in Jornal Público
Governo não revê
O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, não vai, para já, apresentar novas previsões para a economia portuguesa, remetendo eventuais alterações para "momento oportuno". Poucos minutos depois de o Banco de Portugal ter revisto em baixa as projecções para a economia, o ministro não corrigiu a previsão de contracção de 0,8 por cento do executivo, mas afirmou que, "neste momento, temos as previsões do Banco de Portugal, é para elas que devemos olhar".
Desemprego lento
A taxa de desemprego não deverá "aumentar tanto como a dimensão da recessão pareceria indicar", afirmou ontem o governador do Banco de Portugal. A explicação para esta previsão é a de que "o comportamento normal das empresas é o de tentar preservar os seus trabalhadores na expectativa da quebra de crescimento ser temporária".
Esta é uma avaliação que parece contrariar a percepção de qualquer português que olhe para os números dos desempregados, que apresenta uma tendência de crescimento sustentável. Desde o início de 2008 o crescimento homólogo médio é de 14 por cento. Em Janeiro, apresentou-se nos centros de emprego a segunda maior leva de desempregados dos últimos 30 anos.
Mas o governador do Banco de Portugal mostra-se bastante mais esperançado que o atraso com que o desemprego se instala relativamente ao desempenho da economia possa, de igual forma, ser absorvido pela retoma futura. "A perspectiva do aumento futuro, que se iniciou no princípio deste ano, não ser muito acentuado poderá ser validada se a recuperação da economia mundial começar no final deste ano ou princípio de 2010". A análise optimista de Vítor Constâncio quanto ao desemprego não evita que aconselhe que "responder à crise actual deve ter como principal preocupação tentar minorar o desemprego e os seus efeitos humanos e sociais".
Efeito na pobreza
Para vencer a pobreza é preciso combater os efeitos do desemprego na quebra de rendimentos, mas também os do próprio emprego. Esta poderia ser a síntese de um dos artigos do boletim trimestral do Banco de Portugal divulgado hoje. O artigo sublinha a importância de as políticas activas serem periodicamente avaliadas sobre o impacto na redução da pobreza.
O artigo de Nuno Alves baseia-
-se no último inquérito do Instituto Nacional de Estatística à despesa das famílias (2005-2006) e em trabalhos sobre a pobreza de Manuela Silva, A. Pereirinha, Carlos Pereira, entre outros. Em traços gerais, o artigo conclui que "a participação no mercado de trabalho é um elemento importante na diminuição do risco de pobreza". O autor avalia ainda o impacto do grau de educação como factor relevante nesta situação de pobreza e estima que, "no futuro próximo, a entrada na idade activa de indivíduos com um nível de educação superior à média da população deverá contribuir para diminuir a taxa de pobreza em Portugal". Mas, até lá, era "particularmente útil" que se definissem objectivos de médio prazo quanto à incidência e intensidade da pobreza, avaliasse o impacto das medidas nesse combate e cruzasse informação útil para explicar a pobreza.
Margem no OE
Vítor Constâncio deixou ontem a porta aberta à possibilidade de, mesmo com a economia a pressionar o défice em alta, o Governo ainda ter "alguma, pequena, margem de manobra" para tomar medidas de apoio à economia. "Todos os défices públicos vão aumentar. Não prevejo que Portugal fique numa situação demasiado exposta a este nível", afirmou, lembrando os elevados desequilíbrios orçamentais que outros países europeus, como a Irlanda ou a Itália, já apresentam. Ainda assim, o governador defendeu que Portugal tem de manter "uma política de rigor orçamental", repetindo o apelo para que sejam apresentadas o mais cedo possível garantias de que as medidas de apoio à economia são temporárias. Em relação ao défice público de 2008, que se cifrou em 2,6 por cento, o relatório do Banco de Portugal assinala que se regista uma deterioração do balanço estrutural, invertendo a tendência do último ano, e recorda que as medidas extraordinárias como a concessão de barragens contribuíram 1,1 por cento do PIB para a sua diminuição.
Mistério de 1993
O relatório do Banco de Portugal assinala que nas três últimas grandes crises das últimas décadas em Portugal - 1984, 1993 e 2003 - a quebra do PIB nunca foi superior a um por cento. Mas, consultando três fontes diferentes - Banco de Portugal, INE e Comissão Europeia -, chega-se a conclusões muito diferentes. As séries longas do Banco de Portugal dizem que, nesse ano de crise, o PIB caiu 1,1 por cento. Nas séries do INE, variação que surge é de -1,4 por cento. E, na base AMECO da Comissão Europeia, o resultado é ainda pior: um valor negativo de dois por cento. Apenas uma coisa é certa, se a previsão hoje anunciada por Vítor Constâncio se concretizar, o resultado de 2009 será substancialmente pior. J.R.A, S.A.