8.4.09

Saúde: Unidade de alerta vai vigiar vítimas da crise

Ana Paula Correia, in Jornal de Notícias

Dia Mundial da Saúde assinalado com preocupações com novos pobres


A preocupação pelos efeitos na saúde do desemprego e de outras consequências da crise económica levou a Direcção-Geral de Saúde a criar uma unidade de alerta, que começará a actuar no terreno dentro de dois meses.

A criação do grupo técnico de acompanhamentode alterações de saúde provocadas pela crise foi anunciada ontem pelo director-geral de Saúde, Francisco George, na sessão pública que assinalou, ontem em Lisboa, o Dia Mundial da Saúde, com a presença da ministra Ana Jorge.

Na convicção de que o agravamento da saúde pública é uma das consequências da actual crise económica e financeira global, o JN sabe que a Direcção Geral de Saúde e a Escola Nacional e Saúde Pública criaram no início de Março, um grupo que está a preparar, em colaboração com a Segurança Social, um sistema de alerta permanente para sinais de risco e o consequente acompanhamento médico e/ou social. Esses sinais, que passarão a estar monotorizados e serão actualizados mensalmente, podem ser, por exemplo, a depressão, a desnutrição, a tuberculose, os maus tratos ou o número de receitas não aviadas. E os chamados novos pobres constituem um dos grupos-alvo.

Na sessão de ontem, numa intervenção, na qual pretendeu traçar o panorama actual da saúde pública, o director-geral revelou que deixaram de existir infecções e perfurações de órgãos associadas à prática de aborto clandestino, na sequência da aplicação da lei que, a partir de Julho de 2007, alargou a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas.

"Ao abrigo da nova legislação, já foram realizadas 28556 interrupções de gravidez, das quais 17639 foram por vontade expressa da mulher". A par desta revelação, Francisco George lembrou dados da inclusão da vacinação contra o cancro do colo do útero no Plano Nacional de Vacinação ou com a Procriação Médica Assistida, estabelecendo o objectivo de aumentar dos actuais 1% para 3% de taxa de intervenções.

Depois de eleger o combate e prevenção da diabetes como "principal preocupação" no âmbito das doenças crónicas, Francisco George deixou a esperança de que a legislação recente que impõe a redução do sal nos alimentos contribua para reduzir o risco de hipertensão arterial.

"Tal como aconteceu com a lei do tabaco, que levou à redução do consumo de cigarros em 5%". Mais um argumento para fundamentar o optimismo do director-geral. Uma nota final no discurso foi a aplicação do "simplex" à Saúde, com George a anunciar a desmaterialização da certidão de óbito, que passarão a ter apenas suporte electrónico.

Anúncios de Francisco George à parte, o Dia Mundial da Saúde foi, este ano dedicado ao tema "Salvar Vidas - hospitais seguros em situações de emergência", e a ministra referiu-se ao assunto para elogiar a "rapidez e eficácia com que foram deslocados 150 doentes no Hospital de S. Francisco Xavier no domingo", quando ocorreu um incêndio.

Mais tarde, já depois da sessão terminar, Ana Jorge admitiu aos jornalistas que ainda estão a ser feitas auditorias para identificar com exatidão os hospitais que ainda não dispõem de planos de emergência adequados.

No ano passado, reconheceu a governante, "através de uma auditoria feita pela Direcção-Geral das Actividades em Saúde, cerca de 40% dos hospitais não tinham planos de emergência completos. Por isso, estamos a fazer um esforço muito grande para ultrapassar esse problema".