4.3.07

Exames a candidatos à dupla nacionalidade só "são fáceis para quem tem educação"

Clara Viana, in Jornal Público

A próxima prova de Português está marcada para Abril. Será a terceira desde o início do ano

Na Escola Marquesa de Alorna, em Lisboa, os sorrisos são em maior número do que os ares de consternação. "Estou 100 por cento confiante", diz a jovem Mila Garbur no final do segundo exame de Língua Portuguesa para imigrantes candidatos à nacionalidade. O primeiro foi em Janeiro. Mila veio da Moldávia, com uma licenciatura em Biologia. Achou a prova fácil. Orgeen Shah, natural do Bangladesh, está com mais três homens e as respostas deles quase cobrem o espectro: "correu bem", "mais ou menos", "normal". Shah resume assim: "Para quem tem educação foi fácil, para quem não tem foi difícil."

Fazer prova de que se tem um "conhecimento suficiente" da língua é um dos requisitos exigidos pela nova lei da nacionalidade, em vigor desde Dezembro passado. A próxima prova está marcada para 14 de Abril.
Na Marquesa de Alorna comparecerem 103 dos 146 candidatos inscritos (a nível nacional inscreveram-se 2680). Estão espalhados pelo refeitório e mais sete salas de aulas. A orientar os trabalhos, em regime de voluntariado, está a presidente do conselho executivo, Maria Helena Rodrigues. E toda a sua equipa. É uma forma de darem as "boas-vindas" e de garantir, também, que tudo corra pelo melhor.

É por isso que, numa das salas, a professora de ensino especial do estabelecimento está a ler a prova em voz alta para um natural da Guiné, que é praticamente cego. Helena Rodrigues confessa que se emocionou quando aquele guineense, que também necessita de hemodiálise, lhe disse: "Se ficasse no meu país, já tinha falecido."

As provas são elaboradas pelo Ministério da Educação. A de ontem dividia-se em duas partes: compreensão de leitura e expressão escrita. Na primeira testava-se a literacia dos candidatos - tinham de descodificar quatro anúncios pelo método de teste americano e fazer a correspondência entre outros oito, de procura e oferta de trabalho. Seguia-se um texto de 17 linhas para ser interpretado em escolha múltipla. Na segunda parte pedia-se uma resposta, em 50 a 70 palavras, a um e-mail onde um casal anunciava a sua chegada e perguntava pelos planos do destinatário.