Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
As despesas de consumo estão a subir a um ritmo mais elevado do que o rendimento disponível. Para "tapar" este desequilíbrio, as famílias estão a poupar menos. A tendência de redução da taxa de poupança começou no segundo trimestre e mantém-se.
Acompanhando o ritmo da crise, os portugueses começaram a poupar mais. Esta atitude fez com que a taxa de poupança crescesse "significativamente" desde 2008, tendo atingido os 11,3% nos primeiros três meses deste ano. Mas desde então, assinala o Instituto Nacional de Estatística (INE), iniciou-se a tendência oposta e, no terceiro trimestre deste ano, a poupança já tinha caído para os 10,6%.
Este recuo é explicado, segundo refere o INE nas suas Contas Nacionais Trimestrais, ontem divulgadas, pelo facto de o crescimento das despesas de consumo final das famílias suplantarem o crescimento "mais moderado" do rendimento disponível dos particulares. Ao contrário do que aconteceu no primeiro trimestre deste ano, nos dois seguintes começaram já a "pesar" nos orçamentos familiares algumas das medidas de consolidação orçamental entretanto tomadas ao longo do Verão.
Foi o caso da subida da taxa do IRS e respectivo aumento da retenção na fonte, subida das três taxas do IVA ou corte de alguns apoios sociais.
Face ao conjunto de novas medidas de redução do défice que vão entrar em vigor a partir de Janeiro - congelamento de pensões, cortes salariais e nova subida do IVA - e ao seu impacto no rendimento disponível, será de esperar que a taxa de poupança se mantenha em queda.
No entanto, os últimos valores de alguns agregados de poupança dão conta de uma subida, em Outubro, do dinheiro aplicado em depósitos a prazo. Naquela data, os bancos reportaram 116,9 mil milhões de euros em depósitos a prazo, o que evidencia uma subida de 50 milhões de euros face ao mês anterior. A subir estiveram também os Certificados do Tesouro, que captaram 25 milhões de euros, em Novembro, mas os Certificados de Aforro mantiveram a tendência de "fuga" que se iniciou há já largos meses e Novembro não foi excepção: os portugueses aplicaram 36 milhões, mas retiraram 205 milhões, o que dá um saldo líquido negativo de 169 milhões de euros.
Do lado das empresas, a publicação do INE dá conta de nova quebra no investimento, o que acontece há já oito trimestres consecutivos.
As Contas Nacionais Trimestrais revelam ainda que o défice das Administrações Públicas registou no final do terceiro trimestre uma ligeira melhoria (de 0,1 pontos percentuais) face aos três meses precedentes. O que significa que as necessidades de financiamento eram no final de Novembro equivalentes a 9,4% do Produto Interno Bruto.
Esta ligeira redução do défice resultou essencialmente da descida das despesas de capital que acabaram por compensar a diminuição da receita dos impostos sobre o rendimento (IRS e IRC) e património. No último trimestre do ano, as medidas de contenção já deverão contribuir com maior intensidade para a redução das necessidades de financiamento.