Teresa de Sousa, in Jornal Público
Suécia aposta no combate à crise e nas alterações climáticas, mas retém a respiração até ao referendo irlandês ao Tratado de Lisboa
São elevadas as expectativas mas também são enormes as dificuldades que a presidência sueca da União Europeia terá de enfrentar nos próximos seis meses. Será, na melhor das hipóteses, uma das últimas presidências no velho formato rotativo. Segue-se a uma presidência checa considerada unanimemente como problemática e enfrenta uma agenda reconhecida como extremamente difícil.
Terá de lidar com um clima internacional de crise e com uma Europa cujo estado de saúde político e económico está longe de ser invejável. Mas, acima de tudo, tem a sua sorte dependente do segundo referendo irlandês ao Tratado de Lisboa, marcado para Outubro. Até lá, por mais ambiciosa que seja a sua agenda, não pode levantar ondas. Se for confrontada com o pior cenário - um segundo e hoje bastante improvável chumbo do tratado -, passará o tempo que lhe resta a gerir uma crise de dimensões inimagináveis, sem tempo nem condições para os dois dossiers que elegeu como prioritários: uma estratégia para sair da crise e uma posição comum para a cimeira de Copenhaga sobre as alterações climáticas, em Dezembro.
Ontem, em Estocolmo, durante a tradicional conferência de imprensa conjunta com o presidente da Comissão para apresentar o programa da sua presidência, o primeiro-ministro sueco Fredrik Reinfeldt pode testar na prática a natureza das dificuldades que terá de enfrentar. A crise iraniana e as incertezas sobre o segundo mandato de Durão Barroso à frente da Comissão foram os temas centrais.
O Irão é o mais difícil e imprevisível dossier internacional que tem de gerir no curto prazo em nome dos 27. "Temos de mostrar solidariedade [com o Reino Unido] e manter uma frente unida", disse o primeiro-ministro sueco (ver texto na página 14).Uma nova crise do gás entre Moscovo e Kiev, que é altamente provável, será outro teste difícil no âmbito da política externa.
Quanto às incertezas institucionais que pairam sobre a sua presidência, tudo o que Estocolmo não quer é ter a seu lado uma Comissão enfraquecida por um braço-de-ferro entre os governos e o Parlamento em torno do seu presidente (ver texto ao lado). Ontem, Fredrik Reinfeldt avisou que "não é o momento para a Europa continuar a contemplar o umbigo e perder-se em discussões institucionais", pelo que é necessária "uma clarificação da presidência da Comissão".
Os trunfos
Estocolmo enfrenta o teste de uma presidência em clima de crise e de incerteza com alguns trunfos na manga. O seu Governo de centro-direita está apostado em provar que a Suécia já deixou para trás o eurocepticismo dos primeiros anos da integração (aderiu em 1995). Dispõe de uma diplomacia eficaz e discreta, habituada a gerar consensos. Pode utilizar o seu próprio exemplo em matéria de políticas ambientais para convencer os parceiros mais renitentes de que metas exigentes para as emissões de CO2 não são incompatíveis com excelentes performances económicas. É um país exemplar em matéria do cumprimento das metas da "estratégia de Lisboa", cuja revisão pós-2010 vai ter de lançar. Teve de enfrentar no início dos anos 90 uma crise do seu sistema financeiro idêntica, à sua escala, à crise global que o mundo enfrenta. Passou 10 anos a recuperar. Sabe do que fala.
No combate à crise, a linha de orientação é convencer os seus parceiros de que a fase dos grandes estímulos à economia chegou ao fim e que agora o objectivo tem de voltar a ser o equilíbrio das contas públicas e o controlo da dívida. Um discurso que agrada a Berlim mas que desagrada a Paris. No dossier das alterações climáticas, quer garantir a unidade em torno de metas ambiciosas para Copenhaga e um compromisso firme em torno da ajuda europeia aos países em desenvolvimento para poderem eles próprios cumprir as metas para o pós-Quioto.
As prioridades
Tratado de Lisboa
Garantir as melhores condições para o segundo referendo irlandês e, em caso de ratificação, negociar sua aplicação.
Crise económica
Preparar o pós-crise regressando à disciplina orçamental, avançar na regulação do sistema financeiro, incentivar políticas geradoras de emprego, combater o proteccionismo.
Clima
Garantir uma posição comum e liderante da UE para a cimeira mundial de Copenhaga.
Relação com os EUA
Relançar uma ambiciosa agenda transatlântica para tirar partido da eleição de Obama.
Alargamento
Fazer avançar as negociações com a Croácia e com a Turquia; dar atenção ao Báltico e à parceria com a fronteira Leste.