Bárbara Wong, in Jornal Público
Programa Erasmus tem sido uma peça fundamental para a uniformização do sistema de ensino superior na UE
A João fez um semestre de Economia, em Londres; Patrícia aprofundou conhecimentos de Arquitectura em Amesterdão; Cláudia estudou História de Arte, em Bolonha. Se em 1987 foram apenas 25 os estudantes portugueses que se aventuraram a fazer um semestre ou um ano de estudos noutra instituição, fora do país, duas décadas depois saem do país mais de quatro mil alunos, anualmente. Lentamente, o fenómeno Erasmus mudou a face do ensino superior português, mas não só. O ensino europeu também mudou, mais de 40 países estão envolvidos no processo de Bolonha, com o objectivo de ter um espaço europeu comum de ensino superior. Muito se deve a este programa, acredita a Comissão Europeia (CE).
Em 22 anos, quase 50 mil alunos portugueses viajaram para aprender e juntaram-se a mais de um milhão e 600 mil. São poucos quando comparados com estudantes de outros países: apenas 2,42 por cento, contra os 15,64 por cento dos jovens alemães ou dos 15,60 por cento de franceses.
O maior problema dos estudantes é o custo deste programa, queixam-se. É que, apesar de um orçamento anual de 400 milhões de euros da CE, o valor atribuído em bolsas para os estudantes se deslocarem nem sempre é suficiente para viver noutro país, sobretudo quando o nível de vida é mais elevado do que em Portugal, dizem. Em termos europeus, apenas três por cento dos jovens conseguiram fazer esta experiência. Talvez por isso, o programa é, muitas vezes, acusado de ser elitista, já que são os alunos com mais capacidade económica que conseguem realizá-lo.
Contudo, a CE pretende aumentar o seu orçamento para continuar a investir neste projecto de promoção da mobilidade não só de alunos, mas também de professores e funcionários administrativos. Também o ministro Mariano Gago prevê que até 2020 o número de estudantes em programas de mobilidade duplique.
Segundo um estudo da Direcção-Geral para a Educação e Cultura da CE, o programa tem um grande impacto não só na vida pessoal e curricular do aluno, como aumenta as oportunidades de emprego a quem o frequenta, após a conclusão dos estudos. Depois de uma experiência fora, muitos jovens acabam por optar por uma carreira internacional.
O país predominante nas escolhas portuguesas é Espanha, seguida de Itália. É também destes dois países mediterrânicos que chegam parte dos quase 4500 estudantes que escolhem Portugal para estudar. As universidades e politécnicos portugueses têm feito uma grande aposta na divulgação dos seus planos de estudo, à conquista dos alunos estrangeiros, bem como de oferta de cursos de língua e cultura, fundamentais para quem não domina o português. A Universidade do Porto tem-se destacado por ser aquela que mais estudantes tem recebido - este ano lectivo são 630.
São das áreas das Ciências Médicas e da Economia e Gestão os que mais escolhem sair do país. Mas, em termos europeus, as áreas de eleição dos alunos dos 31 países envolvidos no Erasmus - Turquia incluída - são a Gestão, Engenharias e Ciências Sociais; assim como os países que mais alunos recebem continuam a ser a Alemanha, França e Espanha.
Há cinco anos, foi criado o Erasmus Mundus; no entanto, apenas 14 estudantes terão optado por estudar num país fora da União Europeia. A CE ainda não tem dados definitivos, mas calcula que cerca de 1300 alunos de fora da Europa tenham vindo estudar ao abrigo deste programa.