Eduarda Ferriera, in Jornal de Notícias
Idosos sozinhos e com reformas mínimas. São situações dramáticas e frequentes em Portugal. Organizações não-governamentais querem sensibilizar a sociedade e os decisores políticos para um enquadramento comunitário e activo dos mais velhos.
O envelhecimento, para ser activo, não pode começar no primeiro dia da reforma: deve ser preparado muito tempo antes. É logo aos 50 anos, se não antes, que a pessoa se deve envolver em actividades de voluntariado ou outras que dêem mais sentido à sua vida e o mantenham em contacto com a comunidade.
Esta é a posição defendida pela Rede Europeia Anti-pobreza, que recomenda a governos e sociedades um impulso a políticas de envelhecimento activo. Sérgio Aires, que pertence àquela entidade na sua representação portuguesa e preside ao Fórum Não-governamental para a Inclusão Social, considera que até agora as políticas públicas sociais se têm dirigido muito para o investimento na institucionalização das pessoas idosas, pouco incentivando soluções alternativas e dissuasoras da solução dos lares.
A pobreza entre os idosos portugueses, lembra Sérgio Aires, decorre sobretudo do valor das pensões mínimas de sobrevivência, e de encargos elevados com medicamentos, nem todos gratuitos ou comparticipados em todas as patologias.
O mesmo dirigente do Fórum Não-governamental para a Inclusão Social salienta o elevado problema de dependência psicológica e física de inúmeros idosos, em particular nos grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto.
“Há situações dramáticas de isolamento”, refere, para acrescentar que há casos de abandono, sendo que este “pode não ser explícito, ocorrendo porque a vida dos familiares não permite acompanhá-los”.
Ainda que considere que os lares “já não funcionam tanto como depósitos” de idosos, Sérgio Aires defende que o Estado deve fomentar alternativas de enquadramento pela comunidade, porventura menos onerosas. por exemplo, “o apoio domiciliário pode envolver a participação mais alargada dos cidadãos”, actuando estes como voluntários ou não.
Da experiência que tem no terreno, Sérgio Aires retira que muitas vezes os idosos em situação de pobreza escolheriam a companhia e uma boa conversa por troca com um aumento de euros ao seu complemento solidário.
“As políticas públicas podem enquadrar iniciativas e actividades” que vão encontro de um envelhecimento activo da população, afirma o nosso interlocutor, que reconhece o facto de “estarmos habituados a ser o Estado a avançar”.
Sérgio Aires indica que as comunidades podem cobrir algumas das suas necessidades com serviços de proximidade que, pelo menos a partir dos 50 anos, as pessoas se habituassem a garantir. Segurança das escolas, guarda de crianças da vizinhança, como já foi hábito na Europa do Sul, são apenas exemplos do que poderia “tornar as pessoas mais activas, incluindo-as com vantagem para toda a gente”. Para tanto, a actividade não pode começar só no primeiro dia da reforma.