Ivete Carneiro, in Jornal de Notícias
Centenas de refeitórios de escolas primárias abriram ontem, segunda-feira, primeiro dia das férias de Natal. A Associação Nacional de Municípios está a monitorizar a situação e deverá ter em Janeiro um retrato nacional dos apoios sociais necessários. No Porto, foram servidas 1700 refeições.
"A decisão de abrir os refeitórios durante as férias visa sobretudo responder às crianças do escalão A, crianças carenciadas que, reconhecidamente, apenas têm uma refeição diária quente", explica António José Ganhão, da Associação Nacional de Municípios. São aquelas cujos rendimentos familiares lhes conferem isenção na alimentação escolar. Mas a medida também serve as do escalão B (que pagam metade do valor do almoço) e outras que se inscrevam. A ideia não é nova, uma vez que muitas autarquias que têm a seu cargo os ATL já forneciam alimentação durante as férias. Trata-se de "aproveitar os que já funcionavam".
Nos municípios onde as actividades de tempos livres não dependem das autarquias nem das associações de pais (são iniciativas privadas ou de instituições de solidariedade social), as câmaras terão decidido abrir as escolas.
Foi o caso na cidade do Porto, onde abriram mais refeitórios do que os, até hoje, funcionavam por força de protocolos. A EB1 Ribeiro de Sousa foi a escolhida pela autarquia para juntar jornalistas. Ontem, segunda-feira, estavam ali 25 crianças. O almoço atrasou-se. Havia televisões para directos. Havia que dizer que o Porto é solidário e abriu cantinas. Ora, eram crianças do ATL vizinho, que sempre almoçaram por ali, fruto de protocolos.
Nenhuma veio de casa de propósito para almoçar. Até recentemente, a refeição era no ATL, cuja cantina fechou. Os miúdos passaram a estar integrados no programa "Porto Solidário", que está a servir, nesta época de pausa natalícia, cerca de 1700 refeições diárias, em 49 dos 54 refeitórios escolares que dependem da autarquia portuense, contabiliza Guilhermina Rego, vereadora do Conhecimento e Coesão Social.
Eram apenas 25 dos 223 alunos da escola. Desses, oito são do escalão A, ou seja, não pagam pelo almoço. Outros dois pagam metade do euro e 46 cêntimos que desembolsam os pais dos restantes. Como em todos os dias do ano. Sim, garante a coordenadora da escola, "há casos de grandes dificuldades económicas". Mas haverá essencialmente casos de dificuldades de horário dos pais, que obrigam a ter os filhos no ATL.
A crise alterou as coisas nalguns municípios, que alargaram a oferta a quem não está nos tempos livres. No Porto, as inscrições estavam abertas aos irmãos dos alunos, se tivessem até dez anos. Na Ribeiro de Sousa, não havia casos desses. Só mesmo crianças dali, todas, 25 das 170 que habitualmente almoçam ali.
Comeram - com uma hora de atraso, poder-se-ia dizer que a fome era tal que varreram os pratos - creme de ervilhas, massa de atum, uma banana e um pão. Um "refeição equilibrada", coisa que faltarão a muitas crianças, constatação comunicada por alguns agrupamentos escolares e que esteve por detrás da decisão de abrir refeitórios fora da época escolar.