Joana Soares*, in O Primeiro de Janeiro
A Associação Norte Vida tem parecer favorável à instalação de salas de consumo assistido no Porto, e particularmente, no Bairro do Aleixo, contrariando, deste modo, a posição da ONU. O padre José Maia, presidente da Filos, refere que o relatório pode provocar o debate.
O presidente da Associação Norte Vida, Agostinho Rodrigues, afirmou ontem, no Porto, que, apesar da posição da ONU ser contrária às salas de consumo assistido, mais conhecidas por salas de chuto, a sua criação “continua a ser necessária”.
“Quando partimos para a criação deste tipo de estruturas, que para nós são centros de apoio sanitário e social aos toxicodependentes, e não meros lugares onde o consumo se efectua em condições higiénicas ,já tomámos em conta os argumentos que hoje são apresentados no relatório”, disse.
A Norte Vida propôs em Dezembro a criação de uma estrutura deste tipo no Bairro do Aleixo, uma das zonas mais problemáticas da cidade no que respeita à toxicodependência.
Agostinho Rodrigues reagia ao último relatório do Órgão Internacional de Controlo de Estupefacientes (OICE), organismo dependente da ONU, que desaconselha a criação de “salas de chuto”, por violar as regras internacionais segundo as quais as drogas deverão apenas ser usadas para fins médicos e científicos. “Trata-se sobretudo de uma questão de saúde pública e de dignidade dos consumidores, pelo que se mantém a necessidade de criar este tipo de estruturas”, afirmou. Agostinho Rodrigues acrescentou que, “se fossem aceites os argumentos do relatório da ONU, teríamos, em última análise, que acabar com todos os programas de prevenção de riscos”.
Entretanto, está marcado para hoje, no Porto, uma jornada de conferências que visa debater o tema. Júlio Pardo, médico responsável em Bilbao por uma sala de consumo assistido vai explicar hoje no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar o exemplo espanhol da legalização de salas de injecção assistida. Presentes vão estar também os médicos Júlio Machado Vaz e Nuno Grande. A sessão começa pelas 9h30.
Relatório da ONU pode provocar debate
Por seu turno, o presidente da Fundação Filos, padre José Maia, afirmou ontem, também na cidade do Porto, que a posição da ONU contrária às salas de chuto pode contribuir para que o debate sobre a questão saia do circuito fechado dos técnicos para a sociedade. “Não gosto do termo salas de chuto, até porque está ultrapassado e já não descreve a realidade, prefiro o termo salas de consumo assistido”, disse o responsável, que apresentou em Fevereiro um projecto de apoio aos toxicodependentes que prevê a criação deste tipo de estruturas.
“A posição da ONU vem no momento oportuno e espero que contribua para que a discussão desta matéria se estenda ao conjunto da sociedade e deixe de estar encerrada no círculo restrito dos técnicos”, afirmou. O presidente da Fundação Filos sublinhou que “embora a toxicodependência tenha deixado de ser criminalizada, não deixou de ser um problema de saúde para as vítimas da droga e um problema social para a comunidade”.* com Lusa