por Diana Mendes, in Diário de Notícias
Há dezenas de doentes com mais de 50 anos. Muitos começam a precisar de um lar. Uma associação contactou 15 residências e apenas uma aceitou integrar um seropositivo.
Os doentes infectados com o vírus da sida estão a ser recusados em lares, mesmo de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), denunciam várias associações de activistas ligados à infecção. A Abraço contou ao DN que recentemente tentou colocar uma uma pessoa infectada numa instituição religiosa, mas que foi imediatamente recusada por não haver vaga. Mas quando minutos depois, contactou a instituição, sem abordar a infecção, a pessoa foi logo aceite. "Nós até lhes dissemos que mentir era pecado", refere ao DN Gonçalo Lobo, técnico da Associação.
As associações de activistas dizem que o problema é sistemático: acontece nas unidades de cuidados continuados, mas sobretudo em lares. "Não é muito frequente haver uma resposta positiva", diz.
Andreia Ferreira, do Grupo de Apoio e Desafio à Sida (GADS) , refere que "há casos de integração de alguns doentes, mas na maioria respondem-nos que não", frisa. Recentemente, contou quatro lares que responderam negativamente aos apelos do GADS. Mas já antes testou a abertura destas unidades e de instituições de solidariedade social (IPSS) a doentes infectados. "Fizemos um inquérito com cerca de 15. Apenas uma disse que aceitava", refere.
Os argumentos usados são diversos: não têm pessoal com formação para cuidar destes doentes ou tinham de entrar em contacto com os médicos. "Sabemos também que há muitas instituições que nos seus regulamentos internos determinam que não podem receber pessoas com doenças infecto-contagiosas. A questão é que a infecção VIH/SIDA não é infecto-contagiosa. Já uma tuberculose é", diz.
Geralmente, os doentes que tentam ingressar nos lares têm mais de 50 anos e são portadores da infecção há muitos anos. Podem até ter sido diagnosticados tardiamente e os sintomas ou a doença estar a revelar-se agora", conta Andreia Ferreira.
Em Coimbra, há uma unidade de cuidados continuados que recebe estes doentes. Além desta, conta Gonçalo Lobo, há uma unidade da Abraço no Porto, e uma no Algarve, da Santa Casa. Os apoios que existem são focados nos cuidados domiciliários, "na maioria das vezes nem sequer dão resposta durante 24 por dia", avança. "Os doentes ou são integrados em locais de associações ou em pensões e residências com acesso aos nossos cuidados". A Abraço refere ainda que as zonas rurais ou as mais densamente povoadas são as que têm menos respostas.