17.3.07

Portugal ajudou a desmontar rede clandestina de trabalho

in Jornal de Notícias

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, afirmou que Portugal colaborou com Espanha na operação que levou à libertação dos 91 trabalhadores agrícolas, 79 dos quais portugueses, explorados em Navarra, Espanha. Segundo o assessor de António Braga, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, não houve qualquer desenvolvimento durante o dia de ontem, "supondo-se que dois dos 79 portugueses explorados tenham já regressado a casa". Os restantes trabalhadores preferiram ficar no país, mas com contratos de trabalho regulares. Paulo Carvalho, inspector-geral do Trabalho, também não possuía qualquer informação adicional.

"Há sempre cooperação entre Portugal e Espanha em todos os processos relativos a este tipo de criminalidade organizada como tráfico de seres humanos ou a imigração ilegal", disse o ministro. Luís Amado disse ainda que "a cooperação é fundamental nestas situações de crime organizado" e admitiu "que possa haver mais casos, que são acompanhados pelo Ministério da Administração Interna". Segundo o chefe da diplomacia, o "secretário de Estado das Comunidades sabia que havia uma operação em curso e está a acompanhar com as autoridades espanholas o desenrolar do caso". Carlos Trindade, da secção internacional da CGTP, estava ontem a acompanhar a situação, tentando estabelecer contactos com sindicatos espanhóis.

Anteontem, uma operação da Guarda Civil espanhola em várias localidades de Navarra libertou "de um regime de escravatura encoberta" 91 trabalhadores, 79 dos quais portugueses, e deteve 17 exploradores dos operários, 13 de nacionalidade portuguesa.

Fonte policial confirmou que a operação, de nome código "Lusa", foi conduzida ao longo dos últimos meses, contando com o apoio de cidadãos da região, sendo descrita como "a maior acção policial de sempre em Navarra contra a exploração laboral". Entre os 91 trabalhadores contam-se, além dos portugueses, oito espanhóis, dois angolanos, um moçambicano e um polaco, descritos como "pessoas com profunda marginalização social e uma cultura reduzida".

150 mil emigram

O deputado do PSD pela Emigração José Cesário afirmou que emigram todos os anos cerca de 150 mil portugueses e lamentou que o fenómeno "passe despercebido". "Através de contactos com a Igreja Católica, de sindicatos e de bancos portugueses no estrangeiro, podemos afirmar que estão cerca de 150 mil pessoas por ano a sair de Portugal", disse José Cesário, numa conferência de Imprensa na Assembleia da República. Lamentando que seja um fenómeno que esteja a passar despercebido na opinião pública, José Cesário sublinhou que "existem hoje mais emigrantes do que no início da década de 1980". Numa alusão ao caso dos trabalhadores portugueses que estavam em situação de exploração na zona de Navarra, Espanha, o deputado do PSD afirmou que a maioria das pessoas que procura trabalho no estrangeiro "tem qualificações extremamente baixas e precisa de apoio" nos países de acolhimento.