Pedro Vila-Chã, in Jornal de Notícias
Produção é vendida ou leiloada e o apuro final vai para instituição de apoio a sem-abrigo
São aguns (poucos) metros quadrados que acolhem uma horta biológica, no quintal da Junta de Freguesia de S. Victor, Braga. O resultado da venda dos produtos reverte para o projecto SA de apoio aos sem-abrigo.
Ao autarca Firmino Marques são atribuídos os predicados elogiosos que se empregam com alguém que bate a todas as portas para resolver os problemas dos seus conterrâneos. S. Victor é a maior freguesia de Braga (32 mil pessoas) e considerada o dormitório da metrópole, acarretando, com isso, alguns aspectos menos positivos de exclusão social. Por isso, o autarca entende o cargo que ocupa para além das funções de emitir atestados. "Neste momento é necessário tocar outros instrumentos que não estávamos preparados".
Os tempos de crise obrigam a rebuscar ideias e encontrar soluções para evitar o crescente índice de excluídos. Em S. Victor, o autarca Firmino Marques garante que, "caso existisse um fundo de socorro para acções extremas, já teria sido accionado diversas vezes. Como não há, sai do bolso." E da imaginação que encontrou num pedaço de terreno ao fundo da sede de junta, local fértil para uma horta biológica. Ali vão os jardins de infância aprender com o senhor Jerónimo, truques que permitem das sementes colher frutos.
"No primeiro ano, colhemos tomates, pimentos, pepinos, cebolas, feijão, alface, pimentos e abóboras. Uma parte dos produtos foi comercializada numa maratona de solidariedade que organizámos e em que os produtos eram licitados. Depois de saberem da existência da horta, os habitantes procuravam aqui os produtos", explica Firmino Marques. A freguesia tem tradições ("o bom vinho do bairro da Alegria") e a grande parte das casas tem poço. "Temos de voltar a tempos idos, em que o poço era equipamento bem utilizado na rega dos campos", aposta Firmino Marques.
E todo o dinheiro amealhado é pouco para tantas situações de carência a socorrer. O Projecto SA (o mais directo beneficiário da venda de produtos) tem à sua conta meia centena de pessoas sem-abrigo para ajudar, até com refeições. "São apoiadas até ao limite. Até que as pessoas arranjem âncoras", diz Marques. Mas, na freguesia, multiplicam-se as instituições de apoio, à medida das necessidades. As Conferências Vicentinas ajudam centenas de famílias em géneros alimentares, A Bogalha tem no seu seio um departamento de apoio a famílias mais carenciadas. Actuam no terreno, ainda, a Obra Social Quinta da Armada, a Arca de Noé, a Cruz Vermelha e o Centro Cultural de Santo Adrião, além da Univa da Junta e a própria acção da segurança Social.