in Jornal de Notícias
Em Lisboa, o cardeal patriarca abordou o "Reino de Cristo".
Bento XVI escolheu dedicar a festividade de arranque da Semana Santa aos migrantes e à necessidade de união contra o tráfico de seres humanos.
Regressado há pouco de um périplo por África, Bento XVI trouxe para a missa de Domingo de Ramos o testemunho da miséria, à qual cada vez mais pessoas tentam fugir através da emigração clandestina, num movimento ampliado pela crise internacional. E esta só terminará, diz, quando as nações africanas, com a ajuda internacional, se "libertarem da miséria e da guerra".
O Papa pediu, por isso, uma acção urgente. "A saída para o problema requer estratégias coordenadas pela União Europeia e os países africanos, bem como a adopção de medidas humanitárias adequadas, para prevenir estes migrantes de cair nas mãos de traficantes sem escrúpulos". A propósito, lembrou o afogamento de mais de 200 pessoas que tentavam chegar à Europa, na semana passada, a bordo de um barco sobrelotado ao largo da Líbia.
Bento XVI aproveitou ainda para lembrar as vítimas das armas de fragmentação, apelando à assinatura "sem demora" da convenção para a sua interdição.
Em Lisboa, o cardeal patriarca tocou indirectamente no tema, lembrando que "o Reino de Cristo não é deste mundo, não se identifica com os critérios do mundo, políticos, económicos, sociais". Mas "exprime-se no concreto de cada sociedade, em cada tempo". E os seus critérios levam a que a Igreja seja "sempre proposta e denúncia", de "todas as mentiras, todos os egoísmos, todas as formas de violência".
Adaptando o tema ao lugar, D. José Policarpo afirmou que o desafio que se coloca, 50 anos depois da construção do monumento a Cristo-Rei, em Almada, é saber o que significa para Lisboa, nos tempos actuais, "saber que Cristo a abençoa, que todos, crentes e descrentes, são beneficiários desse amor solícito".
Num apelo a que se não se "separe a fé da vida, ainda que esta não siga, necessariamente, os critérios da fé", o cardeal lembrou que o monumento foi construído "em acção de graças por uma graça pedida: o poupar Portugal aos horrores da guerra". Hoje, "continua lá, bem visível, a abraçar a cidade, sinal de esperança".