José Manuel Rocha, in Jornal Público
Leite é o que regista a maior quebra, segundo a FAO, depois de ter batido recordes no final de 2007; abrandamento da procura é uma das razões apontadas para este declínio
Os preços dos principais produtos alimentares entraram num movimento de forte correcção em baixa, a reflectir um natural abrandamento da procura - motivado pela crise global - e pela fuga dos investidores financeiros dos mercados onde são transaccionadas as matérias-primas e onde se formam os seus preços.
O índice dos preços dos alimentos, elaborado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a alimentação) fixava-se em Março nos 141,3 pontos, muito distante, portanto, dos 213,5 pontos que atingiu em Junho do ano passado.
Nessa altura, os efeitos da crise financeira e económica global estavam no seu ponto mais alto e os investidores, com as bolsas num ritmo imparável de queda, mudavam o poiso dos seus capitais. Muitos fugiram à depressão dos mercados financeiros e apostaram no mercado das matérias-primas - essencialmente os do petróleo, dos metais e dos alimentos.
Numa análise por produtos, verifica-se que foi o leite aquele em que se verificou uma mais forte oscilação. O índice da FAO coloca o índice nos 118,7 pontos, em Março passado, contra os 268,6 em Novembro de 2007. Este indicador, que é elaborado com base nos preços mundiais - abrange 55 mercados -, teve naturais extensões locais.
Em Portugal, por exemplo, os produtores de leite queixam-se de que a indústria baixou substancialmente o preço pago às explorações. Essa redução é um reflexo da situação internacional e decorre do movimento de correcção que todos os mercados estão a viver. Em Dezembro do ano passado, o preço do quilo de leite era pago a 0,336 euros, muito distante dos 0,421 euros que constitui o pico atingido em Março de 2008. Mas convém recordar que o preço médio pago às explorações era de cerca de 0,300 euros no início de 2007.
Os cereais são outro caso de claro recuo de preço após ter atingido recordes. No mês passado, o índice da organização situava-se nos 178 pontos, depois de ter subido até aos 275 pontos em Fevereiro de 2008. Isto significa que os preços dos mercados mundiais regressaram aos padrões médio de Agosto de 2007.
O aumento desmesurado dos preços dos cereais acabou por ter consequências nos custos associados a outros produtos. Os cereais constituem a base da alimentação animal, vocacionada para a produção de carne e de leite.
Mais lenta tem sido a correcção dos preços do açúcar. Nos últimos meses, as cotações apuradas apontam um índice relativamente estabilizado em torno dos 200 pontos. Este valor é muito superior aos 131 pontos atingidos em meados de 2007, mas pode estar a ser influenciado por quebras nas colheitas dos principais países produtores. A carne, que sofreu uma menor oscilação, está também a ver os preços entrarem em rota de correcção.
A tendência de quebra do preço dos alimentos deverá manter-se nos próximos meses, a confirmar-se a recuperação das bolsas mundiais. As grandes praças fecharam o primeiro trimestre ainda em queda, mas o mês de Março foi claramente positivo e Abril parece confirmar a tendência.