trás do surgimento da deflação, ter estado o rebentar de um bolha especulativa dos preços de activos e a entrada do sector bancário numa crise profunda, duas realidades a que actualmente se assiste na Europa e nos EUA.
Em 1929, tudo começou com a queda dos mercados bolsistas. Em poucas semanas, as acções que durante anos não paravam de subir, perderam grande parte do seu valor. Não demorou muito tempo até que os bancos começassem a cair, interrompendo por completo o fluxo do crédito, limitando a actividade e fazendo cair a economia na armadilha da deflação.A reacção das autoridades foi lenta. O New Deal de Roosevelt só surgiu a partir de 1933, já o desemprego estava nos 25 por cento. A recuperação só aconteceu com a Segunda Grande Guerra Mundial.
No Japão, no início dos anos 90, o mercado imobiliário e o mercado accionista colocaram, de forma brusca, um ponto final nos excessos da década anterior. Apesar de as autoridades, tentando não cometer os erros da Grande Depressão, terem inundado a economia de investimento público, baixado as taxas de juro a zero e fornecido empréstimos directamente ao Estado e às empresas, a saída de uma situação de deflação apenas se deu já durante este século.
A actual crise, para além de acontecer numa economia mais globalizada, tem diversas características comuns com os anteriores episódios de deflação. A sua origem está no colapso dos mercados imobiliários (principalmente nos EUA, mas também em alguns países europeus) e o fluxo de crédito está fortemente afectado. Resta a esperança de que os governos e bancos centrais consigam, com as experiências do passado, encontrar um melhor antídoto para a ameaça da deflação. As medidas tomadas, no entanto, pouco diferem das adoptadas pelo Japão.